PISA: Para lá dos resultados

Que metas é que o PISA, o instrumento da OCDE que de alguma maneira funciona como regulador de políticas educativas, impõe, subliminarmente, ao nosso país?

Foto
"A diversidade sempre fez parte da nossa identidade" Nelson Garrido/Arquivo
Ouça este artigo
00:00
04:11

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O PISA foi publicado no passado dia 5, com as expectativas em alta, uma vez que este relatório integra os resultados em tempo de pandemia. O último PISA tinha sido publicado em 2018. Apesar de Portugal ter descido em geral, a queda das médias por literacia não foi das mais gravosas; não deixa, no entanto, margem para dúvidas de que há medidas a tomar.

Ao contrário daquilo que nos fizeram crer, que os resultados dos nossos alunos tinham melhorado com os confinamentos, isso na realidade não aconteceu e apenas mantiveram os resultados anteriores ou mesmo subiram, os países que mantiveram os confinamentos por curtos períodos de tempo e onde os desníveis socioeconómicos não tem efeito nas aprendizagens a partir de casa, isto significa que os alunos têm o que necessitam para poder ter aulas à distância e que não necessitam de ir à escola para verem as suas necessidades básicas satisfeitas.

Que metas é que o PISA, o instrumento da OCDE que de alguma maneira funciona como regulador de políticas educativas, impõe, subliminarmente, ao nosso país? O que quer dizer, aos nossos professores e aos nossos alunos? Estamos na época em que se fomenta a autonomia das escolas, mas em que a regulação se faz pela escolha da aplicação das boas práticas que levam a que o desempenho dos alunos seja o esperado para ficar na média ou acima da média da OCDE. Em Portugal o objectivo da escola pública é promover o acesso de todos à educação e que tenham sucesso. Como se traduz esse ‘sucesso’ com estes resultados? Como se perspectiva ‘sucesso’ com estes resultados? Qual é o rosto do sucesso para a generalidade dos alunos da escola pública em Portugal?

Dizem-nos que já era esperado que os resultados do PISA tivessem baixado, pois reflectem o período da pandemia. O que aprendemos com a pandemia na educação? Uma das primeiras e principais aprendizagens foi a importância do contacto presencial com os professores para que a aprendizagem aconteça. Isto quer dizer, a valorização do professor como determinante na aprendizagem de sucesso. O que há a fazer para valorizar a profissão docente?

Outra aprendizagem da pandemia acontece mais em jeito de consciencialização: temos um país a vários ritmos no que diz respeito à existência e utilização dos meios tecnológicos e digitais. Muitos foram aqueles que ficaram aquém no processo de aprendizagem devido a falta de meios de comunicação com os professores, com os colegas, com a escola.

Sabemos que a imigração em Portugal tem aumentado muito nestes últimos anos. Somos um país com muita diversidade de população, é certo. Mas esse factor é uma riqueza e não um obstáculo. A sociedade globalizada traduz-se nesta diversidade e sabermos gerir e lidar com a diferença é uma aprendizagem que no nosso país tem tido a sua evolução ao longo dos tempos.

Sabemos que antes da educação vem os cuidados básicos de saúde e bem-estar, como a alimentação e a segurança. A escola não vive isolada do mundo que a rodeia, antes pelo contrário: traz para dentro da escola e concretamente para dentro da sala de aula, a situação económica e social de cada um. A diversidade sempre fez parte da nossa identidade. A mobilidade tem vindo a incentivar a vinda de pessoas de outras geografias para Portugal. É uma realidade com a qual vamos sabendo lidar e aferindo o que queremos para todos os que fazem parte do ‘nós’.

O que resulta da inclusão e de uma escola para todos? Estamos a satisfazer as necessidades básicas, alimentação, saúde, habitação, para que possamos ter a mente disponível para aprender com sucesso?

A inclusão não tem que ser apenas para incluir aqueles que, por defeito, entram no comboio em andamento. Também deve satisfazer as necessidades dos que vão na carruagem da frente e a pensar como se vão conseguir sentar na cadeira do maquinista ou a programar o comboio para ele ir sozinho até ao destino. Aquilo que tem potencial e não se desenvolve, fica desmotivado, paralisado e atrofiado. Educação para todos, precisa-se!

Mais do que facilitar o desenvolvimento de cada aluno com as atuais premissas, como adaptamos o currículo de modo a que as aprendizagens sejam significativas e por consequência sustentáveis?

Fica a pergunta em jeito de alerta: Qual é o impacto dos resultados deste PISA no trabalho dos professores e dos alunos, a curto e médio prazo? Vamos estar vigilantes.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

Sugerir correcção
Comentar