Medidas anunciadas pelo primeiro-ministro francês não convencem agricultores

Protestos e bloqueios vão continuar em França apesar das promessas de Gabriel Attal. Indignação dos agricultores chega à Bélgica e a Espanha.

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Dezenas de tractores bloqueiam parte da auto-estrada A4 em Jossigny, a leste de Paris nos arredo EPA/YOAN VALAT
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Gabriel Attal defendeu a “excepção agrícola francesa” e anunciou uma série de medidas destinadas a acalmar a ira dos agricultores que continuam a bloquear o acesso a Paris e a cortar auto-estradas por todo o país. Mas o discurso do primeiro-ministro esta terça-feira perante a Assembleia Nacional não chegou para convencer os agricultores franceses, que prometeram manter os protestos.

“Nada me garante que a minha vaca será vendida a um preço mais alto na próxima semana”, disse Jean-Charles Chanquoi, responsável dos Jovens Agricultores de Dordogne, que protestava na A6, que liga Paris a Lyon, no Sul, citado pelo Le Figaro, que prometeu “continuar o combate”.

Há vários dias que os agricultores protestam por toda a França com o objectivo de pressionar o Governo a responder às suas exigências de melhor remuneração pelos seus produtos, menos burocracia e maior protecção contra importações mais baratas.

“Aconteça o que acontecer, estamos determinados a ir até ao fim”, disse, citado pela Reuters, o agricultor Jean-Baptiste Bongard, enquanto centenas de agricultores se juntavam à volta de pequenas fogueiras numa auto-estrada bloqueada pelos tractores em Jossigny, perto de Paris.

A campanha dos agricultores por melhores salários, menos restrições e custos mais baixos transformou-se numa grande crise para Attal no seu primeiro mês como primeiro-ministro e que, esta terça-feira, no seu discurso de política geral na Assembleia Nacional, tentou responder às reivindicações do sector agrícola.

“A nossa agricultura é uma força e também o nosso orgulho. Por isso, digo-o aqui solenemente, há e deve haver uma excepção agrícola francesa”, afirmou o primeiro-ministro perante os deputados.

Entre as medidas anunciadas por Attal está a implementação de controlos sobre os produtos alimentares estrangeiros que chegam ao mercado francês. “O objectivo é claro: garantir uma concorrência leal, especialmente para que os regulamentos que estão a ser aplicados aos agricultores franceses sejam também respeitados pelos produtos estrangeiros”, afirmou o primeiro-ministro, que prometeu também actuar, com a imposição de multas, sobre os retalhistas que não cumpram uma lei destinada a garantir parte justa das receitas para os agricultores.

“Precisamos de ouvir os agricultores, que estão a trabalhar e estão preocupados com o seu futuro e com o seu sustento”, referiu Attal, adiantando que o Governo anunciará mais medidas “nas próximas horas e dias”.

Num discurso que foi depois criticado quer à direita quer à esquerda, o mais jovem primeiro-ministro da história recente de França revelou ainda que o Governo reuniu uma coligação de 22 países da União Europeia que concordam com a prorrogação de uma directiva da UE que obriga a reservar 4% da terra agrícola para ficar em pousio, uma política que consta do Pacto Verde.

Dois responsáveis da UE disseram à Reuters, na segunda-feira, que a Comissão Europeia estava a estudar a possibilidade de alterar a regra do pousio, tal como solicitado pela França, entre outras opções para responder às preocupações dos agricultores europeus.

No que diz respeito à Política Agrícola Comum (PAC), outro motivo da indignação dos agricultores franceses, o chefe do Governo garantiu que “até 15 de Março”, "todas as ajudas da PAC serão depositadas nas contas bancárias dos agricultores”.

Em vésperas do Conselho Europeu, que começa na quinta-feira em Bruxelas, os protestos já se estenderam a outros países da UE. Na Bélgica, os agricultores belgas bloquearam o acesso ao porto de Zeebrugge, um dos principais do país, e encheram a cidade de Namur, na Valónia, de tractores, ao mesmo tempo que ocupavam uma praça no centro de Bruxelas, prometendo lá ficar até ao arranque da cimeira dos líderes europeus.

Os agricultores espanhóis anunciaram que se juntariam ao movimento, planeando vários protestos para Fevereiro. Também na Alemanha, na Polónia, na Hungria e na Roménia tem havido protestos por parte do sector agrícola.

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