Russell Brand acusado de abusos sexuais. BBC diz que vai investigar “urgentemente”

Os abusos a quatro mulheres terão acontecido entre 2006 e 2013, período durante o qual o actor apresentava programas na estação pública britânica. Brand continua a negar todas as acusações.

Foto
Russell Brand em 2014 Reuters/Suzanne Plunkett

A BBC disse estar a “analisar urgentemente as questões” levantadas pelas acusações de abuso sexual feitas contra o actor e comediante britânico Russell Brand, que trabalhava na estação televisiva nos anos em que terão ocorrido os crimes. Até agora, Brand tem negado insistentemente todas as acusações.

O actor, de 48 anos, rotulou, neste sábado, as acusações de “alegações muito sérias e criminosas”, apontando o dedo à imprensa de contar falsidades, horas depois de o jornal The Times e o programa de investigação jornalística Dispatches (Channel 4) ​terem revelado as histórias de quatro mulheres que acusam Russell Brand de abusos. Brand defende, num vídeo partilhado no Instagram,​ que todas as suas relações, ainda que "promíscuas", foram "absolutamente consensuais”.

Os casos que são reportados terão ocorrido entre 2006 e 2013, nos Estados Unidos. Uma das mulheres conta ter sido violada por Brand, em 2012, na casa do comediante em Los Angeles, na Califórnia. Nesse mesmo dia, diz ter procurado ajuda médica num centro de tratamento para vítimas de violação. Outra jovem denunciou ter sido abusada quando tinha 16 anos e ainda estava na escola — o actor teria 31 anos e “forçou o seu pénis pela garganta” da menor.

A BBC está envolvida no escândalo, dado que o comediante trabalhou em programas de rádio e televisão da estação. “O documentário e os relatórios associados contêm alegações graves, que se estendiam por vários anos. Russell Brand trabalhou em programas de rádio da BBC entre 2006 e 2008 e estamos a analisar com urgência as questões levantadas”, garantiu um porta-voz da empresa.

A produtora Banijay diz que também iniciou “uma investigação interna urgente”, para averiguar se alguma da “má conduta” de Brand aconteceu entre 2004 e 2005, quando o britânico apresentava um dos programas produzidos pela então Endemol.

O caso ainda não chegou à justiça, mas já está a ter implicação na carreira de Russell Brand. A associação Trevi, que apoia vítimas de violência e abuso, diz ter cortado todas as ligações ao actor, que chegou a ser um dos embaixadores da causa. Também a agência de talentos Tavistock Wood garante ter “terminado todas as ligações profissionais a Brand”.

Até agora, a Polícia Metropolitana de Londres não recebeu quaisquer queixas sobre as alegações levantadas pela investigação jornalística. “Se alguém acredita ter sido vítima de abuso sexual, não importa há quanto tempo, encorajamos a contactarem a polícia”, pedem as autoridades, em comunicado.

Contudo, os políticos britânicos exigem à Polícia que abra um inquérito imediato ao actor, avança o The Guardian. “Espero sinceramente que sejam apresentadas queixas à polícia metropolitana e também nos Estados Unidos. Isto merece uma investigação criminal, porque, durante demasiado tempo, vimos homens — e os autores deste tipo de crimes são quase invariavelmente homens — não serem responsabilizados pelos seus comportamentos e pelas suas acções”, declarou Caroline Nokes, deputada do comité da igualdade e mulheres do Partido Conservador.

Foto
Katy Perry e Russell Brand em 2011 DANNY MOLOSHOK/Reuters

Quem é Russell Brand?

Aos 48 anos, o actor atingiu o pico da fama quando casou com Katy Perry, em 2010. Foram casados apenas durante 14 meses, mas foi o suficiente para colocar o britânico debaixo dos holofotes. Antes disso, era conhecido sobretudo no Reino Unido pelo activismo político de esquerda e por ter apresentado o Big Brother, o conhecido reality show.

A carreira de Brand recua até 2000 quando começou a fazer comédia no teatro Hackney Empire, em Londres. Muito do conteúdo para as piadas provinha da sua experiência pessoal de toxicodependência e vício de sexo — temas sobre os quais fala abertamente e detalhou na autobiografia My Booky Wook de 2008.

Uma das primeiras controvérsias em que Brand esteve envolvido aconteceu em 2001, quando foi despedido de apresentador na MTV, por ter aparecido vestido de Osama bin Laden no dia 12 de Setembro — o dia a seguir aos ataques das Torres Gémeas. Mais tarde, havia de admitir que estava sob a influência de heroína nesse dia.

No cinema, só chegou ao papel principal em Arthur (2011), ao lado da consagrada Helen Mirren, mas notabilizou-se noutros filmes como Um Belo Par... de Patins (2008) ou A Idade do Rock (2012). Nos últimos anos, tem estado afastado da sétima arte ou da televisão e aventurou-se no mundo das conspirações com vídeos publicados nas redes sociais sobre temas como corrupção, jornalismo, a pandemia de covid-19 ou sobre “como os homens estão a ser afectados pelas novas normas de género”.