Portugal Fashion vai acontecer apenas uma vez por ano e aposta na internacionalização

O evento de moda do Porto deixa de acontecer em Março e Outubro. A próxima edição terá lugar a 1 a 6 de Julho, ainda sem fundos europeus, mas com financiamento do Turismo de Portugal.

Foto
Portugal Fashion deixa de apresentar duas vezes por ano, no Porto Nelson Garrido/Arquivo
Ouça este artigo
00:00
05:45

O Portugal Fashion (PF) passará a ter apenas uma edição anual, em vez das duas tradicionais semanas de moda semestrais no Porto. Ainda sem fundos europeus para apoiar o certame, a organização viu-se obrigada a adiar a edição de Março. A próxima edição acontecerá de 1 a 6 de Julho, mas esta não “é uma decisão economicista, mas tem um sentido pensado”, para que seja um “evento impactante e com novidades do ponto de vista do formato”, declara a directora do PF, Mónica Neto, ao PÚBLICO.

Mudar o formato já era uma vontade que a organização vinha a manifestar desde a pandemia, mas que o atraso no novo quadro comunitário do Portugal 2030 acabou por acelerar, nota Mónica Neto. “Na anterior candidatura, já tínhamos sofrido alguns cortes e vimos necessidade de nos ajustarmos. Começámos a desenvolver outras ideias e o projecto Canex [que levava designers africanos ao Porto] foi uma forma de diversificar as fontes de financiamento.”

Agora, a Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), que organiza o PF, já está a submeter nova candidatura para os fundos europeus, ainda que só preveja a aprovação “para Setembro”. Ou seja, a edição do PF em Julho não contará com apoios comunitários, mas será financiada pelo Turismo de Portugal e por patrocínios. “Para esta edição inaugural, vamos ter um conjunto de experiências imersivas e de contacto com as indústrias criativas locais para quem nos visita, além de algumas inovações geográficas. Queremos mostrar Portugal além da passerelle”, avança a responsável.

Mas continua a ser uma semana de moda, apesar de lhe chamarem “evento-turístico-âncora”? “Continua a ser uma semana de moda, mantendo o envolvimento com os designers, mas com formatos de apresentação que também vão além do desfile”, responde. Ou seja, os criadores ─ como Alexandra Moura, Miguel Vieira, Pedro Pedro ou Susana Bettencourt ─ poderão apresentar as colecções de Inverno, em formato see now buy now (veja já, compre já, em português) ou antecipam as propostas de Primavera/Verão, que tradicionalmente apresentariam só em Outubro.

A escolha do início de Julho para realizar o evento está ligada ao calendário internacional de desfiles, evitando a sobreposição com outra semana de moda internacional. Assim, o PF acontecerá depois da apresentação das colecções masculinas em Milão e Paris, e da Semana de Alta-Costura, na capital francesa. “Há aqui um alinhamento com outros momentos de moda que permite aos designers terem oportunidades de escolha nos formatos de apresentação”, insiste Mónica Neto.

Apesar do evento passar a ser anual, a responsável reitera que tal não significa uma perda de ligação aos criadores, que continuarão a ter no PF uma plataforma de comunicação transversal. E defende: “Acredito que esta mudança vá obrigar a uma adaptação das marcas, mas do ponto de vista da eficácia comercial não acredita que seja uma desvantagem, pelo contrário.”

Internacionalização de volta

Mas libertando-se de uma edição anual, a organização passará a focar-se sobretudo na internacionalização, a costela que sempre distinguiu o evento de moda do Porto. “Escutamos o sector e tornou-se mais sólida a ideia do PF enquanto agregador para o ecossistema, consolidando a ideia de os projetos de internacionalização tinham mais impacto nos negócios dos designers.”

A participação em semanas da moda internacionais estava suspensa desde 2022, quando terminaram os fundos do Portugal 2020. Então, estava ainda em vigor o acordo de cooperação com a ModaLisboa, assinado em 2018, e que levou designers do evento da capital a Milão e Paris. Em conversa com o PÚBLICO, Eduarda Abbondanza, presidente da associação ModaLisboa, já tinha demonstrado disponibilidade de voltar ao projeto em conjunto e agora Mónica Neto também o diz. “A intenção é dar continuidade. Queremos ser uma plataforma agregadora de oportunidades para a moda portuguesa.”

Para esta nova fase de internacionalização, que só poderá ser detalhada quando forem aprovados os novos fundos europeus, o PF quer criar um painel de especialistas que ajudará a eleger os criadores indicados para os eventos internacionais. O mesmo organismo acompanhará também o processo de internacionalização mais além, “dando mentoria”.

Ainda ligado à mentoria, mas em Portugal, o novo formato do PF quer reforçar o compromisso com os jovens talentos, através da plataforma Bloom. Além de ser um concurso para jovens designers, o Bloom dá passerelle a novos nomes e ambiciona também ser uma “incubadora de talentos”, declara Mónica Neto. “O que temos como estruturante na nova estratégia são dois pilares: internacionalização para lhes dar escala e ajudar na criação de marca dos projetos que já estão mais sólidos. Afinal, somos a casa dos jovens empreendedores.”

A directora do PF não desvenda para já qual será o orçamento desta 54.ª edição que deixa de ser de “compromisso”, como têm sido os últimos três eventos, realizados com 450 mil euros de investimento privado, da Câmara Muncipal do Porto e da ANJE. “Neste momento temos um conceito diferente, que pretende ser um evento inovador na sua edição inaugural. O orçamento será à medida para a edição”, detalha.

Desde Outubro de 2022 que o PF tem lidado publicamente com problemas de financiamento e a ANJE já vinha anunciando que seria “insuportável” fazer mais uma edição sem os fundos comunitários. Aliás, o presidente da associação empresarial, Alexandre Meireles, dizia ao PÚBLICO que são necessários 1,5 milhões de euros dos novos fundos para fazer face às despesas das edições de compromisso.

Desde 2016 até 2022, enquanto esteve em vigor o quadro comunitário Portugal 2020, a ANJE recebeu cerca de 20 milhões euros em fundos europeus. Nem todo o dinheiro foi usado no PF, certame que, de acordo com um estudo da Universidade Católica Portuguesa, antes da pandemia gerava dez milhões de euros em cada edição e criava 400 postos de trabalho. Agora resta saber, o que reserva o próximo capítulo para o evento de moda de Invicta, que, em 2025, celebrará 30 anos de história.

Sugerir correcção
Comentar