Forças russas lançam ataque na região de Kharkiv

Exército ucraniano reforçou a sua presença na região de Kharkiv. Cidade próxima da fronteira foi evacuada. Autoridades dizem que ataque não põe capital regional em risco

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Bombeiros ucranianos num local atingido por um míssil russo em Kharkiv Vyacheslav Madiyevskyy / REUTERS
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As forças russas lançaram esta sexta-feira um ataque terrestre na região de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia no Norte do país, tendo conseguido avançar um quilómetro dentro de território ucraniano, segundo fontes militares de Kiev.

A movimentação russa abre uma nova frente de combate que se junta à já extensa linha de frente de cerca de mil quilómetros no Leste da Ucrânia. O Exército ucraniano anunciou um reforço do seu contingente na região de Kharkiv e disse ter repelido as tentativas russas de furar as defesas montadas por Kiev.

"Neste momento, os ataques foram repelidos, batalhas de intensidade variável prosseguem", informou o Ministério da Defesa ucraniano. Pelo menos duas pessoas morreram e cinco ficaram feridas na sequência de bombardeamentos russos intensos sobre a região, segundo as autoridades de Kharkiv.

Também Volodymyr Zelensky deu conta do aparente êxito ucraniano em repelir o ataque russo. O Presidente da Ucrânia disse, durante uma conferência de imprensa conjunta com a sua homóloga da Eslováquia, Zuzana Caputova, que Kiev estava ao corrente de que o Exército russo tinha sido reforçado para esta nova tentativa de tomar a frente Nordeste.

“Os nossos comandantes militares sabiam disso e calcularam as suas forças para enfrentar o inimigo”, disse Zelensky, mencionando as “batalhas ferozes” que ocorreram durante os últimos dias. “Atacámo-los e detivemo-los”, acrescentou.

O Ministério da Defesa explicou que o ataque foi iniciado com um bombardeamento sobre Vovchansk com recurso a “bombas aéreas teleguiadas” e artilharia, e, de seguida, pequenos “grupos de observação” atravessaram a fronteira em vários locais.

Uma fonte militar disse à Reuters, sob anonimato, que as forças russas conseguiram avançar um quilómetro a partir da fronteira e que o seu objectivo é estabelecer uma "zona-tampão" de dez quilómetros. Nos primeiros meses após a invasão em larga escala, em Fevereiro de 2022, a Ucrânia conseguiu recuperar o território inicialmente ocupado pela Rússia nesta região. A criação de uma zona-tampão em Kharkiv chegou a ser um objectivo formulado publicamente pelo Presidente russo, Vladimir Putin.

As autoridades ucranianas começaram a retirar os civis da cidade de Vovchansk, a apenas cinco quilómetros da fronteira com a Rússia, e das zonas mais próximas por causa do aumento de intensidade dos bombardeamentos russos, disse o chefe da administração militar local, Tamaz Gambarashvili.

A iniciativa russa surge numa altura em que as forças ucranianas ainda aguardam pela chegada da assistência militar norte-americana aprovada recentemente pelo Congresso, após meio ano de impasse. A escassez de munições tem sido apontada como um dos principais obstáculos enfrentados pela Ucrânia para conseguir suster os ataques russos no Donbass.

Esta sexta-feira, a Administração de Joe Biden autorizou um pacote de ajuda militar para a Ucrânia no valor de 400 milhões de dólares (370 milhões de euros), que inclui artilharia, munições para as defesas aéreas NASAMS, munições antitanque, veículos blindados e armas ligeiras que podem ser imediatamente utilizadas no campo de batalha.

A ajuda agora libertada, que faz parte do pacote de 61 mil milhões de dólares (57 mil milhões de euros) aprovado em Abril pelo Congresso, utilizará o mecanismo que autoriza o Presidente a transferir artigos e serviços dos stocks dos EUA sem aprovação específica do Congresso dos EUA durante uma emergência.

Kharkiv tem sido particularmente visada pelos bombardeamentos russos nos últimos tempos e as autoridades ucranianas já contavam com uma provável investida russa na região durante a Primavera. A Rússia tinha reforçado a sua presença na zona fronteiriça próxima de Kharkiv nas últimas semanas, mas os analistas militares ucranianos não acreditam que tenham um contingente suficientemente capaz de tomar uma cidade de grande dimensão.

O governador de Kharkiv, Oleg Siniehubov, garantiu que o ataque em curso "não representa uma ameaça para Kharkiv" e que as forças reunidas pela Rússia são suficientes apenas para algumas "provocações".

O objectivo de Moscovo, acreditam os ucranianos, é obrigar o Exército ucraniano a deslocar recursos e equipamentos do Donbass para Kharkiv, enfraquecendo desta forma as suas posições no Leste, onde as forças russas esperam obter progressos reais nos próximos tempos.

A Rússia tem alcançado avanços territoriais na província de Donetsk, tomando algumas aldeias e vilas nas últimas semanas, mas o grande objectivo imediato é alcançar a cidade de Chasiv Iar, a poucos quilómetros de Bakhmut, que por se encontrar a uma altitude elevada poderá dar uma vantagem importante às forças de Moscovo para visar o território que lhe falta para ocupar na totalidade toda a província.

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