O Portugal Fashion está de volta para mais uma “edição de compromisso”, a partir desta terça-feira, 10 de Outubro. Não têm sido tempos fáceis para o evento de moda do Porto que anunciou, há um ano, a ausência de fundos europeus para continuar a realizar o evento. Ainda assim, têm resistido e serão palco de mais 30 desfiles e apresentações até ao próximo sábado, no Museu do Carro Eléctrico.
Na última edição, em Março, a Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), que organiza o PF, assinou um memorando de entendimento com a Universidade Católica Portuguesa e a consultora Deloitte para planear os próximos anos do evento, com vista a depender menos dos fundos comunitários. Ainda não há conclusões do relatório, avança a directora do PF, Mónica Neto, ao PÚBLICO, que diz esperar ter novidades “até ao final do ano”.
A ideia é que as conclusões sejam aplicadas na edição de Março de 2024 da semana de moda do Porto, fundada em 1995, com foco na internacionalização da moda de autor portuguesa e na sua ligação à indústria ─ o que a distingue da ModaLisboa, evento-irmão. “A base deste estudo é encontrar fontes de financiamento alternativas”, resume, sem revelar mais detalhes sobre quando estarão disponíveis os fundos europeus.
Enquanto isso não acontece e não abrem as candidaturas para o Portugal 2030, a ANJE avança para mais uma “edição de compromisso”, como lhe chamam, a 53.ª do PF. “Continuamos em esforço e conseguimos avançar com o evento devido ao apoio institucional e a parceiros estratégicos”, explica. São eles a Câmara Municipal do Porto, o El Corte Inglés, o Outlet de Vila do Conde ou o Afreximbank, que financia o projecto Canex, responsável por trazer criadores africanos ao PF.
Uma vez mais, o orçamento previsto para a realização do evento é de 450 mil euros ─ antes desta crise realizavam o certame com 900 mil euros. “À boa maneira do Porto, tentamos que isso não se espelhe na nossa operação. Há um esforço maior do desenvolvimento de parcerias, mas reduzimos o investimento em algumas áreas, como o marketing”, esclarece Mónica Neto.
Face à redução de orçamento, o PF deixou a Alfândega do Porto, que, durante muito tempo, foi casa do evento. Desta vez, os desfiles vão acontecer no Museu do Carro Eléctrico, que está instalado na antiga central termoeléctrica de Massarelos. “Tem uma mensagem interessante entre o passado e o futuro, além da beleza arquitectónica associada.”
Ausências do calendário
Fruto da suspensão dos fundos comunitários, que suportavam cerca de 50% do orçamento de cada edição e apoiavam a internacionalização, o PF não tem participado nas semanas de moda internacionais, o que prejudica o negócio dos criadores, reconhece Mónica Neto. “É algo que tem feito mossa. Há processos de credibilização e parcerias internacionais que ficaram afectados pela instabilidade de presença.”
Ainda assim, garante, continua a ser feito um esforço para internacionalizar o evento e a moda portuguesa, a partir do Porto. Em todas as edições, há um showroom onde os designers expõem as colecções, para promover algumas vendas. Além disso, a organização convida cerca de 15 compradores internacionais. Este ano, revela Mónica Neto, até estará presente um comprador das Galerias Lafayette, algo que a organização já ambicionava há vários anos.
O evento vai dividir-se ao longo de cinco dias, a começar com iniciativas institucionais. O primeiro dia de desfiles acontece na quarta-feira com o Bloom, a plataforma do PF dedicada aos jovens criadores, com destaque para Andreia Reimão, House of Wildflowers e Ahcor, a marca de Sílvia Rocha.
De quinta-feira a sábado, reservam-se as apresentações de dez criadores do programa Canex, além dos habituais Carolina Sobral, Estelita Mendonça, Luís Onofre, Alexandra Moura, Miguel Vieira, Pedro Pedro, Pé de Chumbo ou Susana Bettencourt. Mónica Neto destaca a estreia de Judy Sanderson, a designer sul-africana, que escolheu o Porto para viver e sediar a sua marca.
É impossível não notar a ausência de nomes sonantes no calendário, a que o PÚBLICO teve acesso em primeira mão. A dupla mais internacional da moda portuguesa, Marques’Almeida, não vai apresentar nesta edição. A marca de Marta Marques e Paulo Almeida preferiu priorizar a presença internacional, prescindindo do “esforço de apresentar no Porto”, esclarece Mónica Neto.
Já os Manéis, como é conhecida a dupla Alves/Gonçalves, de Manuel Alves e José Manuel Gonçalves, também não fará desfile. “É uma decisão do contexto deles, porque estão a desenvolver um projecto de fardamento”, justifica a responsável, lamentando as “ausências do calendário”, onde também se enquadram Katty Xiomara ou Maria Gambina. Já Diogo Miranda, que também era um dos nomes fortes do PF, deixou a moda em Junho deste ano.
Para fazer face à instabilidade da moda de autor, Mónica Neto diz ser preciso apoiar mais os criadores no lado empresarial, algo que ser também missão do PF. “Por algum motivo nascemos numa associação empresarial”, lembra, considerando que “faz falta investimento externo na criatividade”.
Como solução, propõe colaborações entre empresas e os criadores, algo que já tem sido explorado timidamente, como aconteceu em Nuno Baltazar ou Dino Alves na ModaLisboa e também será o mesmo com o jovem Ariev no Portugal Fashion. “Esta sinergia pode ser uma das apostas futuras”, termina.