O que fazer depois de um enfarte do miocárdio?

Em Portugal, não existem normas oficiais nacionais que definam qual deve ser o seguimento destes doentes.

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É importante que os doentes tenham acesso a um programa de reabilitação cardíaca Andrea Piacquadio/Pexels
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Também em Portugal, o Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM) é uma das grandes causas de morbilidade e mortalidade, sendo fundamental o seu tratamento rápido e eficaz, razão pela qual existe uma rede de referenciação na área de cardiologia (Via Verde). O correto acompanhamento do doente dentro do hospital e após a alta são fundamentais para evitar a recorrência de um EAM, o que ocorre em cerca de 20% dos casos nos primeiros 12 meses.

Em Portugal, não existem normas oficiais nacionais que definam qual deve ser o seguimento destes doentes. As orientações clínicas de outros países e das sociedades internacionais de cardiologia recomendam um programa de reabilitação cardíaca, programa multidisciplinar e multicomponente (nutrição, exercício, controlo de fatores de risco, adesão à terapêutica, aconselhamento, gestão de stress), iniciado tão cedo quanto possível (ainda no internamento) e o acompanhamento de proximidade por cardiologista, sendo fundamental assegurar o atingimento dos alvos terapêuticos, face ao perfil de risco cardiovascular do doente, definidos pelas sociedades científicas, por forma a garantir a prevenção secundária destes doentes.

Um estudo recente mostrou que, em Lisboa e no Porto, existem programas de reabilitação cardíaca que permitem realizar adequadamente prevenção secundária, contudo outros grandes hospitais, fora destes centros urbanos, têm a impossibilidade ou a dificuldade em garantir o acesso a um programa de reabilitação cardíaca aos seus doentes, pela distância dos centros de reabilitação e pela dificuldade em disponibilizar os recursos necessários a programas deste género.

Maior problema têm os hospitais mais pequenos e menos especializados, muitas vezes sem equipa de cardiologia disponível e altamente limitados na sua capacidade de oferecer o melhor acompanhamento dos seus doentes e equipas de cardiologia preparadas para fazer um seguimento proativo dos doentes após a alta.

Como resposta ao cenário atual, e de forma a prevenir a reincidência do EAM, foi desenvolvido um estudo que analisou a realidade nacional nos diferentes tipos de centros hospitalares (níveis 1, 2 e 3) de forma a identificar os principais desafios existentes atualmente e propor recomendações para uma melhor gestão dos doentes no pós-enfarte. Este estudo é uma iniciativa IQVIA, com apoio da Amgen e com o apoio técnico-científico de uma comissão científica constituída por cardiologistas reconhecidos neste domínio, como Eduardo Infante de Oliveira, Filipe Macedo, Hélder Pereira, Ricardo Fontes de Carvalho, bem como com a revisão pelas coordenadoras do Grupo de Estudos de Risco Cardiovascular (GERC), Ana Abreu, e do Grupo de Estudo da Fisiopatologia do Esforço e Reabilitação Cardíaca (GEFERC), Luisa Bento, da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.

Este projeto resultou em algumas recomendações para o seguimento destes doentes no futuro, tendo em conta as indicações internacionais e as melhores práticas no país: Consultas de Cardiologia regulares (um mês, seis meses e um ano) no primeiro ano após o enfarte, de modo a garantir a recuperação e evitar a ocorrência de um novo evento cardíaco (enfarte ou morte); um programa estruturado de reabilitação cardíaca, conduzido por uma equipa multidisciplinar de profissionais de saúde; acompanhamento do doente após a alta; e consulta regular com médico de família, para ajuste de terapêutica e controlo de fatores de risco ao longo da vida.

Ainda no âmbito do mesmo projeto, uma equipa de peritos construiu uma lista de indicadores essenciais para avaliar os doentes após enfarte, que permitirão acompanhar as estratégias implementadas e os resultados em saúde.

Uma rede nacional de Centros de Reabilitação Cardiovascular ligados aos Hospitais e Centros de Saúde poderá melhorar significativamente a prevenção secundária em Portugal, sendo seguramente uma estratégia custo-eficaz, como já demonstrado em vários países.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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