Ao fim de dois anos, a Irlanda do Norte vai voltar a ter governo
DUP anuncia acordo com Londres para restabelecer a partilha do poder na Assembleia de Stormont, abrindo caminho para um governo liderado pelo Sinn Féin.
O Partido Unionista Democrático (DUP) anunciou esta terça-feira o seu apoio a um acordo com o Governo do Reino Unido para restabelecer a partilha do poder na Irlanda do Norte com os republicanos do Sinn Féin, abrindo o caminho para o fim de quase dois anos de impasse político.
O líder do DUP, Jeffrey Donaldson, afirmou que o partido “apoiou as propostas apresentadas”, após uma reunião de quase cinco horas entre os 130 membros do órgão directivo. “O resultado foi claro”, afirmou, antes de sublinhar que lhe foi concedido o “mandato para avançar”.
"O pacote, na sua totalidade, fornece uma base para o nosso partido nomear membros para o governo da Irlanda do Norte, o que significa a restauração das instituições eleitas localmente”, disse Donaldson numa conferência de imprensa após o final de uma reunião que não acabou sem polémica: segundo a BBC, os pormenores do encontro, fechado, do DUP foram divulgados em tempo real ao activista lealista Jamie Bryson porque um dos membros da comissão executiva do partido terá usado um dispositivo de gravação.
“Acredito que, com a implementação de boa-fé deste pacote de medidas, com trabalho árduo e dedicação, poderemos olhar para trás como o momento decisivo em que a posição da Irlanda do Norte foi salvaguardada e o seu lugar no mercado interno do Reino Unido foi restaurado”, afirmou Donaldson.
De acordo com o diário The Guardian, o acordo, que será revelado na quarta-feira, “eliminará os controlos sobre as mercadorias que circulam no Reino Unido e que permanecem na Irlanda do Norte e porá fim à obrigação da Irlanda do Norte de seguir automaticamente as futuras leis da UE”.
Espera-se que a legislação seja aprovada em Westminster na quinta-feira e que a Assembleia da Irlanda do Norte se reúna na sexta-feira ou no sábado para eleger um novo líder em Stormont, a sede do parlamento norte-irlandês, em Belfast.
“O pacote requer um número significativo de medidas a tomar e aguardamos com confiança a sua implementação, de acordo com um calendário acordado”, acrescentou o líder do DUP, referindo-se ao facto de o Governo britânico, liderado por Rishi Sunak, ter de cumprir os seus compromissos para activar este acordo.
O ministro para a Irlanda do Norte, Chris Heaton-Harris, mostrou-se confiante de que “estão reunidas todas as condições” para a convocação da Assembleia Nacional da Irlanda do Norte e adiantou que “as partes com autoridade para formar um executivo vão reunir-se amanhã para discutir as questões”.
“Espero poder concluir este acordo com os partidos políticos o mais rapidamente possível”, afirmou.
O DUP levou ao bloqueio da Assembleia da Irlanda do Norte em Fevereiro de 2022 em protesto contra os acordos comerciais pós-"Brexit", argumentando que prejudicavam a posição da Irlanda do Norte no Reino Unido.
Na altura, Donaldson argumentou que o chamado "enquadramento de Windsor" — que desbloqueou o protocolo para a Irlanda do Norte após o "Brexit" e reavivou as conversações para cooperar em áreas-chave como o comércio, a energia e a segurança — não resolveu os problemas causados pelo protocolo anterior, que regia as regras comerciais na região desde a saída do Reino Unido da União Europeia.
O acordo anunciado esta terça-feira por Donaldson abre caminho para que o Sinn Féin, que obteve mais assentos em Stormont do que o DUP nas eleições de 2022, assuma o cargo de primeiro-ministro da Irlanda do Norte, que será ocupado por Michelle O'Neill, vice-presidente do partido nacionalista.
A líder do Sinn Féin, Mary Lou McDonald, já manifestou o seu optimismo quanto ao restabelecimento do acordo de partilha do poder antes do fim prazo para a formação de novo governo, que expira a 8 de Fevereiro. “O Sinn Féin irá colaborar com os partidos e com ambos os governos para garantir que todos avancemos sem demora”, garantiu.