Francisco J. Marques e Diogo Faria recorrem das condenações no caso dos emails

Portistas entendem que o Benfica não pode ser considerado ofendido neste caso, questionando a legitimidade dos “encarnados” em apresentar queixa.

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Os directores do FC Porto Francisco J. Marques e Diogo Faria recorreram das condenações pela divulgação de emails no Porto Canal e contestam a legitimidade de o Benfica apresentar queixa, segundo documento a que a Lusa teve acesso esta quarta-feira.

Nos recursos, ambos os directores portistas entendem que "o Benfica não pode ser considerado ofendido neste crime, logo não podia ter apresentado queixa, pelo que o procedimento criminal iniciou-se com violação das regras da legitimidade".

Durante o julgamento, que decorreu em Lisboa, o advogado Nuno Brandão pediu a absolvição do director de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, seu constituinte, considerando que o Ministério Público (MP) "não tinha legitimidade" para investigar com base numa queixa ilegítima.

Nuno Brandão argumentou, na altura, que "os ofendidos poderão ser apenas as pessoas proprietárias das contas de e-mail", acrescentando: "Seriam as pessoas individuais que teriam legitimidade para apresentar queixa por acesso ilegítimo às suas caixas de email, tiveram seis meses para o fazer e não o fizeram".

Nos recursos, Francisco J. Marques, condenado a um cúmulo jurídico de um ano e 10 meses de prisão, com pena suspensa por igual período, e Diogo Faria, punido com nove meses de prisão, com pena suspensa durante um ano, referem que "a divulgação dos emails correspondeu ao exercício legítimo dos direitos fundamentais, com protecção na Constituição da República Portuguesa, liberdade de expressão e de informação".

"Existia inegável interesse público a suportar a divulgação [dos emails]", referem os recursos, acrescentando que "foi com base nesses mesmos e-mails que foram abertos processos-crime visando Benfica (suspeitas de corrupção na arbitragem)" e considerando que os mesmos "revelam suspeitas fundadas de actuações à margem da lei, dos regulamentos e da ética, aptas a desvirtuar a sã competição desportiva, materializadas em ofertas indevidas a agentes desportivos, relações de promiscuidade entre estes agentes e até entre treinadores, árbitros e jogadores".

O director de comunicação do FC Porto foi condenado por um dos seis crimes de violação de correspondência ou de telecomunicações de que estava acusado, e por dois dos quatro crimes de ofensa a pessoa colectiva pelos quais respondia.

No mesmo julgamento, que terminou em 12 de Junho, Diogo Faria, director de conteúdos do Porto Canal, foi condenado por um crime de violação de correspondência ou telecomunicações.

Nos seus apelos, os dois directores do FC Porto, que foram ambos absolvidos do crime de acesso indevido, destacam o facto de o Ministério Público "não ter apresentado recurso em relação a nenhuma das absolvições".

Na semana passada, o Benfica, que se constituiu assistente no processo, recorreu da decisão, considerando que Francisco J. Marques e Diogo Faria "devem ser condenados por todos os crimes dos quais vinham acusados e pronunciados".

O caso da divulgação dos emails remonta a 2017 e 2018, com comunicações entre elementos ligados à estrutura de Benfica e terceiros a serem reveladas no programa "Universo Porto – da bancada", do Porto Canal.