Gomes Cravinho tem receio do “vazio” deixado pela saída da missão da SADC de Cabo Delgado
Portugal quer prolongar a missão de formação da UE em Moçambique que termina em Setembro, mas com um mandato “mais abrangente”, para poder incluir as “lições aprendidas” com a experiência de combate.
Portugal vai propor em Bruxelas uma “alteração ao mandato” da missão da União Europeia em Moçambique para que possa ser “mais abrangente” e fazer face à retirada dos militares da missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) na província de Cabo Delgado, a braços com uma insurgência jihadista desde 2017. Segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, a ideia é evitar que “o vazio” deixado pela SAMIM possa ser aproveitado pelos insurgentes.
A notícia foi avançada pelo ministro desde o Ruanda, país que mantém uma força militar em Cabo Delgado desde Julho de 2021. “Com a experiência que adquirimos e também com a mudança da realidade, em função da saída das tropas da SADC, vamos propor uma renovação do mandato da formação da UE e uma alteração a esse mandato para ser um pouco mais abrangente e para que tenha lições aprendidas da experiência das tropas formadas pela UE no combate no norte de Moçambique”, disse o ministro à Lusa desde Kigali.
João Gomes Cravinho, que passou primeiro pela Nigéria e vai ainda à Etiópia, referiu que o Ruanda “é um parceiro muito importante” para Portugal, "um país que presta muita atenção ao continente africano" e “um protagonista de primeira importância” em cenários onde militares portugueses estão empenhados, como Moçambique e a República Centro-Africana (RCA).
Na sua deslocação a Kigali, o chefe da diplomacia portuguesa encontrou-se com o seu homólogo, Vincent Biruta, e com o ministro da Defesa, Juvenal Marizamunda, bem como com autoridades da UE e empresários portugueses.
“A SAMIM já começou a fazer as operações de retirada e em Junho já terá saído do teatro, o que deixa um certo vazio e, portanto, um dos temas da nossa conversa foi precisamente como apoiar Moçambique a evitar que esse vazio seja aproveitado por forças terroristas em Cabo Delgado”, disse Gomes Cravinho.
Portugal assumiu o comando da Missão de Treino da UE em Moçambique (EUTM-MOZ), iniciada em Setembro de 2022 e com um mandato de dois anos. A actual missão é constituída por um contingente de 117 pessoas, 65 das quais portuguesas.
No encontro com os dois governantes ruandeses, o ministro também abordou a situação na RCA, onde Portugal tem cerca de 250 militares envolvidos nas missões das Nações Unidas (Minusca) e da UE.
“A grande questão é a presença no terreno das forças da Wagner”, explicou o ministro, referindo-se ao grupo mercenário russo. “Forças privadas, mercenárias, que estão a explorar minas e, portanto, estão também a degradar muito a pouca autoridade do Estado da RCA”.
Portugal e Ruanda debateram “como contornar e a prazo eliminar a presença das forças mercenárias para que a RCA possa assumir as suas próprias responsabilidades”, nomeadamente apoiando a formação das suas forças armadas, “sem permitir que elas venham a ficar sob comando precisamente desses mercenários.”