ONU preocupada com a guerra em Gaza, que pode durar “meses ou anos”
Combates perto da cidade de Gaza desmentem a versão oficial israelita de que controla o Norte do território palestiniano. Bombardeamento de alvos no Sul antecipa ofensiva.
O conflito na Faixa de Gaza não está para acabar tão depressa. Mesmo com toda a pressão internacional para que Israel aceite um cessar-fogo, o Governo israelita insiste que o seu objectivo continua a ser o de acabar com o Hamas e desarmar os palestinianos no território ocupado. Por isso, esta terça-feira, o ministro da Defesa, Yoav Gallant referiu que se trata de “uma guerra longa e dura” que visa fazer pagar a organização palestiniana pelos ataques de 7 de Outubro, quer isso dure “meses ou anos”.
Nos últimos dias, os combates intensificaram-se na zona centro do território ocupado, sobretudo na área situada a sul do rio sazonal que divide a Faixa de Gaza, escreve a Reuters. Na madrugada de terça-feira a aviação israelita bombardeou alvos na zona, levando as Nações Unidas a manifestar a sua preocupação pelo facto de desde noite de consoada a lista de mortos entre os palestinianos superar a centena.
“Estamos extremamente preocupados com o permanente bombardeamento do centro de Gaza pelas forças israelitas, que já causou mais de 100 mortes de palestinianos desde a véspera de Natal”, disse o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Seif Magango, citado pela Reuters. De acordo com o Ministério da Saúde do Hamas no território, o total de palestinianos mortos desde 7 de Outubro supera os 21 mil.
“Não há soluções mágicas, não há atalhos no desmantelamento de uma organização terrorista, só a luta determinada e persistente”, afirmou o chefe do Estado-Maior General das Forças de Defesa de Israel, o general Herzi Halevi. “Vamos chegar à direcção do Hamas, quer demore uma semana, quer demore meses.”
Num artigo de opinião publicado no jornal norte-americano Wall Street Journal na segunda-feira, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reiterou que a ofensiva militar em Gaza só acabará com a destruição do Hamas. Uma vontade inquebrantável que muitos, mesmo em Israel, olham como retórica muito difícil de concretizar.
Esta terça-feira, no diário israelita Haaretz, o major-general na reforma Yitzhak Brik, antigo provedor das IDF, escrevia que a retórica de vitória que as forças armadas têm transmitido em relação à operação israelita em Gaza está longe de corresponder à realidade. E cria uma imagem de vitória que pode “vir a provar-se muito prejudicial para os objectivos” israelitas.
“O porta-voz das IDF e os analistas militares nos estúdios de televisão estão a apresentar uma imagem falsa dos milhares de membros do Hamas mortos e dos combates directos”, escreveu o general, “o número de membros do Hamas mortos pelas nossas forças no terreno é muito mais baixo, a maioria da guerra não está a ser travada directamente”, por isso, “a maioria dos nossos mortos e feridos foram atingidos por bombas e mísseis antitanque”.
No entanto, esta terça-feira, o ministro da Defesa insistiu que a destruição do Hamas é condição sine qua non para Israel: “Sem atingir os objectivos da guerra, encontrar-nos-emos numa situação em que o problema não serão os que vivem perto de Gaza ou que vivem no Norte; o problema será que as pessoas não quererão viver num lugar onde não sabemos como protegê-las."
Por isso, Galant, que falava na comissão de Negócios Estrangeiros do Parlamento israelita, disse que “esta é uma guerra longa e dura” que tem “custos, custos altos”, mas que só poderá acabar com Israel a fazer o Hamas pagar bem caro pelo ataque que deixou 1200 mortos em Israel a 7 de Outubro: “Demore isso meses ou anos.”