A minha mãe quer que eu perdoe ao meu irmão, que foi sempre o seu favorito

A chave para processar e ultrapassar este luto é aguentar a realidade da incerteza sem deixar que ela o empurre para o desespero ou para o sofrimento.

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"Há um luto associado a uma relação que não teve ou não terá com a sua família" Alex Green/Pexels
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A minha família é constituída por imigrantes da Ásia Oriental. Sou a mais velha de dois irmãos, com uma diferença de sete anos e meio. Enquanto crescia, as necessidades do meu irmão mais novo vinham sempre à frente das minhas, e esperava-se que eu aceitasse isso. Por exemplo, se houvesse eventos escolares que ocorressem em simultâneo, a minha mãe optava sempre por ir ao do meu irmão. Se houvesse um último rebuçado, o meu irmão ficava com ele. O outro lado da moeda, o ser respeitada pelo meu irmão nunca aconteceu.

Este ambiente fez-me sentir que a minha mãe gostava mais do meu irmão do que de mim, o que criou um grande fosso entre mim e a minha mãe. Ao longo dos anos, tivemos conversas, mas a minha mãe não é capaz de mudar. Aprendi a aceitar que ela é assim. Estou agora nos meus 40 anos. No ano passado, o meu irmão fez-me uma coisa que eu considerei verdadeiramente ofensiva. Quando o confrontei, em vez de me pedir desculpa, ficou muito zangado comigo. Iniciei várias conversas depois disso e fui acusada de estar apenas a tentar ganhar a discussão. Isto levou ao nosso afastamento.

Há uma semana, a minha mãe tentou pedir-me para ser uma boa irmã e perdoar o meu irmão, porque é isso que é suposto eu fazer. Pedi-lhe que visse a minha perspectiva, que eu não merecia ser tratada da forma como o meu irmão me tratou. Pedi à minha mãe que validasse os meus sentimentos, ao que ela respondeu: "Não posso fazer isso." Embora não me surpreenda o seu favoritismo, continua a doer-me e a partir-me o coração. Gostaria de receber alguns conselhos sobre como ultrapassar esta situação.


O afastamento e a necessidade de validação — duas coisas que está a viver em simultâneo e ambas dolorosas. Há um luto associado a uma relação que não teve ou não terá com a sua família. É uma perda ambígua, em que se lamenta por alguém que está fisicamente vivo mas emocionalmente inacessível. A chave para processar e ultrapassar este luto é aguentar a realidade da incerteza sem deixar que ela o empurre para o desespero ou para o sofrimento.

Foi constantemente colocado no papel de manter a paz ou de renunciar às suas próprias necessidades para fazer a sua mãe e o seu irmão felizes. Encorajo-a a trabalhar com um profissional para reflectir sobre a forma como o favoritismo da sua mãe afectou o seu sentido de si própria e a sua própria saúde mental — porque a investigação sugere que, sendo a criança menos favorecida, a sua saúde mental e bem-estar foram afectados. Pergunto-me como é que isso continua a acontecer na sua vida e como é que isso pode influenciar as conversas que teve com o seu irmão ou com a sua mãe.

Lembre-se do significado e da razão por detrás das suas escolhas para estabelecer estes limites com a sua mãe e procurar distanciar-se do seu irmão. Isto ajudá-la-á a afirmar as suas próprias necessidades. Lembre-se: a sua mãe quer que se reconcilie com o seu irmão por ela. Ela está a trabalhar a partir do seu próprio entendimento do que é suposto ser a família e pode ter dificuldade em gerir o seu desconforto com o afastamento dos filhos. Não é da sua responsabilidade gerir esses sentimentos por ela.

Mesmo que não queira iniciar outra conversa com a sua mãe sobre o favoritismo dela, pode manter-se firme no que precisa neste momento — ou seja: "Estou a sofrer muito, e esta distância do [meu irmão] é a melhor coisa para mim neste momento." Também pode ser empática com a dor dela — ou seja: "Eu sei que isto é difícil para si". Pode dizer à sua mãe para parar de perguntar sobre a sua relação com o seu irmão ou simplesmente impedir que a conversa continue, dizendo algo como: "Agradecia que parasse de falar nisso." Terá de decidir que limites comportamentais ou verbais quer estabelecer para proteger a sua paz e recusar uma viagem de culpa, conduzida pela sua mãe.

Concentre-se em cuidar de si própria, criando uma família sólida e encontrando formas de validar os seus próprios sentimentos e necessidades que não estão a ser satisfeitos pela sua família. Pode até encontrar uma relação segura onde possa ser honesta sobre esta experiência para a ajudar a sentir-se ligada a alguém que validará os seus sentimentos.

Em última análise, pode decidir como quer resolver ou não a questão com a sua mãe. Por mais doloroso que seja, nunca se pode forçar outra pessoa a querer fazer o trabalho por si própria — mesmo que se queira desesperadamente que ela o faça. Só pode ser honesta consigo mesmo sobre como gerir os seus próprios sentimentos e experiências não resolvidas, como as processa e comunica, e o que pode fazer para cuidar das suas necessidades.


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: Bárbara Wong

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