Relvado molhado, jogo mais complicado. Como a chuva veio atrapalhar o Portugal-República Checa

Chuva em Leipzig criou um efeito de hidroplanagem no relvado que deixou a bola mais difícil de controlar. Fenómeno pode repetir-se no sábado, frente à Turquia. Pitões mais longos e finos podem ajudar.

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A chuva pode deixar o movimento da bola mais imprevisível e complicar o desempenho dos jogadores Lisi Niesner / REUTERS
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Tudo está bem quando acaba bem e Portugal terminou o primeiro encontro do Euro 2024, frente à República Checa, como se pretendia a ganhar —, mesmo depois de os checos terem aberto o marcador e a selecção nacional ter estado a perder. Mas, para um lado e para o outro, havia um jogador invisível dentro das quatro linhas, um factor externo que não ajudou (na verdade, só atrapalhou os 22 atletas): a chuva, que veio mexer com as leis da física com que as duas equipas se foram cosendo na estreia no campeonato.

É que se um jogo de futebol já pode ser tenso e impróprio para doentes cardíacos sem que a meteorologia se envolva na partida, quando ela se impõe em campo como aconteceu esta noite, em Leipzig, as condições mudam de figura. Literalmente. Tudo por causa da hidroplanagem, um fenómeno que é responsável por 0,1% dos acidentes rodoviários, segundo a Michelin, e que no relvado pode deixar a bola como se chegou a ver nos últimos 90 minutos de jogo: mais descontrolada.

Vamos por partes: quando chove, como aconteceu durante o Portugal-República Checa, cria-se uma fina camada de água no solo que, ao impedir o contacto da bola com a relva, diminui o efeito do atrito — isto é, a resistência que uma superfície exerce sobre a outra. O resultado? A bola desliza mais do que se o campo estivesse seco, ganha mais velocidade e passa a movimentar-se de forma mais imprevisível.

As dificuldades sobram, claro, para os jogadores. Por dois motivos: primeiro, porque a diminuição do atrito também atraiçoa o próprio movimento, uma vez que a aderência das chuteiras ao relvado fica mais comprometida, arriscando-se os jogadores a sofrer mais quedas — e quedas mais aparatosas. E, depois, porque os atletas são obrigados a adaptar-se rapidamente aos comportamentos menos previsíveis de uma bola mais descontrolada e mais veloz.

Apesar das dificuldades introduzidas dentro de campo pela chuva desta terça-feira à noite na Alemanha, podia tudo ser ainda mais complicado. Quando a acumulação de chuva é ainda maior, e o relvado fica pontilhado por poças de água, a bola não desliza: salta ou, então, é travada. É assim porque, em vez do efeito da hidroplanagem, a chuva passa a funcionar como um travão para o movimento da bola — e o atrito, em vez de decrescer, até aumenta. Quando isso acontece, a reacção da poça à força exercida pela bola em movimento pode ser suficiente para que ela salte, porque a empurra à medida que a água se comprime e volta a expandir-se.

A física de um futebol chuvoso pode repetir-se este sábado, 22 de Junho, uma vez que a previsão meteorológica aponta para a possibilidade de precipitação em Dortmund no dia em que Portugal enfrentará a Turquia. Se assim for, os atletas não têm de ficar à mercê da meteorologia e da física: as chuteiras podem dar uma ajuda. Se tiverem pitões mais longos e mais afiados, preferencialmente feitos de metal ou plásticos mais resistentes, a aderência dos futebolistas ao terreno será maior e a corrida pode ser mais segura, confortável e controlada. Quanto à bola, já se sabe: é redonda e, nesse caso, a ciência do futebol é que manda.

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