PJ detém dois suspeitos de morte de timorense numa rixa em Fátima

Rixa fez ainda cinco feridos graves e Xanana e Ramos-Horta dizem que jovens são de grupos de artes marciais proibidas em Timor. Na Operação Thémis foram ainda constituídos 15 arguidos.

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Duas pessoas foram detidas durante a operação da PJ Daniel Rocha
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A Polícia Judiciária deteve nesta quinta-feira duas pessoas suspeitas de terem estado envolvidas numa rixa recente em Fátima durante a qual foi morto um homem estrangeiro, de 26 anos, tendo ficado também feridas com gravidade cinco pessoas entre os 22 e 27 anos.

“A violência envolveu dois grupos opositores, estimando-se que tenha tido a intervenção de dezenas de elementos, todos do sexo masculino, utilizando armas brancas, barras de ferro, bastões e outros instrumentos de agressão”, explica a Judiciária num comunicado enviado na manhã desta sexta-feira. Em causa estão confrontos entre jovens timorenses, alegadamente pertencentes a dois grupos de artes marciais. De acordo com as autoridades timorenses, os confrontos envolveram cerca de 40 jovens, provenientes de vários locais de Portugal, incluindo Lisboa, Setúbal e Leiria.

“Fazem parte de dois grupos de artes marciais, que têm o pior recorde em Timor-Leste. Quando há rixas entre eles, é sempre o PSHT, o 77 e agora surge este 22; são eles, que não têm uma liderança forte, ou a liderança é dividida a nível da organização”, explicou o Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, dias depois do ocorrido. Pediu também desculpa aos portugueses pelo que aconteceu e pediu à justiça portuguesa que “seja dura” com os responsáveis pela morte.

“Eu como timorense e como Presidente peço desculpa aos amigos e irmãos portugueses pelos distúrbios causados”, afirmou à Lusa o chefe de Estado timorense, lembrando que Portugal é um dos países mais tranquilos e seguros do mundo. José Ramos-Horta propôs também que os vistos dos envolvidos fossem cancelados e estes expatriados para Timor-Leste.“Deixamos esta questão à justiça portuguesa e que seja dura. Aqueles que violaram a lei da imigração portuguesa violaram outras leis portuguesas que proíbem violência desta natureza, devem ser punidos perante a lei portuguesa”, disse o também prémio Nobel da Paz.

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Ramos Horta e Xanana Gusmão criticam os incidentes e pediram desculpa aos portugueses

O Presidente de Timor-Leste fez questão, porém, de salientar que o número de pessoas que “provoca distúrbios é infinitamente menor” do que todos os timorenses que vivem na diáspora, e que são conhecidos.

O esfaqueamento terá ocorrido na sequência de uma discussão e o óbito do jovem foi confirmado no local, tendo o corpo sido transportado para o Gabinete de Medicina Legal de Tomar. A vítima era natural do município de Aileu, em Timor. “Ontem [quarta-feira, 4 de Junho] decidimos, se a família assim o requerer, trasladar o cadáver para Timor”, informou o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão.

Xanana apelou ainda na quinta-feira aos jovens timorenses, residentes no país e na diáspora, para deixarem de praticar as “ditas” artes marciais e rituais. E lembrou ter ocorrido uma redução da violência desde que “as artes marciais e rituais” foram suspensas em Timor. Xanana falava aos jornalistas na Presidência timorense, no final de um encontro com o chefe de Estado, José Ramos-Horta, durante o qual foi abordado o episódio de violência em Fátima.

Em Novembro passado, o Governo timorense tinha suspendido a aprendizagem e a prática das artes marciais, tendo em conta os graves incidentes registados no território, tendo renovado a suspensão em Abril.

Homicídio, detenção de armas proibidas e participação em rixa

A Operação Thémis contou com “mandados de buscas e dois mandados de detenção por suspeitas de crimes de homicídio qualificado, detenção de armas proibidas e participação em rixa, na sequência dos acontecimentos ocorridos na madrugada do dia 2 de Junho, na cidade de Fátima”, acrescentou ainda a Judiciária.

A acção da PJ, que incluiu várias buscas domiciliárias, foi desenvolvida pelo Departamento de Leiria com o apoio de elementos da “Directoria do Centro, da Unidade de Armamento e Segurança e peritos de Polícia Científica”.

De acordo com a informação da PJ, foram constituídos arguidos 13 homens, além dos dois detidos. “Foi possível a recolha de elementos indiciários relevantes, bem como foram formalizados vários depoimentos e testemunhos, relacionados com a situação”, acrescenta ainda a Judiciária.

Os suspeitos foram entretanto presentes a um juiz de instrução criminal para primeiro interrogatório e aplicação das medidas de coacção. Segundo disse à Lusa fonte da PJ, o Tribunal Judicial de Santarém decretou a medida de coação de apresentações à GNR aos dois suspeitos.

Esfaqueamento ocorreu a poucos metros dos bombeiros e da GNR

O alerta para a situação, a 2 de Junho, foi dado pelas 1h13. O pedido de socorro dava conta de uma discussão entre um grupo de pessoas seguida de esfaqueamento na via pública. Estiveram no socorro 22 operacionais, apoiados por 11 veículos dos bombeiros, Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), viatura médica de emergência e reanimação (VMER), GNR e Polícia Judiciária.

O episódio de violência ocorreu próximo dos Bombeiros Voluntários de Fátima. O adjunto de comando daqueles bombeiros, André Maurício, confirmou que foi por volta da 1h13 que viram um “aglomerado de pessoas numa discussão quase em frente ao quartel”, que fica a poucos metros do posto da GNR de Fátima. “Quando nos apercebemos de que havia uma vítima no chão, deslocámo-nos ao local e accionámos os meios da ocorrência”, acrescentou, explicando que a vítima apresentava ferimentos de arma branca.

Num dos dois vídeos a que a Lusa teve acesso, alegadamente relativos aos acontecimentos na madrugada de domingo, vê-se cerca de 30 pessoas a correrem na Rua Jacinta Marto, algumas das quais munidas de paus. “Estou preocupado com esta situação. Começamos a ser a cidade dos tumultos”, disse então o presidente da Junta de Freguesia de Fátima, Humberto Silva, sublinhando que já ocorreram outros episódios, “mas não com esta gravidade”.

O autarca alega que estas situações já tinham reportadas à GNR e à PJ. Para o autarca, as condições em que vivem os imigrantes podem potenciar conflitos. “Viverem 30 pessoas numa casa com capacidade para cinco ou seis já se sabe como é que é”, referiu Humberto Silva.

“Eu sinto-me preocupado. Somos uma cidade turística, os turistas [que] vêm a Fátima e os peregrinos [que] vêm a Fátima gostam de sossego, sentem-se aqui bem”, acrescentou Humberto Silva, manifestando preocupação com “estas perturbações”. Com Lusa

Texto actualizado às 21h53 para incluir as medidas de coacção aplicadas

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