Covid-19: Vacina com nova tecnologia pode proteger de vírus futuros

Os ensaios em seres humanos estão actualmente em curso no Reino Unidos, nomeadamente em Cambridge.

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O coronavírus SARS-CoV-2 NIAD/RML

Cientistas da Universidade de Cambridge desenvolveram uma vacina preparada para o futuro, com uma estrutura antigénica única que confere protecção contra todas as variantes conhecidas do vírus SARS-CoV-2, que causa a covid-19, bem como de outros coronavírus.

Os estudos desenvolvidos pela Universidade de Cambridge e pela DIOSynVax, empresa criada na sequência da investigação, no início de 2020, sugerem que uma única vacina com combinações desses antigénios elementos que levam a que o sistema imunitário produza anticorpos poderia proteger contra uma gama ainda maior de coronavírus actuais e futuros.

Segundo os resultados da investigação, publicados esta segunda-feira na revista Nature Biomedical Engineering, a tecnologia de antigénio da vacina forneceu protecção contra todas as variantes conhecidas do SARS-CoV-2, bem como outros coronavírus, incluindo aqueles que causaram a primeira epidemia de SARS (síndrome respiratória aguda severa) em 2002.

Os estudos em ratos, coelhos e porquinhos-da-índia um passo importante antes de iniciar os ensaios clínicos em humanos, actualmente em curso em Southampton e Cambridge descobriram que a candidata a vacina proporcionou uma forte resposta imunitária contra uma série de coronavírus, visando as partes do vírus que são necessárias para a replicação, refere a investigação, adiantando que a vacina candidata baseia-se num único antigénio digitalmente concebido e imunologicamente optimizado.

Embora tenha sido desenvolvida antes do surgimento das variantes Alfa, Beta, Gama, Delta e Ómicron do SARS-CoV-2, a vacina forneceu uma forte protecção contra todas estas variantes e contra outras mais recentes, sugerindo que as vacinas baseadas nos antigénios DIOSynVax também podem proteger contra futuras variantes do SARS-CoV-2.

“Um ponto de viragem”

A DIOSynVax (vacina sintética optimizada imunologicamente por via digital) usa uma combinação de biologia computacional, estrutura de proteínas, optimização imunológica e biologia sintética para maximizar e ampliar o espectro de protecção que as vacinas podem fornecer contra ameaças globais, incluindo surtos de vírus existentes e futuros.

Desde o surto de SARS em 2002, a migração de coronavírus dos animais para os seres humanos tem sido uma ameaça para a saúde pública e exige vacinas que proporcionem ampla protecção.

Na natureza, existem muitos destes vírus à espera que aconteça um acidente, afirma, citado num comunicado da universidade sobre a investigação, Jonathan Heeney, do Departamento de Medicina Veterinária de Cambridge, que liderou este trabalho, salientando que o objectivo era criar "uma vacina que não só protegesse contra o SARS-CoV-2, mas também contra todos os seus parentes".

Todas as vacinas actualmente disponíveis, como a vacina contra a gripe sazonal e as vacinas contra a covid-19 existentes, baseiam-se em estirpes ou variantes do vírus que surgiram em algum momento no passado.

No entanto, os vírus estão a sofrer mutações e a mudar o tempo todo, diz Jonathan Heeney, cuja equipa está a desenvolver uma nova abordagem para as vacinas contra os coronavírus, visando seu "calcanhar de Aquiles". Ou seja, em vez de visar apenas a proteína spike (ou da espícula) do vírus, que o vírus utiliza para se ligar às células humanas e que muda para escapar ao sistema imunitário, a vacina de Cambridge tem como alvo as regiões críticas do vírus de que este necessita para completar o seu ciclo de vida.

A equipa identifica estas regiões através de simulações em computador e da selecção de antigénios estruturalmente manipulados. Esta abordagem permite-nos ter uma vacina com um efeito alargado, que os vírus terão problemas em contornar, diz Jonathan Heeney.

O antigénio optimizado é compatível com todos os sistemas de administração de vacinas: Ao contrário das vacinas actuais, que usam vírus selvagens ou partes de vírus que causaram problemas no passado, esta tecnologia combina lições aprendidas com os erros da natureza e visa proteger-nos do futuro, salienta, considerando que se trata de um verdadeiro ponto de viragem.