Daniel Adrião, o solitário opositor, vai outra vez a votos

Durante os anos de costismo, foi o rosto da única oposição organizada dentro do PS. Recandidata-se novamente porque não vê nos outros candidatos qualquer “virar de página”.

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Daniel Adrião volta a candidatar-se a secretário-geral do PS Rui Gaudencio
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Daniel Adrião, um empresário que já foi presidente da concelhia do PS-Alcobaça, candidata-se pela quarta vez a secretário-geral. Foi o rosto da única minoria organizada durante todos os nove anos do “costismo”.

Em 2016, elegeu 18 militantes da sua ala para a Comissão Nacional do PS, contra 233 da lista oficial de António Costa. Em 2018 aumentou para 28 elementos a representação da sua tendência na Comissão Nacional do PS, contra os 223 da lista liderada pela ministra Ana Catarina Mendes. Acabou por sentar na Comissão Política do partido 10 eleitos. Em 2021, no Congresso de Portimão, Costa patrocinou uma “lista consensual” onde integrou 28 elementos propostos pela ala de Daniel Adrião.

Foi, verdadeiramente, o único opositor declarado de António Costa a apresentar moções contra o líder. A “ala direita” estava afastada dos órgãos (no caso de Francisco Assis) ou foi-se tornando irrelevante no aparelho partidário. Quanto ao “pedronunismo”, foi sempre uma subdivisão geracional dentro do “costismo”: por exemplo, um dos homens de maior confiança de António Costa – Duarte Cordeiro, que foi seu director de campanha – é também, na prática, o número 2 de Pedro Nuno Santos.

Adrião ficou completamente sozinho, numa espécie de luta de David contra Golias. Vai a jogo desde 2016, no segundo Congresso do PS já sob a liderança de António Costa. Não se queria candidatar desta vez, como confessou à Lusa em 18 de Novembro. “Esperei até hoje que surgisse uma candidatura que representasse um virar de página no partido. Mas isso não aconteceu e só apareceram dois candidatos de continuidade para um ciclo político novo”, disse na altura.

Na sua moção, Daniel Adrião defende a mudança no sistema eleitoral, um dos seus objectivos de sempre: a defesa da realização de primárias para a constituição das listas de deputados, por exemplo, como já acontece no partido Livre. E abdica da indicação de deputados – caso viesse a ser eleito secretário-geral, algo que não é de todo provável. José Luís Carneiro dá mais poder às bases quando anunciou, no sábado, que 50 por cento dos deputados das próximas eleições serão escolhidos pelas concelhias e distritais caso seja ele a vencer a corrida a secretário-geral.

Daniel Adrião continua preocupado pela mistura de funções entre partido e Estado. “O aparelho partidário confunde-se cada vez mais com o aparelho do Estado e assiste-se a um exercício pouco transparente da nomeação de quadros partidários para altos cargos na Administração Pública”, escreve. E garantiu que se fosse nomeado primeiro-ministro abandonaria o cargo de secretário-geral do PS, divisão que já acontece em outros países.

Ao contrário dos outros dois candidatos, que são omissos sobre o que foi este ano e meio de maioria absoluta do PS, Daniel Adrião escreve: “O Governo do PS viu-se envolvido em apenas dois anos em mais de uma dezena de casos de suspeição em matéria de integridade que fizeram do partido e dos seus quadros e das suas escolhas e opções políticas e medidas um alvo fácil de ataque político em termos de credibilidade e confiança.”

A grande verdade é que foi o único que, sozinho, lutou nos órgãos partidários contra o “unanimismo”. “Ao longo dos últimos sete anos não nos deixámos condicionar por uma mensagem de fácil, cómodo e conveniente unanimismo em torno do líder do partido. Soubemos trazer novas ideias e moções e estratégias alternativas que valorizaram a discussão interna e a pluralidade do pensamento dentro do partido.”

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