Espanha e Croácia vão tratar bem a bola. Depois, logo se vê

Uns por cultura enraizada, outros por conveniência geracional, todos, em Berlim, vão tratar a bola como deve ser. Entre espanhóis e croatas há talento e mesmo quem não tem assim tanto vai ajudar.

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O estádio olímpico de Berlim, palco do Espanha-Croácia Kacper Pempel / REUTERS
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Para ganhar um jogo de futebol não é preciso fazer muito. Basta usar partes do corpo legais para empurrar a bola, fazendo-a entrar na baliza adversária. Depois, é só impedir o adversário de fazer o mesmo. Simples. Não tem muito que saber. Assim sendo, há uma conclusão óbvia: é que num jogo de futebol o mais importante é ter a bola – só assim é possível marcar um golo e só assim é garantido que o adversário não marca. Por extensão, quem mais tempo a tiver maior probabilidade tem de ganhar.

Nessa medida, vai haver, neste sábado, uma interessante luta pela bola. Depois, logo se vê. Além de um Manchester City-Barcelona, talvez nenhum jogo do futebol europeu provoque tanto uma luta destas como um Espanha-Croácia. E vai haver disto em Berlim, a partir das 17h de Lisboa, com transmissão na RTP1, no primeiro jogo do grupo B do Euro 2024.

No futebol espanhol tem sido enraizada a cultura do amor pela bola. Tratá-la bem, afagá-la, democratizá-la pela equipa, ser paciente com ela e obrigar o adversário a viver sem ela. Se isso significar passar muito tempo sem ser vertical, objectivo e acutilante, que seja. O importante é encontrar as soluções certas – e não há pressa para lá chegar.

Do outro lado, a Croácia pode não o fazer como cultura, mas fá-lo por influência individual de uma geração. Uma equipa que tem um meio-campo com Brozovic, Kovacic e Modric – mais gente como Gvardiol, Pasalic, Majer ou Sucic – não tem muito por onde inventar. Tem de tratar bem a bola e usá-la como deve ser.

Basta ver a forma como, frente a Portugal, a equipa croata nem sempre fez questão de ter a bola, mas, quando a teve, colocou os jogadores portugueses a correrem atrás dela. No fundo, os croatas mostram uma perigosa mistura entre posse de bola e verticalidade.

É por isso que este confronto de semelhanças, entre ibéricos e balcânicos, pode ser bastante rico ou bastante sonolento – depende, em primeira instância, do comportamento croata no jogo, e, no fim de contas, de que facção de análise ao “Guardiolismo” defende o espectador.

Um "pinheiro" no meio de artistas

Para a Croácia há uma pressão especial neste grupo, já que pode bem ser a última grande competição desta geração. Modric tem 38 anos, Brozovic tem 31 e Kovacic tem 30. Juntos, dificilmente farão outra.

E, desta vez, nem podem queixar-se da falta de um goleador. Ante Budimir lembrou-se, aos 31 anos, de que tem em si um finalizador de classe. Como já se escreveu nestas páginas, Budimir tem “um pé direito “cego” – marcou apenas um golo dessa forma –, e é um exemplar bastante bom do famoso conceito de “pinheiro” celebrizado em Portugal por Paulo Sérgio quando treinava o Sporting”.

É o avançado ideal para ser servido pelos craques do meio-campo? Ou eles precisavam de alguém mais dotado tecnicamente e menos unidimensional? A resposta não é óbvia.

O que é óbvio é que, pelo menos, já há alguém que faça golos nesta equipa e nisso o economista Budimir, que tem orgulho de o ser, não tem economizado nada, com 18 golos pelo Osasuna na Liga espanhola.

Numa equipa de tanto talento, o “pinheiro” pode fazer a diferença.

Nacho, o "amigo improvável"

Budimir é, por isso, um conhecido dos espanhóis. A equipa de Luís de la Fuente chega a este Europeu numa boa fase.

Primeiro, porque decidiu que os particulares pré-Europeu seriam para “encher o saco” e ganhar confiança, escolhendo defrontar Andorra e Irlanda do Norte – ofereceu cinco golos a cada.

Depois, porque antes disso tinha “limpado” a qualificação com sete vitórias em oito jogos. E o facto de não ter ninguém sequer no top 15 dos melhores marcadores da qualificação mostra o que é, por estes dias, esta equipa. O golo, tal como a bola, é muito democratizado nesta equipa, que teve alguns de Morata, outros tantos de Joselu, mais uns de Ferrán e ainda uns pares deles de Lamal e Olmo.

Não havendo um ponta-de-lança de primeira água, como foram Raúl ou Torres, a equipa tem de encontrar soluções e, mesmo indo à Alemanha sem Gavi, tem jovens talentos já com alguma rodagem, como Olmo, Lamal, Williams ou Pedri, aos quais junta “velhas raposas” como Carvajal, Morata, Rodri, Navas ou Nacho, que tem feito ouvir o seu silêncio.

Como já se contou por aqui a propósito da sexta Champions do Real Madrid, Nacho acha que o hino da Champions é amigo do Real Madrid, porque a prova lhes corre bem. Mas quando se tem um “amigo” como Nacho, mesmo que aparentemente menos talentoso, talvez fique mais fácil. E Espanha pode bem ter condições de o provar.

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