Mais de 20 mil mortes na guerra na Faixa de Gaza
Relatório da iniciativa IPC, apoiada pelas Nações Unidas, fala em fome aguda no território palestiniano sujeito a cerco.
A situação na Faixa de Gaza, já catastrófica, tem piorado de um modo que muitos responsáveis não achavam ser possível. “Já perdi a conta das vezes em que pensei que a crise em Gaza não podia ficar mais terrível”, escreveu o secretário-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) Tedros Adhanom Ghebreyesus numa publicação na rede social X. “Mas voltou a acontecer”, declarou, realçando “o facto de estarmos a falar de cerca de 20 mil pessoas mortas, sobretudo crianças e mulheres, e mais do que 52 mil atingidas por ferimentos graves e permanentes em quase três meses”.
O número de mortes na Faixa de Gaza é dado pelo ministério da Saúde, controlado pelo Hamas. Os dados são considerados fiáveis pelas organizações humanitárias e até pelos EUA, aliados de Israel (uma alta responsável dos EUA, Barbara Leaf, disse no Congresso que se falham será por defeito, dada a dificuldade de acesso e de comunicações no território).
Os números não distinguem entre combatentes e não combatentes, nem nos que possam ter sido consequência do que os grupos combatentes chamavam “acidentes de trabalho” – quando um rocket destinado a Israel cai dentro da Faixa de Gaza, como parece ter sido, segundo várias investigações, o caso do projéctil que atingiu o hospital Al Ahli a 17 de Outubro. A esmagadora maioria será, no entanto, consequência de ataques israelitas, a que se pode juntar em breve vítimas de fome e doenças.
Também o diário israelita Haaretz aponta que o número deverá aumentar “em centenas” depois de serem removidos escombros, sob os quais estão ainda pessoas mortas, e ainda os corpos que estão ainda em estradas que estão inacessíveis por causa dos combates.
A OMS declarou esta quinta-feira que já não há qualquer hospital a funcionar por completo no território. Quatro estão a funcionar parcialmente, quatro no mínimo, e 23 estão totalmente inoperacionais. No Norte do território não há um único hospital a funcionar.
A fome é também um enorme problema na Faixa de Gaza, onde a maioria dos cerca de 2,3 milhões de habitantes foram levados a sair das suas casas para cumprir avisos israelitas, para fugir aos combates, ou porque as suas casas foram destruídas nos bombardeamentos que deixaram grande devastação.
Um relatório sobre o grau de fome em Gaza da iniciativa IPC, apoiada pelas Nações Unidas, diz que 90% das pessoas em Gaza estão a enfrentar fome em “níveis de crise”, com uma parte destas – 40% – em situação de emergência e mais de 15% em situação de catástrofe. “Esta é a maior percentagem de pessoas a enfrentar altos graus de insegurança alimentar que a iniciativa IPC já classificou para qualquer zona ou país”. A iniciativa foi criada em 2004.
“Não há situação pior”, disse Arif Husain, director de análise de segurança alimentar do Programa Alimentar Mundial, citado pela Associated Press. “Nunca vi nada na escala do que está a acontecer em Gaza. E nesta velocidade. Aconteceu tão depressa, em apenas dois meses.”
O território estava já sujeito a um bloqueio por Israel, que a 7 de Outubro se tornou draconiano, com ajuda a entrar a conta-gotas e a uma escala insuficiente, têm avisado várias organizações não-governamentais. A Human Rights Watch acusou directamente Israel de usar a fome como arma, um crime de guerra.
Enquanto isso, não era claro o que aconteceria a uma proposta de resolução no Conselho de Segurança da ONU várias vezes adiada – segundo fontes citadas por vários meios de comunicação, havia uma tentativa de chegar a um acordo sobre quem seria responsável pelo controlo do que entra no território. Até agora, o controlo é feito exclusivamente por Israel (mesmo a ajuda que entra através de Rafah, na fronteira com o Egipto, é verificada antes por Israel), e a resolução quereria que este pudesse ser feito por uma outra entidade para evitar atrasos, algo que tem a oposição de Israel e dos EUA.