Ex-funcionário da CIA condenado a 40 anos de prisão
Joshua Schulte transmitiu à WikiLeaks, em 2017, informações detalhadas sobre programas e operações de espionagem desconhecidos até então.
Um antigo funcionário da CIA, Joshua Schulte, condenado em 2022 por ter transmitido à organização WikiLeaks alguns dos maiores segredos da principal agência de espionagem norte-americana, foi sentenciado esta sexta-feira a 40 anos de prisão.
Schulte, de 35 anos, foi condenado a 33 anos e quatro meses de prisão por espionagem, acesso indevido a computador e prestação de falsas declarações ao FBI, e a seis anos e oito meses de prisão por posse de pornografia infantil.
Segundo o juiz, Schultz não agiu motivado por nenhum desejo de informar o público ou de denunciar alegadas práticas ilegais ou imorais na CIA, mas sim por descontentamento com a forma como os seus superiores geriram uma disputa laboral com um outro colega, em 2015.
Após o anúncio da sentença, os procuradores do Departamento de Justiça dos Estados Unidos disseram que Schulte — a quem se referiram com "um traidor" — "cometeu alguns dos crimes mais insolentes e odiosos da história da espionagem americana".
"O excelente trabalho de investigação do FBI e dos procuradores expôs a verdadeira face de Schulte: a de um traidor e um predador", disse num comunicado o representante do Departamento de Justiça, o procurador Damian Williams.
O material que Schulte retirou dos servidores da CIA e que cedeu à Wikileaks foi publicado por esta organização em Março de 2017. Entre os documentos encontravam-se pormenores sobre programas usados pela CIA para contornar a segurança de smartphones Apple e Android e de programas de conversação como o WhatsApp, Signal e Telegram.
Outro dos programas utilizados, com o nome de código “Weeping Angel”, utilizava televisões inteligentes da Samsung como aparelhos de escuta; mesmo quando aparentemente estavam desligados, os microfones gravavam conversas que decorriam na divisão onde se encontrava o aparelho, cujas gravações eram depois enviadas para um servidor da CIA.
Segundo especialistas ouvidos durante o julgamento, a divulgação dos segredos da CIA pela WikiLeaks alertou países adversários dos EUA, principalmente a Rússia e a China, para a existência de programas e de operações específicos — e desconhecidos até então — cujo uso era considerado crucial para a segurança nacional norte-americana.
Schulte foi identificado como suspeito poucas semanas depois da divulgação dos segredos da CIA pela WikiLeaks, mas só foi detido em Agosto de 2017, quando o FBI fez buscas na sua casa e encontrou dezenas de milhares de imagens de pornografia infantil num computador, que tinham sido descarregadas da Web entre 2009 e 2017.
A acusação de espionagem foi deduzida no ano seguinte, quando Schulte estava detido por posse de pornografia infantil.