Num duelo pela bola, a de Espanha foi mais redonda

A Croácia até teve mais bola e rematou mais, mas a Espanha, com muito talento ofensivo, fez o jogo parecer fácil. E talvez a Croácia não seja o “papão” que Portugal fez parecer que era.

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Jogadores de Espanha celebram em Berlim Annegret Hilse / REUTERS
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No Espanha-Croácia, do grupo B do Euro 2024, os croatas tiveram mais bola, mais passes, mais remates e... menos golos. Em rigor, não houve nenhum golo. Os espanhóis venceram por 3-0, neste sábado, em Berlim, resultado construído na primeira parte e com relativa facilidade. Pelo que se viu, talvez a Croácia não seja o "papão" que Portugal fez parecer que era. E, pelo que se viu, a Espanha está bem, mas o 3-0 pode ser exagerado.

Na antevisão deste jogo escreveu-se que “para ganhar um jogo de futebol “basta usar partes do corpo legais para empurrar a bola, fazendo-a entrar na baliza adversária”. E a Croácia até tentou fazer isso com alguma qualidade. Mas esqueceu-se da parte seguinte, que dizia que “depois, é só impedir o adversário de fazer o mesmo”.

Os croatas foram confrangedoramente permeáveis sem bola, algo que muitos poderão vir a explicar pelo fulgor físico decadente num meio-campo de “gente antiga”, mas isso não explica tudo.

Com sistemas totalmente simétricos, o 4x3x3 apresentado pelos treinadores promovia jogos perfeitos de pares – até os desenhos de meio-campo, com 1x2 de um lado e 2x1 do outro facilitavam as referências de marcação.

O problema quando existe esta simetria tão perfeita é que, por muito fácil que seja identificar a referência de marcação, tem de haver maior “fibra” nos duelos. Porque se num controlo mais zonal pode apostar-se tudo na ocupação do espaço, quando há um jogo de pares tão perfeito então o portador da bola não pode sair tão facilmente dos dribles e dos duelos.

E isso aconteceu de forma permanente. Sempre que um craque espanhol – e são muitos – saía de um drible, havia logo dois ou três croatas por perto. E isso, podendo parecer uma boa reacção colectiva sem bola, não é mais do que alocar recursos em vão, caso não haja agressividade e a bola saia “limpa”.

Aos 28’, três croatas foram a uma segunda bola aérea e, logo a seguir, outros três foram ao segundo duelo. Resultado: a bola saiu dali redondinha, por falta de agressividade, e havia todo um campo livre com sete jogadores já batidos. Ruiz colocou uma bola vertical no espaço e Morata, isolado, finalizou.

Aos 31’, os croatas foram novamente atraídos com facilidade à zona da bola, deixando a equipa totalmente descompensada. Isso deu espaço a Yamal e, depois, faltou gente para suster a técnica de Ruiz, que driblou antes de um remate à entrada da área.

A Croácia permitiu muito pela inadequação dos comportamentos sem bola aos jogos de partes e o talento espanhol fez o resto.

E é curioso que a Croácia até teve longos períodos de jogo com controlo da bola, algo normal pela qualidade técnica dos defensores e dos médios, tendo até conseguido criar três lances de finalização.

A Espanha “matou” o jogo antes do intervalo, num canto curto que deu cruzamento de Yamal e finalização de Carvajal ao primeiro poste.

A Espanha poderia ter chegado ao 4-0 pouco depois do intervalo, numa transição finalizada por Yamal, com defesa de Livakovic.

Mas não havia como convencer a Espanha, equipa que sabe tratar tão bem a bola, a não controlar a partida com posse, deixando correr os minutos.

Os espanhóis tiveram longas posses de bola, sem especial acutilância ofensiva, e os croatas iam correndo. Quando recuperavam, havia pouca capacidade para irem fazer qualquer coisa do jogo – quanto mais não fosse por falta de ânimo, com o 3-0 escrito no ecrã gigante.

Aos 78’, um erro de Simón obrigou Rodri a fazer penálti, mas o guarda-redes defendeu e, apesar da recarga de sucesso de Petkovic, a invasão de Perisic, que beneficiou dessa invasão, levou o VAR a invalidar o golo.

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