Os “brindes” do bolo-rei da Flor d’Aveiro? Tempo e tradição

A confeitaria já colecciona várias medalhas. A receita é antiga, mas aqui o segredo é não abdicar de produtos de qualidade e de tempo para a massa crescer.

BOLO REI DA PASTELARIA FLOR DE AVEIRO EM AVEIRO
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O bolo-rei da Flor d'Aveiro ADRIANO MIRANDA
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Tempo e tradição ADRIANO MIRANDA
BOLO REI DA PASTELARIA FLOR DE AVEIRO EM AVEIRO
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Uma fornada pronta ADRIANO MIRANDA
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A farinha, as frutas escorridas e os frutos secos “têm de ser de excelência”, sublinha Maria de Lurdes Borralho, uma das mestres pasteleiras responsáveis pela confecção do bolo-rei que foi considerado, mais uma vez, o “melhor dos melhores” no Concurso Nacional de Bolo-Rei Tradicional Português. Até o vinho do Porto e a aguardente são criteriosamente seleccionados, acrescenta, juntando a esta receita um outro ingrediente fundamental: o método. “Há aqueles passos que o nosso bolo-rei tem de, obrigatoriamente, dar. Não é um bolo que se amasse e se coza logo a seguir”, especifica o seu sócio e também mestre pasteleiro, Pedro Santos. Na Flor d’Aveiro o bolo-rei ainda leveda de forma natural, sem estufas, e durante várias horas. “E com pouco fermento, para não alterar o sabor”, vincam.

Curiosamente (ou talvez não), o bolo-rei que esta confeitaria aveirense faz chegar à mesa dos seus clientes não tem quaisquer segredos ou ingredientes extra. “A receita é a tradicional, aquela que aprendi a fazer quando tinha 13 anos”, garante Maria de Lurdes, actualmente com 54 anos – com a morte do pai, teve de começar a trabalhar bem jovem , notando que “são muitos anos a fazer a mesma receita”. A grande mais-valia, acredita, reside no facto de não abdicarem da metodologia artesanal, cuidando de cada fornada desde o momento em que os ingredientes entram para a amassadeira até à entrega ao balcão. “A massa leva cerca de meia hora a amassar e, desde o começo até ao fim, não posso sair dali, porque pode ter de levar mais um bocadinho disto ou daquilo”, testemunha Maria de Lurdes, mais conhecida por Milú. “Até ele sair para o balcão é um bebé do qual temos que cuidar”, enfatiza o sócio.

A confeitaria já colecciona várias medalhas ADRIANO MIRANDA
Este bolo-rei já foi considerado o “melhor dos melhores” ADRIANO MIRANDA / PUBLICO?
Este bolo-rei já foi considerado o “melhor dos melhores” ADRIANO MIRANDA / PUBLICO?
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A confeitaria já colecciona várias medalhas ADRIANO MIRANDA

Por conta deste cunho artesanal, o bolo-rei da Flor d’Aveiro não chega, literalmente, para as encomendas – os clientes que costumam deixar tudo para a última dificilmente conseguirão ter sorte. “Isto é uma pequena empresa, não é uma fábrica”, nota Pedro Santos. Ainda que estejam já a trabalhar 24 horas por dia – em turnos de 12 horas cada um – Milú e Pedro, e as respectivas equipas, têm um limite estabelecido de “mais ou menos 300 unidades de bolo-rei por dia”. “O que acontece é isto: as pessoas que já não conseguem para o dia 24, antecipam a sua encomenda para o dia 23 ou até mesmo para 22”, referem.

Com tantos dias e noites passados de volta do bolo-rei é caso para perguntar: na noite de Consoada ainda têm vontade de comer este doce? “Eu ainda o provo”, garante Pedro, antes de a sua sócia revelar que costuma fazer um bolo-rei especial para cada um deles, “só com pinhão e casca de laranja”. “Fica fantástico e até já me disseram que podia enviá-lo para um concurso, na parte da inovação, mas depois tinha de o vender a uns 50 euros o quilo, por causa do preço a que está o pinhão”, relata Milú.

Uma dedicação várias vezes premiada

A cada época natalícia, a Flor d’Aveiro produz milhares de bolos-reis, a par de tantas outras iguarias da época também elas já devidamente premiadas: o bolo-rainha, o bolo-rei escangalhado e as broinhas castelar. As contas são difíceis de fazer, tanto no que toca à quantidade de doces produzidos por alturas do Natal, como no que aos prémios diz respeito. “Só o ‘melhor dos melhores’ já ganhámos seis vezes, fora os outros prémios”, refere a dupla de mestre pasteleiros que se conheceu, há mais de 20 anos, a trabalhar numa outra pastelaria daquela região.

A Fugas assistiu à preparação ADRIANO MIRANDA
A Fugas assistiu à preparação ADRIANO MIRANDA
A Fugas assistiu à preparação ADRIANO MIRANDA
A Fugas assistiu à preparação ADRIANO MIRANDA
A Fugas assistiu à preparação ADRIANO MIRANDA
A Fugas assistiu à preparação ADRIANO MIRANDA
A Fugas assistiu à preparação ADRIANO MIRANDA
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A Fugas assistiu à preparação ADRIANO MIRANDA

Quando teve a oportunidade de ter a sua própria confeitaria, Pedro Santos, actualmente com 48 anos, fez questão de ter “uma pessoa à altura” ao seu lado, acabando por desafiar a antiga colega de trabalho a entrar para o negócio – já lá vão 24 anos. O que os une? A dedicação à profissão. “Temos muita paixão por isto e estamos sempre a inovar”, declaram os mestres pasteleiros, que também vão dando a forma a castanhas de ovos, papos de anjo, galantines de frutas e Morgados do Bussaco, entre muitas outras irresistíveis tentações. “E também temos os nossos biscoitos, os alemães, os fidalguinhos e, neste momento, estamos a fazer bolachas de gengibre para o Natal”, destaca Milú.

O importante é tentar estar sempre à frente —​ mas “nunca descurando a base da doçaria conventual e tradicional portuguesa”, sublinha Pedro — e continuar a brindar a clientela com uma grande variedade de iguarias. Talvez isso ajude a explicar o sucesso alcançado pela Flor d’Aveiro, confeitaria que já ganhou uma ramificação em Coimbra, num espaço que recebeu o nome de Doce Meu e ao qual fazem chegar, também, “o melhor dos melhores” bolos-reis, entre outras estrelas da casa. Na cidade da ria ou na dos estudantes, o importante é respeitar o que é genuíno, referem.

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