Um cocktail de vinho do Porto branco seco com sumo de tangerina, aromatizado com eucalipto e flor de laranjeira. E outro com um Tawny 10 Anos, uma infusão de casca de café, melaço de romã e aguardente portuguesa. Para "levar o vinho do Porto a um público que não está habituado a ele." Eis como Paulo Russel-Pinto, membro da Câmara de Provadores do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), começou por explicar a aproximação de um mundo carregado de história e tradição como o é o do vinho do Porto a tendências de consumo mais descontraídas como a coquetelaria.
A uma semana do Dia Nacional do Cocktail, que se celebra a 18 de Maio, o IVDP brindou jornalistas e visitantes com uma acção de mixologia ao vivo nas suas instalações. O bartender José Mendes, do Torto Bar, fez dois cocktails com diferentes vinhos do Porto, para provar a "versatilidade e diversidade" que, como sublinhou Russel-Pinto, o generoso tem. O responsável lembrou até, em declarações aos jornalistas presentes no evento da última sexta-feira, o exemplo do Porto tónico e de como "a comunicação pode fazer chegar o vinho do Porto a um público diferente".
Para o instituto, entidade que tem a seu cargo a certificação de vinhos da região duriense e que no caso do vinho do Porto acumula a promoção, o "arrojo" de juntar Porto com outras bebidas pode ser a receita (ou uma das) para conquistar novos consumidores. Numa altura em que as vendas de vinhos com grau alcoólico mais elevado estão em queda, cá e lá fora — o vinho do Porto não é excepção, embora se salvem as categorias especiais.
Para isso, é crucial o trabalho das empresas e das marcas, notou o provador do IVDP. Está a ser, diríamos. São exemplos dessa atenção às novas tendências e, em particular, à "coquetelaria e à mixologia, um segmento em crescimento", projectos como o Rebel Port Club, o pop-up que a Symington criou em 2023 como plataforma para descomplicar o vinho do Porto e chegar a uma nova geração de consumidores e que está de regresso já no próximo dia 18 — e a atenção que dá, em geral, aos cocktails de Porto nos seus espaços de enoturismo —, e as "Lodge Pops" da Churchill's no seu Garden & 1982 Bar (regressaram este sábado), um terraço-jardim que fica mais afastado do circuito turístico das caves, mas que vale a pena conhecer e que na estação estival oferece "óptima comida, vinhos e cocktails inspiradores e boas vibrações". Só para citar dois casos.
"Durante muito tempo, o vinho do Porto centrou a sua estratégia de comunicação na restauração", lembrou o responsável. Mas, continuou, é urgente chegar ao consumidor final e mostrar que o Porto não é uma bebida "de meditação", como dizem "os italianos", nem é só para o aperitivo ou para a sobremesa, "é muito versátil" e pode ser a bebida numa saída à noite, numa fim de tarde estival ou junto à lareira. Se for em forma de cocktail, que seja. Esses consumidores estarão mais abertos a conhecer, mais tarde, o vinho do Porto a solo.
"Queremos e precisamos de consumidores mais jovens." "O vinho do Porto é muito versátil", afiança Paulo Russel-Pinto, não é só para dias de festa nem vai bem apenas com a sobremesa.