António Guterres alerta para o “risco acrescido de atrocidades” em Gaza

Forças israelitas centram cada vez mais a sua actividade no Sul de Gaza.

Foto
António Guterres insiste no cessar-fogo REUTERS/Caitlin Ochs
Ouça este artigo
00:00
03:28

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, escreveu, na quarta-feira, ao Conselho de Segurança da ONU alertando para o facto de a ordem pública estar prestes a entrar em ruptura total em Gaza. O português voltou a insistir no pedido de um cessar-fogo ao mesmo tempo que Israel concentra as suas acções no Sul de Gaza.

É a primeira vez que António Guterres recorre a este mecanismo, desde que, em 2017, assumiu a liderança da ONU. "Estamos a enfrentar um grave risco de colapso do sistema humanitário. A situação está a deteriorar-se rapidamente, transformando-se numa catástrofe com implicações potencialmente irreversíveis para os palestinianos no seu conjunto e para a paz e a segurança na região", explicou Guterres na missiva que partilhou na plataforma X.

O artigo 99 permite levar ao conhecimento do Conselho de Segurança qualquer assunto que possa ameaçar a manutenção de paz e de segurança internacionais. No documento, Guterres disse que é expectável que "a ordem pública seja completamente quebrada em breve devido à condição de desespero que se vive em Gaza", na sequência dos constantes bombardeamentos por parte das Forças de Segurança de Israel (IDF).

Segundo escreve a agência Reuters, que cita Riyad Mansour, enviado da Palestina à ONU, um grupo de diplomatas árabes estava a "afinar" um projecto de resolução para pedir um cessar-fogo. Mansour disse que os ministros árabes devem visitar Washington na quinta-feira e discutirão a medida com as autoridades americanas. "No topo da agenda está a necessidade de acabar com esta guerra. Tem de haver um cessar-fogo e tem de ser imediato", disse aos jornalistas.

Os EUA, um dos países com direito de veto, têm demonstrado que não são favoráveis a um cessar-fogo, considerando que tal medida pode beneficiar os militantes do Hamas. Washington, que tem defendido as pausas humanitárias para proteger civis e permitir a libertações dos reféns feitos pelo Hamas, pode, assim, ser um travão no processo de cessar-fogo.

De acordo com as últimas estatísticas disponíveis, já terão morrido mais de 16 mil pessoas em Gaza na sequência da resposta de Israel ao ataque do Hamas a 7 de Outubro. Mais de 40% das vítimas mortais serão crianças.

Israel concentra acções no Sul de Gaza

Depois do brutal assalto ao Norte de Gaza durante Outubro e Novembro, as IDF têm centrado as suas acções no Sul de Gaza e de forma muito particular nas cidades de Khan Younis e Rafah. Em comunicado, citado pelo jornal The Guardian, as IDF assumem que os seus soldados "chegaram ao centro de Khan Younis e iniciaram ataques direccionados ao coração da cidade". "Os soldados eliminaram terroristas, destruíram infra-estruturas terroristas e localizaram armas", diz ainda o comunicado.

Segundo as autoridades médicas palestinianas, citadas pela Reuters, esta quarta-feira, pelo menos nove pessoas foram mortas na cidade de Rafah. A situação nesta região de Gaza é particularmente sensível, já que durante as primeiras semanas do conflito foi para esta zona que se deslocaram milhares de pessoas, aconselhadas por Israel a sair do Norte.

"Os israelitas estão a mentir. Nenhum lugar em Gaza é seguro e amanhã eles virão atrás de nós em Rafah", disse Samir Abu Ali à Reuters. Os aviões de guerra israelitas também bombardearam alvos em toda a faixa costeira densamente povoada, numa das fases mais pesadas da guerra. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou que as IDF estavam a cercar a casa de Khan Younis do líder do Hamas no enclave, Yahya Al-Sinwar. "É apenas uma questão de tempo até o apanharmos", afirmou Netanyahu numa declaração gravada em vídeo.

Sugerir correcção
Ler 6 comentários