Paulo Jorge Pereira: “Tenho a certeza que olham para nós de forma diferente”

Selecção portuguesa de andebol iniciou em Rio Maior o estágio de preparação para o Euro, que se realiza em Janeiro, na Alemanha.

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Paulo Jorge Pereira, seleccionador nacional de andebol Reuters/BERNADETT SZABO
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Já não se pode dizer que este é o primeiro dia do resto da vida do andebol português porque este primeiro dia tem-se repetido muitas vezes nos últimos anos. A selecção nacional iniciou nesta terça-feira em Rio Maior o estágio de preparação para o Europeu que se realiza no início do próximo ano, na Alemanha, naquela que será a terceira presença consecutiva no torneio continental. Se somarmos as duas presenças em Mundiais, mais a participação (inédita) nos Jogos Olímpicos, isto significa que Portugal já vai em seis presenças consecutivas nas grandes competições de selecções, sem falhar nenhuma desde 2020.

A presença regular nas grandes competições prova que Portugal já conquistou um certo estatuto no andebol internacional. E isso também se concluiu do facto de ir fazer dois particulares (4 e 7 de Janeiro) com a Alemanha antes do início do Euro a 10 de Janeiro. “Os jogos com a Alemanha é sinal de que já existe um certo respeito por Portugal. Uma selecção como a Alemanha, que vai ter o Europeu em casa, ter convidado a selecção portuguesa é um sinal de crescimento e respeito internacional”, assinala ao PÚBLICO Paulo Jorge Pereira, seleccionador nacional desde 2016.

Mas esse estatuto reconquistado, avisa Paulo Jorge Pereira, não pode conduzir à estagnação. “Não se pode parar. Tudo o que se conquista pode-se perder rapidamente. É preciso continuar a trabalhar para manter esse bocadinho de estatuto que adquirimos nos últimos anos”, reforça o seleccionador nacional, que não gosta muito da expressão “efeito surpresa” aplicada à reentrada do andebol português na alta-roda internacional. “Não lhe chamaria efeito surpresa, mas consigo aceitar esse termo. Tenho a certeza que todos olham para Portugal de forma diferente, pela forma de competir.”

Paulo Jorge Pereira começou a trabalhar em Rio Maior com a grande maioria dos 20 jogadores que chamou para estágio. Destas duas dezenas, irá levar 18 para a Alemanha, um grupo que, em princípio, não irá sofrer alterações. É um grupo que mantém um núcleo de “velhos” conhecidos – 11 repetem a convocatória do último Mundial –, mas com alguns ausentes sonantes, como André Gomes, Victor Iturriza e Fábio Magalhães. Há, ainda, um regressado após ausência prolongada, Gilberto Duarte, lateral do AIX, e um estreante, Fábio Silva, pivot do Artística de Avanca.

A selecção nacional vai competir sempre em Munique nos jogos da primeira fase. O primeiro adversário no Grupo F será a estreante Grécia (11 de Janeiro), seguindo-se a República Checa (13) e a campeã mundial Dinamarca (15). São adversários de níveis diferentes e Portugal, diz Paulo Jorge Pereira, tem de estar preparado para todos eles. “A Grécia vai com aquela ilusão da primeira participação. É preciso jogar sempre bem e, com a Grécia, não será excepção. A República Checa é uma selecção fortíssima, em ascensão, com muitos atletas que jogam na Bundesliga, a melhor liga do mundo. E a Dinamarca, toda a gente conhece, é tricampeã do mundo. Temos de nos preparar muito bem, para chegar ao ‘main round’.”

O “bónus” olímpico

No último Europeu, em 2022, Portugal ficou-se pela ronda preliminar, com três derrotas, duas delas por apenas um golo (32-31 com os Países Baixos e 31-30 com a Hungria). Já no Europeu anterior, em 2020, a selecção portuguesa teve a sua melhor prestação de sempre (6.º), com triunfos sobre superpotências do andebol como a França ou a Suécia. Esse sexto lugar valeu um lugar no torneio de qualificação olímpica para Tóquio, onde Portugal brilhou a grande altura – qualificou-se com um triunfo sobre a futura campeã olímpica França.

É esse o “bónus” que Portugal pode conquistar no Euro, uma qualificação olímpica para Paris 2024 - garantida se for campeão da Europa, ou uma possibilidade de continuar pensar nela com a presença no pré-olímpico de Março. Sabendo-se que França (país anfitrião) e Dinamarca (campeão mundial) já têm lugar reservado nos Jogos, e que Espanha, Suécia, Alemanha, Noruega e Hungria estão garantidos no torneio de qualificação (mas ainda podem, claro, ser campeões da Europa), há duas vagas no pré-olímpico para distribuir neste Europeu.

“Em 2020, ninguém falava de qualificação olímpica. Agora, isso já está na agenda”, reforça Paulo Jorge Pereira sobre a possibilidade de Portugal marcar presença pela segunda vez no torneio olímpico de andebol. “É preciso que todos tenham consciência que é de uma dificuldade extrema, estar entre os 12 melhores de todos os continentes. Creio que subimos um patamar. Os temas em debate são temas muito mais significativos do que antes, que nem falávamos sobre isso. Agora estamos a lutar para estarmos duas vezes presentes. Isto é um bocado louco, mas não vamos virar as costas a esse objectivo.”

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