A informação é actualmente um dos bens essenciais cujo acesso está ao alcance de todos. O motivo é óbvio: o surgimento e evolução da Internet.
À simples distância de um clique, somos bombardeados com uma quantidade de informação sem paralelo, exacerbada por uma acumulação de épocas anteriores de informação por cada tema que procuramos. Previsivelmente, este súbito acesso não veio acompanhado apenas de vantagens, mas também de certas contrapartidas. A que salta imediatamente à vista é que quantidade não é sinónimo de qualidade — há que procurar e filtrar as fontes com maior credibilidade. E utilizá-las de acordo com o que a situação e necessidade exigem.
Enquanto tutores de animais, interessamo-nos cada vez mais sobre os seus comportamentos e sobre como podemos manter a sua saúde. Contudo, esta intenção altruísta aliada ao forte vínculo emocional envolvido resulta, muitas vezes, numa predisposição para procurar e aceitar informação pouco fiável e, com frequência, errada.
A divulgação massiva de informação incorrecta constitui, sem margem para dúvidas, um obstáculo no caminho para a sua saúde e bem-estar dos nossos animais. De forma a entender melhor este impacto, abordemos, desde uma perspectiva científica e racional, alguns dos exemplos mais gritantes difundidos.
1. “Os animais não precisam de visitas regulares ao veterinário se parecem saudáveis”
Um claro equívoco e bastante prejudicial. A base de qualquer medicina é a prevenção e para prevenir é necessário monitorizar e analisar.
A prevenção, através de check-ups regulares, é vital na detecção precoce de condições que, se não tratadas, podem evoluir para problemas de saúde mais graves. As vacinações, desparasitações e exames de rotina são fundamentais para garantir uma vida longa e saudável para os nossos animais.
2. "A alimentação humana é adequada para animais"
É outro ponto que acredito ser prática frequente em muitas casas. Os tutores, movidos pelo desejo de satisfazer qualquer pedido dos seus animais, sentem-se “coagidos” a partilhar a sua comida. O erro é grande e poderá pôr em causa a saúde do animal, já que têm necessidades nutricionais específicas e os organismos não estão adaptados ao nosso estilo de vida nutricional.
Há inclusivamente alimentos que consumimos com frequência no nosso quotidiano que poderão revelar-se fatais: é o caso do chocolate, das uvas ou das cebolas, entre muitos outros.
3. "Gatos são animais independentes que não precisam de cuidados ou atenção"
Apesar do carácter predominantemente autónomo, muito relacionado com o intrínseco estilo de vida, os gatos, como qualquer outro animal, também estão susceptíveis a variados problemas de saúde.
A monitorização da saúde dos felinos, através de consultas veterinárias é, como nos cães e demais animais, essencial. Até mesmo a desparasitação, muitas vezes desvalorizada nestes animais por serem animais predominantemente de interior, é absolutamente necessária.
4. "É normal que os animais tenham mau hálito"
O mau hálito, tal como sucede connosco, pode muitas vezes ser subjacente a problemas de saúde, seja através da acumulação de bactérias nocivas ou até mesmo enquanto sintoma inicial de certas doenças. Cuidados orais regulares e visitas ao veterinário deverão ser levadas a cabo de forma a prevenir estas condições.
5. "Um cão com a cauda a abanar está sempre feliz"
Esta crença popular profundamente enraizada na sociedade ignora por completo a complexidade da comunicação canina. Enquanto o abanar da cauda pode indicar um estado emocional positivo, dependendo do contexto, também poderá ser um indicador de stress, medo, ou até reactividade.
A interpretação correcta do abanar da cauda deve sempre considerar o conjunto da linguagem corporal do animal e as circunstâncias em que ocorre. Só assim poderemos obter uma leitura comportamental correcta e actuar, ou não, em função disso.
Estas são apenas algumas das inverdades divulgadas, especialmente nos meios digitais. Quando se trata de algo que poderá impactar de forma preponderante a saúde e bem-estar dos nossos animais, o que por vezes nos parece uma verdade de La Palisse, deverá sempre ser encarado com um olhar crítico e confirmado junto daqueles que todos os dias desenvolvem a sua actividade laboral nesta área: a equipa de profissionais veterinários.