Narciso Rodriguez está de regresso à moda, mas sem desfiles “impessoais”

Desde 2020 que o criador norte-americano está ausente da moda, focando-se apenas no negócio de perfumaria. Agora, voltou a abrir o atelier, mas sem a pressão das duas colecções anuais.

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Narciso Rodriguez em 2011 na Semana da Moda de Nova Iorque Reuters/LUCAS JACKSON
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Hoje há quem só o conheça pelas fragrâncias de sucesso, mas, no início dos anos 2000, Narciso Rodriguez era um dos grandes nomes da moda feminina. A pandemia levou a que fechasse o negócio de moda, dedicando-se apenas aos perfumes. Agora, o criador de 63 anos está de regresso ao ateliê para criar, mas sem vontade de voltar a fazer desfiles. “Apercebi-me que o ofício está tão enraizado em mim. Não posso parar de trabalhar. Sou demasiado jovem. Quero começar a fazer roupa outra vez”, avança o designer à revista Town & Country.

Narciso Rodriguez encontrou recentemente um novo espaço em Nova Iorque para preparar o seu regresso. “Sinto que estou novamente no início da minha carreira”, confessa. Depois de a pandemia levar ao “fim do negócio” e ter dispensado toda a equipa que o acompanhava “desde início”, conseguiu trazer algumas dessas costureiras para o recomeço.

Recomeço esse que se fará seguindo a mesma matriz de sensualidade e feminilidade, mantendo o minimalismo com um toque "latino", que sempre caracterizou a assinatura do criador. Contudo, o método do negócio será “racionalizado”, menos dependente da velocidade da indústria da moda, que exige, pelo menos, duas colecções por ano. Durante meses, os criadores trabalham para um desfile (com menos de meia hora) e Narciso Rodriguez cansou-se desse sistema “impessoal”.

Ultimamente tem criado sobretudo peças únicas para clientes especiais e quer apostar nesse modelo de negócio. “Quer sejam cinco vestidos que desenho para meu próprio prazer ou quer os produza [para vender], isso ainda está por decidir”, adianta, reconhecendo que está aberto a uma parceria financeira ou licença de produção. É nesse regime que funciona a linha de perfumaria produzida pela Shiseido — o perfume For Her é um dos mais populares das últimas duas décadas.

Nos anos 1990, a estética de Narciso Rodriguez distinguia-se da crescente corrente do streetwear, pelo minimalismo que trazia às peças. O ingrediente secreto, dizia frequentemente, eram as curvas, não só das mulheres que vestia, mas sobretudo das silhuetas que desenhava. Nem a propósito, a estética dessa década está de regresso e o criador poderá recuperar alguns dos ícones da marca fundada em 1997, com estreia na Semana da Moda de Milão.

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Desfile em 2011 na Semana da Moda de Nova Iorque ERIC THAYER/Reuters

Filho de pais imigrantes cubanos, recorda a revista Vogue, Narciso Rodriguez estudou em Nova Iorque na conhecida escola Parsons. Ao mesmo tempo, já trabalhava numa das marcas mais conceituadas da moda norte-americana, Anne Klein (onde esteve com Donna Karan) e, mais tarde, com Calvin Klein. Não tardou até seguir voos mais altos como director criativo da Tse Cashmere e consultor da Cerruti, em Paris.

Foi na Calvin Klein que conheceu a mulher que havia de mudar o seu destino, Carolyn Bessette, então relações públicas na marca. Os dois ficaram amigos e chegaram a viver juntos em Nova Iorque, até que Carolyn ficou noiva de John F. Kennedy Jr., filho do antigo Presidente dos Estados Unidos. Foi Narciso Rodriguez a desenhar o vestido de noiva, em 1996 — o casal havia de morrer tragicamente num acidente de avião, três anos depois do enlace.

A estética minimalista do vestido acetinado percorreu as revistas de moda, numa era antes das redes sociais, e chamou atenção da LVMH. O conglomerado de luxo francês tinha acabado de comprar a Loewe e contratou Narciso Rodriguez para a direcção criativa, ao mesmo tempo que o criador lançava a sua própria marca. Ficou na casa espanhola durante quatro anos e acredita ter deixado “mossa” na renovação da etiqueta, mantendo amizades “até hoje”.

Com o ateliê em nome próprio vestiu algumas das mulheres mais famosas do mundo, como Michelle Obama, Claire Danes ou Sarah Jessica Parker, a quem chama de musas. “São fortes. São confiantes. São independentes”, elogia. Quem sabe, em breve, as celebridades voltarão a pisar as passadeiras vermelhas com criações Narciso Rodriguez.

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