Marco Galinha responsabiliza actual administração por crise na Global Media

Antigo accionista maioritário diz não ser aceitável o atraso no pagamento de salários. Afirmou ainda que a actual administração não está neste momento “a cumprir com as suas obrigações”.

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Marco Galinha foi ouvido no Parlamento por causa da crise na Global Media Nuno Ferreira Santos?
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Marco Galinha, accionista e ex-presidente da comissão executiva (CE) do Global Media Group (GMG), responsabilizou nesta terça-feira a actual administração pela crise vivida na empresa que detém vários órgãos de comunicação social em Portugal. Na Assembleia da República, afirmou ainda acompanhar “com perplexidade e profunda preocupação” a situação que pôs fim à “paz social na empresa” e redundou na “desvalorização pública do jornalismo e do GMG.

Galinha acrescentou que o actual accionista maioritário não está neste momento “a cumprir com as suas obrigações” e que irá accionar “os mecanismos para garantir o que foi assinado”. E negou também qualquer responsabilidade pela nomeação dos actuais gestores, nomeadamente o actual presidente da administração, José Paulo Fafe.

Ouvido na Comissão Parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, cuja presença foi requerida pelo BE, Marco Galinha começou por traçar o quadro do período entre 2021 e 2023 em que foi presidente da CE e principal accionista do grupo, garantindo que investiu “16 milhões de euros na empresa” e “subiu 150 salários”.

Assegurando que tentou sempre “salvar” o grupo GMG – que detém títulos como o Jornal de Notícias (JN), TSF, Diário de Notícias (DN), O Jogo ou Açoriano Oriental –,​ Marco Galinha recordou que em 2021 ficou com 40,25% do capital do grupo, “que já vivia momentos difíceis”.

Garantiu ter investido “cerca de 16 milhões de euros” na empresa de media em dois anos. “Numa altura em que Portugal já estava em pandemia, o grupo já vivia em instabilidade. Em 2020, a GMG teve perdas de 12 milhões de euros em receitas, semelhantes às de grupos internacionais.”

Já a dívida bancária, acrescentou, foi reduzida de 68 milhões de euros para menos de um milhão de euros, adiantou Marco Galinha.

O resultado antes de impostos, juros, depreciações e amortizações (EBITDA) passou de 8,5 milhões negativos em 2018 para níveis equilibrados, quer em 2021, quer em 2022 e, em termos de recursos humanos, procedeu-se a uma política de contenção alinhada com o redimensionamento das redacções e o investimento em novas instalações e na rede de transmissores, prosseguiu.

Permitam-me que sublinhe alguns resultados: 16 milhões de investimento, redução da dívida e um EBITDA de dois milhões de euros positivo no início de 2023, sintetizou. No final do primeiro semestre de 2023, a empresa estava com boas perspectivas de futuro, sublinhou ainda o líder do grupo Bel. “Foi sempre a poupar.”

O empresário assegurou ainda que quando chegou ao GMG “já não havia património nenhum”.

“Quem escolheu o Fafe não fui eu”

A venda do grupo ao World Opportunity Fund (WOF), que ficou com a maioria do capital do grupo há cerca de três meses, diz ter sido feita por ser uma boa oportunidade e considerou que o fundo é “idóneo” e com autorização para operar na União Europeia.

Sobre a nomeação de José Paulo Fafe para presidente da CE do grupo, afirmou: “Quem escolheu o Fafe não fui eu, foi o fundo. Fiquei surpreendido? Fiquei. E o fundo também o deve estar, com o momento que o grupo vive. Não percebo como tudo isto aconteceu.”

Galinha considerou mesmo “não ser aceitável o não pagamento de salários e subsídios” e manifestou-se disposto para ajudar a resolver a situação. Disse ainda, sem entrar em pormenores, que o WOF não está neste momento “a cumprir com as suas obrigações” e que irá accionar os mecanismos para garantir o que foi assinado”. “Já apresentámos um plano urgente, mas também precisamos de resposta. É importante que se arranje uma solução”, salientou.

Questionado várias vezes sobre quem são os proprietários do WOF, Galinha nunca o esclareceu. “Não conheço ninguém deste fundo”, garantiu.

O GMG ainda não pagou aos trabalhadores o subsídio de Natal do ano passado nem o salário de Dezembro e os trabalhadores marcaram para esta quarta-feira uma greve geral.

Ao início da noite desta segunda-feira, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) anunciou uma intervenção na situação do grupo. Por um lado, a ERC abriu um processo administrativo autónomo para a aplicação do artigo 14.º da Lei da Transparência, isto é, por incumprimento de deveres de transparência. O regulador considera que “existem fundadas dúvidas sobre se, entre os detentores do WOF, existem participações qualificadas nos termos da Lei da Transparência”.

Também foi aberto um procedimento oficioso de averiguações para esclarecer três situações: se houve uma eventual alteração de domínio dos operadores de rádio não autorizada pela ERC com a entrada do accionista WOF; se houve uma modificação não aprovada pela ERC ao projecto da rádio TSF; bem como verificar as consequências da reestruturação em curso no GMG sobre o pluralismo e a preservação das linhas editoriais dos diferentes órgãos de comunicação social do grupo.

Na comissão parlamentar esteve também a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, e o secretário de Estado do Emprego, Miguel Fontes.

“A Segurança Social estará preparada para accionar o fundo de garantia salarial, caso as empresas recorram ao mecanismo; como sabemos, para isso, é preciso que as empresas accionem os mecanismos necessários para o efeito”, garantiu a ministra.

Já o secretário de Estado afirmou que a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) já está a notificar o GMG pelo incumprimento relativo à falha nos pagamentos dos salários. “Se os pagamentos não foram efectuados, como não foram os salários do mês de Dezembro e o subsídio de Natal, a Global Media está a ser notificada, cada uma das empresas infractoras está a ser notificada, neste preciso momento, pela ACT, da irresponsabilidade em que incorre”, avançou o secretário de Estado.

Luís Bernardo trabalha com GMG

Também nesta terça-feira, o consultor Luís Bernardo, dono da WLP, diz que a empresa que dirige foi contratada para fazer o “plano estratégico” da Global Media e que vai avançar com um processo contra a deputada Joana Mortágua.

Esta informação consta de uma carta enviada ao presidente da Comissão Parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, a que a agência Lusa teve acesso. Na audição parlamentar, Marco Galinha disse desconhecer quais as funções que Bernardo tem no grupo.

Estando em trânsito entre viagens e tendo tomado conhecimento através de notícias publicadas em vários órgãos de comunicação social de que teria sido convidado para estar presente na comissão [...], mas sabendo da impossibilidade de agenda para realizar essa audição face ao término da actual legislatura, considero, contudo, essencial, desde já, dar o presente esclarecimento, começa por escrever Luís Bernardo, que foi assessor de José Sócrates.

Estes esclarecimentos, diz, visam provar que os pressupostos invocados para tal solicitação estão totalmente afastados da realidade e não têm qualquer sentido e fundamento”, referindo-se ainda às declarações da deputada Joana Mortágua, apontando quatro pontos.

Não, não sou accionista, nem exerço qualquer função de administrador ou gestor na GMG, pelo que manifesto a minha perplexidade e estranheza pela forma forçada e artificial com que o meu nome foi referido nessa comissão com base em pressupostos totalmente falsos e caluniosos para tentar sustentar uma ligação ao administrador Paulo Lima de Carvalho, refere Luís Bernardo, no seu primeiro ponto.

O referido administrador foi convidado pelo accionista Marco Galinha num processo de selecção e escolha em que fui totalmente alheio. E este facto, que será certamente testemunhado pelos próprios, por si só, elimina todo o tipo de especulações sobre supostas ligações e segundas intenções invocadas para tentar sustentar a razão da sua entrada para a GMG, prossegue Luís Bernardo.

Além disso, para que fique totalmente claro, apenas e só a empresa de que sou administrador executivo, a WLP, foi convidada pela actual comissão executiva, no âmbito de uma prestação de serviços de consultoria, para apresentar um plano estratégico de futuro para o grupo num quadro de expansão para novos mercados e oportunidade de projectar as marcas, diferentes multiplataformas e potencial digital da GMG, sublinha o consultor. E dá como exemplo o trabalho que a WLP “fez noutras entidades com resultados reconhecidos e nomeadamente na área dos media”.

Luís Bernardo salientou que o trabalho na GMG ainda está em curso, nos prazos solicitados, mas [...] naturalmente está num impasse perante a situação de todos conhecida. [Depois,] mais graves, foram as declarações da deputada Joana Mortágua, que, partindo das funções que exercia enquanto assessor do ex-primeiro-ministro José Sócrates, qualifica e extrapola suspeitas em termos que considero totalmente inaceitáveis, declara.

Nesse sentido, esclarece a deputada que tanto na sua actividade pessoal e profissional desenvolvidas e em curso nunca foi suspeito ou acusado em qualquer processo judicial.

[No âmbito do processo Marquês, que envolve José Sócrates,] nunca fui ouvido, nem sequer como testemunha, pela simples razão de que nada tive que ver com as actividades em apreciação. Pelo contrário, nesse referido processo, o meu nome só surge citado em escutas em que é criticado o facto de eu na altura apoiar de forma explícita a liderança de António José Seguro, argumenta.

A entorse da argumentação é evidente quando em cerca de 15 anos de actividades profissionais ligado ao Governo e [tendo] trabalhado em gabinetes com António Guterres, Pedro Silva Pereira e Manuel Maria Carrilho, e também José Sócrates, obviamente, a declaração da deputada force apenas a referência a José Sócrates, insinuando de forma falsa uma ligação ou proximidade que há mais de uma década não existe, critica.

A esse propósito gostaria de realçar que a senhora deputada durante quatro anos apoiou um governo presidido e constituído por vários ex-ministros, secretários de Estado e assessores de José Sócrates, como também é exemplo precisamente quem neste momento preside à Assembleia da República e que ainda agora se propõe estabelecer entendimentos com um eventual futuro governo PS, onde naturalmente poderão estar presentes dezenas ou centenas de quadros que colaboraram directamente com o ex-primeiro-ministro", continua Luís Bernardo.

[Perante isto] fica claro a falta de sentido material e formal das alegações políticas que fundaram o convite, persistindo a forte dimensão insultuosa das mesmas que será objecto de acções cíveis e criminais nas instâncias próprias em defesa do meu bom nome e reputação, conclui.

Já o administrador executivo do GMG Paulo Lima de Carvalho rejeitou nesta terça-feira ter protagonizado qualquer “interferência editorial” na rádio TSF ou nas publicações do grupo, garantindo que só numa “única situação” procurou “alertar sobre uma notícia errada”.

Num esclarecimento escrito dirigido ao presidente da comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, em resposta a declarações do ex-director da TSF Domingos Andrade feitas na passada quinta-feira numa audição naquela comissão, sobre a actual situação do GMG, o administrador assume a sua “estupefacção” com a associação desta sua intervenção a uma “suposta interferência editorial”.

Já relativamente “à afirmação da suposta relação duvidosa entre as empresas Sentinelcriterion e WLPartner”, Paulo Lima de Carvalho diz que a primeira foi criada entre si e um “amigo de infância”, nomeadamente para “realizar eventos desportivos e de promoção de bem-estar e de saúde dos participantes”, e “acabou por nunca ter uma actividade relevante, tendo sido residual após 2021, e posteriormente cessado a sua actividade”. Com Lusa

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