Global Media demite direcção do DN. Redacção repudia “despedimento colectivo”
O despedimento colectivo foi comunicado na manhã desta terça-feira.
A direcção do Diário de Notícias (DN), contratada pela administração liderada por José Paulo Fafe, foi despedida nesta terça-feira.
“Fomos despedidos e vai embora toda a gente que foi contratada com a administração”, confirmou ao PÚBLICO um membro da direcção do DN, até esta terça-feira liderada por José Júdice.
O despedimento colectivo decorrente do “processo de reestruturação interna” e fundamentado “na complicadíssima situação financeira” foi comunicado nesta manhã pelo Global Media Group (GMG).
“Estando conscientes de que este processo tem grande impacto nas operações do Diário de Notícias, tudo faremos para minorar as suas consequências. A verdade é que a situação actual era insustentável tanto do ponto de vista financeiro como do ponto de vista da equidade com os profissionais”, lê-se no comunicado, em que se acrescenta ainda que vai ser criado um “projecto renovado para o DN que será desenvolvido em articulação profunda com a actual redacção”.
Bruno Contreiras Mateus, actual director do Dinheiro Vivo, assume agora o papel de director interino do jornal. Após um período “de transição de três meses”, o jornalista vai abandonar o GMG para “se dedicar a projectos pessoais”, escreveu a empresa.
Na quinta-feira (14 de Março) está prevista uma greve geral de jornalistas, em protesto contra a “insegurança no emprego, a par com os salários baixos praticados no sector”, lê-se no comunicado do sindicato, que exige “aumentos salariais superiores à inflação”, entre outras medidas. O sindicato tem-se ainda manifestado contra o GMG e chegou a preparar uma acção judicial contra a empresa pelo atraso no pagamento aos trabalhadores.
“Sobre este tema foi solicitado um parecer ao conselho de redacção [CR]”, acrescenta o comunicado de imprensa. Em Outubro, o conselho de redacção tinha decidido por unanimidade “não dar aval” à direcção de José Júdice. Tornou-se, assim, a segunda direcção rejeitada no Global Media Group em menos de um mês. Num novo comunicado, o conselho de administração afirmara a “sua plena e inteira confiança” no director e na subdirectora Ana Cáceres Monteiro, a quem tinha sido dado igualmente um “parecer negativo” pelo CR.
Nos últimos meses, o GMG tem sofrido reestruturações profundas devido à crise financeira e levou a uma onda de despedimentos no final do ano passado, que suscitou protestos e uma greve à porta do Jornal de Notícias (JN) e em todo o país. Agora, o JN, O Jogo e a TSF foram comprados por um grupo empresarial do Norte de Portugal, enquanto os títulos Diário de Notícias e Dinheiro Vivo ficaram fora da equação e mantiveram-se sob alçada do GMG.
Em Janeiro, Marco Galinha tinha responsabilizado a administração do GMG pela crise, argumentando que a empresa não estava “a cumprir com as suas obrigações” e que o atraso no pagamento de salários não era admissível. Disse também ter investido “cerca de 16 milhões de euros” em dois anos no grupo, que, segundo disse, teve perdas de receitas “semelhantes às de grupos internacionais”. Em relação à dívida bancária, afirmou ainda: “Foi reduzida de 68 milhões de euros para menos de um milhão de euros.”
No fim de Janeiro, o GMG ameaçou processar o advogado António Garcia Pereira. Em causa estavam acusações de pagamentos a membros da administração da empresa numa altura em que o GMG afirmava não ter capacidade para pagar o salário de Dezembro e o subsídio de Natal aos trabalhadores.
São 20 as pessoas despedidas: os três elementos da direcção (José Júdice, Ana Filipa Monteiro e Filipe Garcia); o director-geral, o coordenador gráfico, jornalistas, assessoras, assistentes, uma secretária, uma técnica e um motorista.
Lê-se num segundo comunicado do GMG a que o PÚBLICO teve acesso: “Após a presente comunicação inicial de intenção de despedimento colectivo e o prazo para a eventual nomeação de comissão representativa pelos trabalhadores abrangidos (5 dias úteis), irá decorrer a fase de informações e negociações.” Para além das indemnizações legais, não vai ocorrer qualquer tipo de remuneração por parte da empresa, acrescenta ainda o comunicado.
Redacção repudia "despedimento colectivo" e promete "novas formas de luta"
Num comunicado divulgado na noite desta terça-feira, a redacção do Diário de Notícias repudiou "veementemente" mais um anúncio de despedimento colectivo no Global Media Group.
Os trabalhadores do jornal salientam que, “em nome da sobrevivência do DN e do bom jornalismo”, esperam que “a administração reconsidere e que seja possível criar uma solução que permita manter os bons profissionais”. Mas promete, caso isso não aconteça, “avançar para novas formas de luta”.
Na nota, a redacção do diário considera “incompreensível” que, a dias de uma greve geral na profissão em defesa de melhores condições salariais, se pretendam despedir jornalistas invocando o critério "do salário demasiado alto" e da "equidade salarial na empresa".
E lamenta que este despedimento afecte "mais uma vez o coração do jornal e do jornalismo"
Além disso, diz ser um “absurdo” que a administração da empresa alegue como motivo para este despedimento a ausência de resultados do “investimento efectuado no reforço da redacção em Novembro" passado.
“Naturalmente, não se pode esperar que, em pouco mais de três meses, durante os quais houve salários em atraso [permanecendo o subsídio de natal em falta], fosse possível assistir a uma recuperação miraculosa”, afirmam os jornalistas na nota.
Segundo a redacção “o reforço com profissionais experientes efectuado a partir de Novembro era absolutamente vital para assegurar a qualidade que se espera e se exige do DN”. E “a mesma exigência de responsabilidade e defesa do DN também se espera de quem o gere e de quem nele investiu”, sublinham os jornalistas.
A redacção opõe-se, assim, “a mais um emagrecimento do DN”, que “há anos ostenta o título de mais pequena redacção do país, dentro dos diários de referência”.
Concluindo: “Despedir jornalistas é abdicar de património, o único do qual a administração se pode e deve orgulhar. Sobreviver a despedimento colectivo atrás de despedimento colectivo [não é construir], é destruir o bom jornalismo e a resiliência dos que têm abdicado de viver para fazer um jornal à altura da história e prestígio do DN”.