Costa do Marfim é o mais recente país a rejeitar a presença militar francesa
Presidente marfinense anunciou os mil soldados que França tem no país começarão a ser retirados já em Janeiro. O Chade também acabou com a cooperação e os militares franceses saem até ao final do mês
Após o Governo do Chade ter posto um ponto final na cooperação militar com França a 28 de Novembro, Paris recebeu mais uma má notícia para a sua presença e influência na África Ocidental e central no último dia do ano, o Presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, anunciou que o contingente militar francês vai deixar o seu país este ano e o processo começa já em Janeiro.
No seu discurso de fim de ano, Ouattara disse que os marfinenses devem estar orgulhosos da modernização do seu exército, pois a sua capacidade actual permite prescindir do apoio militar permanente de França. “Neste contexto, decidimos uma retirada coordenada e organizada das forças francesas”, afirmou o chefe de Estado. Ouattara explicou que o quartel militar francês de Port-Bouët será transferido para o comando do exército marfinês durante este mês de Janeiro.
Para Emmanuel Macron, que julgava ter feito evoluir a relação entre a França e as suas ex-colónias, extirpando os resquícios de neocolonialismo com uma abordagem entre pares, esta é mais uma demonstração de que a influência geopolítica francesa é coisa do passado e que os vínculos históricos e culturais contam menos que a visão pragmática sobre o novo xadrez mundial onde a França é uma peça secundária.
A França já se vira obrigada a retirar os seus militares do Mali, Burkina Faso e Níger, antes da decisão do Chade e resolvera, entretanto, reduzir o número do seu contingente militar na África Ocidental e central dos actuais 2200 para 600. Os soldados franceses retiraram de uma primeira base chadiana, em Faye, no extremo norte do país, cujo controlo foi entregue às autoridades militares locais.
O Chade era considerado até há bem pouco tempo um dos principais aliados do Ocidente na luta contra o jihadismo, pelo que a decisão do Presidente chadiano, Mahamat Idriss Déby Itno, não deixou de envolver um certo grau de surpresa. Na sua mensagem de fim de ano, o chefe de Estado reafirmou estar convicto da sua decisão de romper os acordos militares com a França por uma questão de soberania. E com um calendário apertado para uma ruptura histórica, como lhe chama a imprensa francesa: até 31 de Agosto, a retirada militar do contingente francês deve estar terminada.
“A França é um parceiro essencial, mas agora também deve considerar que o Chade cresceu e amadureceu, e que é um Estado soberano muito cioso da sua soberania”, disse o ministro dos Negócios estrangeiros chadiano, Abderaman Koulamallah, citado pelo Le Monde.
Depois da saída da Costa do Marfim e do Chade, a França fica apenas com presença militar no Senegal, no Gabão e no Djibuti. No entanto, no Senegal, a presença militar francesa parece igualmente a prazo.
A 28 de Novembro, o Presidente Bassirou Diomaye Faye afirmou, numa entrevista à televisão francesa, citada pela BBC, ser contra o facto de a França ter uma base militar em solo senegalês por uma questão de soberania: “Como francês, alguma vez pensaria em ver-nos no seu país, com tanques e soldados senegaleses? Se inverter um pouco os papéis, terá muita dificuldade em imaginar que outro exército, a China, a Rússia, o Senegal ou qualquer outro país possa ter uma base militar em França.”
Garantindo que ainda não há qualquer prazo para a retirada dos cerca de 350 militares franceses estacionados no seu país, o Presidente senegalês avisou que o mesmo está a ser considerado e que “as autoridades francesas serão as primeiras a saber, de acordo com o calendário estabelecido”.