Tribunal romeno aprova pedido de extradição de Andrew Tate

O tribunal de recurso declarou que “decide executar o mandado de captura e (...) adiar a entrega da pessoa procurada até ao veredicto final do processo penal apresentado no tribunal de Bucareste”.

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O antigo kickboxer profissional e influenciador das redes sociais Andrew Tate (à esquerda) escoltado por um agente da polícia mascarado, pisca o olho a um fã enquanto sai do edifício após uma audiência sobre um mandado de captura britânico EPA/Robert Ghement
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Um tribunal romeno aprovou um pedido do Reino Unido para extraditar a personalidade da Internet Andrew Tate, mas adiou essa extradição até que o processo judicial romeno esteja concluído.

O tribunal disse, nesta terça-feira, que também decidiu que Tate e o seu irmão Tristan deveriam ser libertados imediatamente da custódia policial. Os Tate foram detidos durante 24 horas enquanto aguardavam uma decisão sobre o mandado de captura britânico.

O tribunal de recurso declarou, em comunicado, que “decide executar o mandado de captura e (...) adiar a entrega da pessoa procurada até ao veredicto final do processo penal apresentado no tribunal de Bucareste”.

Tate e o seu irmão Tristan foram detidos na segunda-feira à noite por alegações de agressão sexual que remontam a 2012-2015, as quais negam “categoricamente”, afirmou a sua equipa de relações públicas. O mandado foi emitido pelo Tribunal de Westminster, em Londres.

“Somos homens inocentes, somos homens muito inocentes e, com o tempo, toda a gente vai ver isso e estamos muito entusiasmados por terminar este processo judicial e limpar os nossos nomes”, disse Tate ao ser libertado da custódia policial.

“É muito engraçado porque eu próprio tenho andado a pedir aos tribunais romenos para ir para o Reino Unido. Pedi-o cinco vezes e foi-me recusado, por isso agora posso ir para casa. É uma notícia fantástica”, afirmou.

A polícia britânica disse à Reuters que os Tate faziam parte de uma investigação em curso sobre alegações de violação e tráfico de seres humanos, acrescentando que estavam a trabalhar com as autoridades romenas.

“Apreciamos a decisão do Tribunal de Recurso de Bucareste de adiar a extradição de Andrew e Tristan Tate”, afirmou Eugen Vidineac, advogado dos arguidos, num comunicado. “Esta decisão dá aos irmãos a oportunidade de participarem plenamente na sua defesa e de o processo judicial decorrer de forma transparente.”

Tate, que conquistou milhões de fãs ao promover um estilo de vida ultramasculino e misógino, foi acusado em Junho na Roménia, juntamente com o irmão e duas mulheres romenas, de tráfico de seres humanos, violação e formação de grupo criminoso para explorar sexualmente mulheres. Os dois negaram as acusações.

O caso está desde então na câmara preliminar do tribunal de Bucareste, que tem de decidir se o julgamento pode começar. A decisão ainda não foi tomada, uma vez que os tribunais romenos estão sobrecarregados.

Os irmãos Tate foram mantidos sob custódia policial durante a investigação criminal, desde o final de Dezembro de 2022 até Abril, para evitar que fugissem do país ou adulterassem provas. Foram colocados em prisão domiciliária até Agosto.

Desde então, estão sob controlo judicial, uma medida preventiva mais leve que significa que têm de se apresentar regularmente à polícia, mas podem circular livremente, excepto para sair do país.

A proibição não impede Andrew Tate de continuar a trabalhar através das redes sociais. Apesar de já ter sido banido das redes sociais por diversas vezes, a página no Twitter continua activa e acumula 8,9 milhões de seguidores. A Meta removeu as contas oficiais no Facebook e Instagram, na sequência de uma campanha para retirar Tate da plataforma por violar as políticas da empresa relativas a organizações e indivíduos perigosos. No TikTok também já não tem conta, apesar de continuarem a circular vídeos da sua autoria.

Além dos comentários misóginos na Internet, Tate criou negócios à volta da masculinidade. Fundou uma plataforma no Telegram, a War Room, onde homens ao seu serviço ensinam outros a explorar sexualmente as mulheres. Primeiro, seduzem-nas e depois põem-nas a trabalhar em pornografia, em plataformas como o PornHub ou o Only Fans. Para pertencer ao grupo, disse em tempos o britânico, é preciso pagar oito mil dólares anuais (7319 euros). Em Agosto de 2022, existiam 434 membros, espalhados pelo mundo.

Em Junho de 2023, o tribunal divulgou algumas das mensagens trocadas entre os irmãos Tate e os sócios. “Vamos escravizar estas cabras”, dizia Tristan Tate, nos documentos onde se relatavam também testemunhos das vítimas, incluindo detalhes das cenas de violência sexual.

Além da War Room, o britânico chegou a promover um curso online para ensinar aos seguidores como devem ser “as interacções entre homem e mulher”. No vídeo de apresentação, dizia que a função do homem é “conhecer uma rapariga, levá-la a alguns encontros, dormir com ela, fazer com que ela se apaixone ao ponto de fazer tudo o que o homem diz, e depois conseguir que se filme para ficarem ricos juntos”.

Tate não só tem negado todas as acusações, como se queixa de que as suas afirmações são retiradas do contexto. No ano passado, numa entrevista à BBC, defendeu só querer o bem para o mundo: “Estou a apregoar o trabalho duro, a disciplina. Sou um atleta, defendo as políticas antidroga, a religião, a abstinência de álcool e a ausência de armas. Sou contra todos os problemas da sociedade moderna.”