Impacto da pandemia na educação e alicerces para recuperar

É hora de agir e reconhecer que o denominador comum entre todos os sistemas educacionais em declínio é a pandemia.

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Vivemos numa era marcada por uma pandemia que teve um impacto significativo no processo de aprendizagem. Desde 2020, a preocupação coletiva tem sido compreender os efeitos dessa crise na educação. Recentemente, os resultados do teste PISA forneceram uma primeira visão abrangente, revelando que praticamente todos os alunos dos países membros da OCDE enfrentaram sérias dificuldades no que se refere à aplicação de conhecimentos para resolver problemas do mundo adulto. Os alunos estão cerca de 9 meses a um ano atrás do esperado.

Em vez de mergulharmos em discursos alarmistas sobre o sistema educacional português, ou de defendermos a rigidez dos exames e uma abordagem baseada em punições, é crucial continuarmos e aprofundarmos o trabalhar de recuperar esta geração. Os estudantes que participaram no PISA 2022 tinham 13 anos quando a pandemia começou. Uma fase da vida na qual se isolam, distanciam dos pais e se sentem melancólicos e incompreendidos. A pandemia empurrou-os para seus quartos, mergulhando-os na solidão e desinteresse pelo mundo ao seu redor. Entre março e maio de 2022, altura em que este teste foi respondido, muitos ainda estavam a lidar com o choque da situação. Para a maioria, o salto abrupto para o 10.º ano foi quase sem terem passado pelo 8.º e 9.º ano.

É hora de agir e reconhecer que o denominador comum entre todos os sistemas educacionais em declínio é a pandemia. Não se trata apenas do número de dias em que as escolas estiveram fechadas, mas sim do medo, das máscaras, das bolhas sociais e da desconfiança generalizada que se instalou.

Ao analisarmos os resultados, percebemos que esse impacto afeta praticamente todos os países e atravessa diferentes estratos socioeconómicos. Os alunos mais privilegiados perderam tanto quanto os demais, seja em escolas públicas ou privadas. Esta foi uma perda profunda. A nossa responsabilidade é garantir que compensamos estes jovens. Eles serão os candidatos aos exames do 11.º ano em junho e devemos oferecer apoio, em vez de esperar pelo desastre para apontar dedos e proclamar "eu avisei".

Entretanto, há dados encorajadores que revelam políticas de inclusão e equidade bem-sucedidas. Os alunos portugueses estão entre aqueles que têm melhores relacionamentos com seus professores e se sentem seguros na escola. Estes indicadores não são influenciados pelo estatuto socioeconómico, a escola manifesta um ambiente inclusivo. Um bom relacionamento professor-aluno é fundamental para que cada um se possa reconstruir e recuperar.

É também notável o declínio no número de alunos que reprovou pelo menos uma vez, que era superior a 30% em 2018 e agora está em torno de 17%. Não vale a pena argumentar que "eles passam sem saber nada". Qual é a taxa de repetição nos países com os melhores resultados, como Japão ou Coreia do Sul? É praticamente zero! Exigência e repetição de ano não estão correlacionados.

O PISA oferece diversos indicadores que merecem análises aprofundadas, que vão além dos simples resultados. Este ano, os resultados foram particularmente importantes, pois finalmente temos uma noção do impacto da pandemia. Contudo, também encontramos esperança nos ambientes escolares positivos e nas políticas que promovem a inclusão e a proximidade entre alunos e educadores. São esses elementos que podem servir de base para a recuperação das aprendizagens e da esperança daqueles que, aos 13 anos, se viram confinados em quartos com portas e janelas fechadas, sem espaço para expandir as asas e voar.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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