Sem fundos, Portugal Fashion anuncia: “Não há condições para fazer mais uma edição”

A organização está a tentar encontrar uma solução para as edições do próximo ano, uma vez que as candidaturas para os apoios comunitários só deverão abrir no primestre trimestre de 2024.

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Está a decorrer a 53.ª edição do Portugal Fashion Nelson Garrido/Arquivo
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O Portugal Fashion (PF) continua sem o apoio de fundos comunitários e as próximas candidaturas só deverão abrir no final do primeiro trimestre do próximo ano. Assim o evento está em risco de terminar, tal como tem vindo a avisar nas últimas três edições. “É insuportável fazer a edição de Março de 2024”, declara ao PÚBLICO Alexandre Meireles, presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) que organiza a semana da moda do Porto, desde 1995.

A 53.ª edição do evento está a acontecer até este sábado, no Museu do Carro Eléctrico, no Porto, financiada apenas por investimento privado, fundos da ANJE e apoio da Câmara Municipal do Porto, que contribuiu com 150 mil euros — o orçamento total foi de 450 mil euros. Desde Outubro do ano passado que o PF está sem acesso a fundos europeus, “porque houve um ciclo de financiamento (o Portugal 2020) que foi fechado”, explica o responsável.

As últimas três edições não foram abrangidas por nenhum quadro comunitário, apesar de a ANJE estar a contar que o apoio possa ser retroactivo, “se a despesa for correctamente efectuada, segundo as regras do concurso”. São já cerca de “1,5 milhões de euros” que a organização precisa receber para fazer face às despesas, pagas com outros financiamentos de que dispõe ─ , que também apoia o empreendedorismo, a inovação e a internacionalização, o que faz com que tenham acesso a outros fundos comunitários.

“Em termos de tesouraria, tivemos de fazer um esforço, mas não conseguimos mais”, adianta Alexandre Meireles. E esclarece: “Se a candidatura só abrir no primeiro trimestre, a edição de Março de 2024 fica de fora e possivelmente até a de Outubro 2024. É insuportável.” O que a organização procura é, “sem levantar nenhuma polémica, encontrar uma solução com o Governo” para o próximo evento. “Porque, até ao momento, não vemos maneira de o fazer acontecer.”

Alexandre Meireles esclarece que, desde Outubro do ano passado, a ANJE tem estado em constante “conversação” com o Ministério da Economia. Então, o ministro António Costa Silva prometeu fundos para a continuação do projecto. “Acreditamos que vamos ter uma solução, mas queremos deixar um alerta com meio ano de antecedência, para que, caso não haja condições, toda a gente possa estar preparada.” E refere: “O Governo considera o evento de uma importância extrema.”

Desde 2016 até 2022, enquanto esteve em vigor o Portugal 2020, “a ANJE recebeu cerca de 20 milhões de euros” de fundos europeus. “Somos mais do que o Portugal Fashion”, justifica. Contudo, o evento é o “projecto âncora” da missão da associação e, de acordo com um estudo da Universidade Católica Portuguesa, cada edição do PF antes da pandemia gerava cerca de dez milhões de euros em impacto e criava cerca de 400 postos de trabalho. Ou seja, em quatro anos, gerou um impacto de 45,4 milhões de euros no valor acrescentado bruto português, explica.

Desde Outubro de 2022, o evento tem sido feito com metade do orçamento original (eram 900 mil euros, agora são 450 mil) e isso tem-se reflectido sobretudo em detalhes, como as localizações dos desfiles, a ausência de transmissão em directo ou a redução do número de manequins contratados. “São edições de compromisso, feitas graças ao apoio da Câmara Municipal do Porto.”

Outra fonte de financiamento tem sido o projecto Canex, financiado pelo Afreximbank, com vista a diversificar os mercados de destino da moda portuguesa, encontrando em África uma nova oportunidade, não só para exportar, mas também para os criadores africanos produzirem por cá. “Já trouxemos mais de 70 designers”, assinala.

“Os caminhos a ser feito é conseguir ter uma maior comparticipação dos privados e de apoio externo”, resume o responsável, recusando-se a afirmar que a ANJE esteja em dívida ou que corra o risco de se tornar insolvente. “Não é isso que está em questão. Estamos aqui para criar soluções. No início do próximo ano tomamos uma decisão definitiva, mas, ao dia de hoje, não há condições para fazer mais uma edição”, conclui.

Dese 1995, o Portugal Fashion já organizou 53 semanas de moda no Porto, sempre em Março e Outubro, e é “casa” para dezenas de criadores nacionais como Alexandra Moura, Miguel Vieira, Pedro Pedro ou Susana Bettencourt. O projecto sempre se distinguiu pela componente de internacionalização da moda de autor portuguesa, o que o diferencia da ModaLisboa, o evento-irmão, na capital.

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