No debate dos partidos verdes, PAN e Livre disputam política de alianças
O frente-a-frente entre Inês Sousa Real e Rui Tavares dividiu os líderes partidários sobre justiça, ambiente e acordos políticos, tanto na Madeira como ao nível nacional.
Como era expectável, o debate entre o PAN e o Livre - dois partidos que integram o Partido Verde Europeu - centrou-se nas questões ambientais, que criaram cisões entre Rui Tavares e Inês Sousa Real. Mas o frente-a-frente passou também pela política de alianças e a situação na Madeira, que levou o líder do Livre a criticar a justiça por ter privado os arguidos de liberdade durante demasiado tempo e a acusar o PAN de "incoerência" por ter apoiado o governo regional. Já Sousa Real acabou a defender que o PAN é "responsável" e "útil", tanto por ter feito um acordo com os sociais-democratas, como por ter exigido a demissão de Miguel Albuquerque.
O debate de 30 minutos na RTP3 começou pela área da justiça. Crítico da actuação do poder judicial, Rui Tavares tanto condenou as "responsabilidades não assumidas" da Procuradoria-Geral da República na investigação ao primeiro-ministro, como considerou que, na investigação em torno do ex-presidente do governo regional da Madeira, "as pessoas não deviam ter estado privadas da liberdade tanto tempo".
Por isso mesmo, o co-porta-voz do Livre defende que, para fazer frente à crise política, é necessário um “grande debate nacional que envolva o poder judicial e judiciário” com vista a melhorar a comunicação da justiça. Mas também para tornar os processos mais céleres e aumentar a participação dos cidadãos.
Já Inês Sousa Real apresentou outras soluções: o reforço dos meios da justiça, a suspensão dos projectos envolvidos nessas investigações e a regulamentação do lobbying. Mas atirou igualmente contra a justiça, ao considerar que "o Conselho Superior da Magistratura deve fazer uma reflexão interna" sobre a "condução destes processos".
Não se referiu, contudo, directamente ao caso da Madeira, em relação ao qual mantém que foi uma "atitude responsável" o PAN exigir a demissão de Albuquerque para "haver lugar à investigação" e se "recuperar a credibilidade das instituições".
Lítio e hidrogénio, esquerda e direita
Daí, o debate passou para a gestão dos recursos naturais, o que levou os dois a afastarem-se sobre a exploração de lítio e hidrogénio. Se Rui Tavares defende que deve existir uma empresa pública de hidrogénio e que se deve explorar o lítio de forma "pontual" em minas que já existem, Inês Sousa Real considera que "a questão não está na gestão pública" e que os projectos de lítio e hidrogénio devem ser suspensos.
Também a revisão extraordinária da Constituição para consagrar a protecção animal dividiu os dois partidos. Sousa Real lamentou que o Livre não tenha acompanhado o PAN nesta matéria, ao passo que Tavares defendeu que essa alteração durante a dissolução da Assembleia significaria "abrir a porta" ao PS e PSD para mudarem "as regras do jogo".
O co-porta-voz do Livre aproveitou o tema para acusar o PAN de "incoerência" por apoiar o governo PSD/CDS da Madeira apesar do seu "descaso com o ambiente" ou dos "maus tratos a animais" na região. E procurou distanciar-se do PAN, ao garantir que o Livre "diz ao que vem". Isto é, que fará parte de uma "maioria de progresso e ecologia à esquerda", mas que, no caso de uma maioria de direita, estará na oposição, tanto no continente como na Madeira.
Inês Sousa Real retorquiu que é "indiferente" para os animais e as pessoas se o PAN é de esquerda ou de direita, defendendo que o PAN mostrou ser "útil à democracia" ao dar apoio parlamentar ao governo de Albuquerque.
A questão das possíveis alianças dos partidos não terminou aí. Embora ambos se mostrem disponíveis para um entendimento com os socialistas, deixaram críticas ao PS pelo apelo ao voto útil, que Rui Tavares classificou como uma "chantagem". "O voto no PS às vezes nem para implementar as ideias do PS serve", atirou.
Inês Sousa Real concordou, acusando ainda o PS de "defraudar a confiança" dos eleitores e de não ter feito "avanços e reformas" durante a maioria absoluta. Mas disse-se disponível "para trabalhar" no futuro, recusando apenas "colaborar" com forças que não sejam democráticas ou que coloquem em causa os valores do PAN.
O debate passou também por questões relacionadas com a fiscalidade e, nessa área, os candidatos apareceram alinhados na defesa de impostos extraordinários sobre as empresas que mais poluem e os grandes lucros, como os do sector energético e da banca.