Demissão de Albuquerque foi aceite, Governo da Madeira fica em gestão
Representante da República assumiu que “lamenta” concretização da exoneração antes da aprovação do Orçamento regional, que já não vai ser discutido. Partidos regionais vão ser ouvidos sobre a crise.
O presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, formalizou o pedido de demissão, que foi aceite pelo representante da República, Ireneu Barreto. Horas depois, o decreto de exoneração foi publicado em Diário da República, o que significa que Miguel Albuquerque passou a liderar um executivo em gestão. Num comunicado lido após a audiência de Miguel Albuquerque, Ireneu Barreto assumiu que preferia que fosse concluído o Orçamento regional antes de a demissão ser formalizada e lamentou a opção do líder do PSD-Madeira.
No final da reunião com o representante da República, no Funchal, o ainda presidente do governo regional, que foi constituído arguido num processo que envolve crimes de corrupção, adiantou que agora compete a Ireneu Barreto “ouvir os partidos e depois tomar uma decisão” sobre se aceita um novo executivo na actual maioria parlamentar ou se remete para a dissolução da assembleia legislativa regional, o que só poderá ser decidido pelo Presidente da República a partir de 24 de Março.
Quanto ao seu possível sucessor à frente de um novo executivo, Miguel Albuquerque adiantou que o nome será apresentado "na altura própria".
Questionado sobre se falou com Marcelo Rebelo de Sousa, o ainda presidente do governo regional respondeu negativamente e deixou um recado ao chefe de Estado sobre um eventual pré-anúncio de uma dissolução da assembleia regional. “Não falei nem tenho de falar com o Presidente da República. O senhor Presidente da Republica não tem, neste momento, no quadro legal e constitucional, a possibilidade de dissolver a assembleia legislativa, nem faz dissoluções em diferido porque isso não existe.”
Miguel Albuquerque insistiu na ideia de afastar eleições antecipadas, considerando que o acto eleitoral só poderia realizar-se "lá para o Verão". "A região fica sem orçamento e sem Governo este tempo todo, traz graves prejuízos para a vivência dos madeirenses", disse.
Sem adiantar qual a solução que irá adoptar perante a actual crise política, o representante da República confirmou, na nota divulgada à comunicação social, que a publicação do despacho de exoneração "deverá acontecer ainda hoje [segunda-feira]" e que, a partir desse momento, o Governo regional se deve "limitar à prática de actos estritamente necessários para assegurar a gestão dos negócios públicos na região". O gabinete de Ireneu Barreto adiantou que irá ouvir "de imediato" os representantes dos partidos com assento parlamentar regional.
Ireneu Barreto referiu-se também à opção anteriormente colocada por Miguel Albuquerque de aprovar o Orçamento regional, que deveria começar a ser discutido nesta semana, antes de pedir a demissão, o que acabou por não vingar porque o PSD e o CDS concluíram ser preferível avançar já com um novo executivo saído da actual maioria.
No comunicado, o representante da República considerou que "teria sido muito importante a aprovação do Orçamento regional antes de concretizar a presente demissão". E assumiu a discordância: "Tal não foi assim entendido, o que muito lamento."
A oficialização da exoneração de Miguel Albuquerque e de todo o executivo implica a caducidade da proposta do Orçamento regional e das moções de censura do PS e do Chega, pelo que o seu debate foi cancelado na assembleia legislativa.
O líder da Aliança Democrática e do PSD, Luís Montenegro, foi questionado nesta segunda-feira sobre a formalização da demissão de Miguel Albuquerque. A resposta foi lapidar: "As instituições funcionam."
Texto actualizado às 19h03 com a informação de que o despacho da exoneração de Miguel Albuquerque foi publicado em Diário da República e com o cancelamento dos debates da proposta de Orçamento e das moções de censura.