Pai de Mahsa Amini impedido de sair de casa no aniversário da morte da filha

Cidade-natal da mulher que esteve na origem do maior movimento de protesto iraniano dos últimos anos está neste sábado sob forte dispositivo de segurança.

Foto
Uma homenagem a Mahsa Amini esta noite numa universidade em Nova Delhi, na Índia ANUSHREE FADNAVIS/Reuters
Ouça este artigo
00:00
04:07

O pai de Mahsa Amini foi detido este sábado em casa na cidade de Saqez, para onde as forças policiais mobilizaram um forte dispositivo de segurança, no dia em que se assinala o primeiro aniversário da morte da mulher de 22 anos enquanto estava sob custódia policial que mobilizou um ano de protestos no Irão.

Amjad Amini preparava-se para sair de casa quando agentes dos serviços secretos o detiveram e informaram de que não podia ir visitar a campa da filha, segundo o IranWire. Uma organização de direitos humanos curda, citada pela Reuters, acrescenta que Amjad terá sido proibido de sair de casa e de participar na celebração fúnebre prevista para este sábado. Os pais de Mahsa tinham anunciado a meio da semana que iam organizar uma cerimónia religiosa em memória da filha.

Logo a seguir à detenção, muitos residentes de Saqez puseram-se a caminho da casa da família para expressar a sua solidariedade e também do cemitério onde Mahsa Amini está enterrada, mas as forças de segurança bloquearam estradas e dispersaram grupos de pessoas para impedir o seu avanço. Ainda de acordo com o IranWire, as comportas de uma barragem próxima foram abertas durante a noite, fazendo aumentar o caudal de um rio e impedindo que os manifestantes usem caminhos alternativos.

Nas últimas semanas, segundo os grupos de defesa dos direitos humanos, o regime de Teerão endureceu as medidas contra os suspeitos de terem participado nos protestos e tentou dissuadir novas manifestações e greves. Foi decretada uma paralisação generalizada do comércio no Curdistão iraniano, mas as autoridades dizem que a greve foi um fracasso. “Um conjunto de agentes ligados a grupos contra-revolucionários que tinham planeado lançar o caos e preparar acções mediáticas foi detido às primeiras horas da manhã”, disse um responsável governamental à agência de notícias oficial IRNA.

A morte de Mahsa Amini, a 16 de Setembro do ano passado, depois de alegadamente ter sido espancada pela polícia da moralidade por não estar a usar correctamente o hijab, o véu que tapa os cabelos e cujo uso é obrigatório para as mulheres em locais públicos, deu origem a um dos mais expressivos movimentos de revolta contra as autoridades da república islâmica nos últimos anos. Os manifestantes adoptaram como slogans “Mulher, Vida, Liberdade” e “Morte ao ditador”, que voltaram a ouvir-se na madrugada deste sábado em várias cidades, incluindo Teerão.

Soldados nas ruas

Na madrugada de sábado, essas palavras ecoaram na noite silenciosa de Teerão, que amanheceu, tal como outras cidades, com muito mais soldados nas ruas do que é costume. “O regime islâmico militarizou as ruas do Irão com uma presença pesada e maciça das forças repressivas, dispersando qualquer aglomeração de mais de três pessoas com muita violência”, denunciou uma conta do X (antigo Twitter) associada ao jornal francês Libération. No vídeo que acompanha a publicação vê-se uma rua com homens fardados e armados a cada dez metros.

Apesar dessa presença muito visível, houve manifestações em cidades como Karaj, nos arredores da capital, Mashhad, no Norte do país, e Shiraz, a Sul. Nas redes sociais circulam vídeos que mostram aglomerações de pessoas com bandeiras nacionais e a gritar palavras de ordem. “Somos uma grande nação. Vamos lutar, vamos morrer, vamos recuperar o Irão”, ouvia-se num deles, obtido pelo IranWire e alegadamente gravado em Karaj. Nesse local, houve também gritos de “Morte a Khamenei!”

Em Mashhad, o Presidente iraniano esteve reunido com familiares de agentes de segurança mortos durante os protestos. No encontro, Ebrahim Raisi congratulou-se pelo “vergonhoso falhanço do projecto inimigo de desestabilizar” o país, segundo uma nota da presidência, citada pela AFP.

Raisi estará na próxima semana em Nova Iorque para participar – e discursar – na Assembleia-Geral da ONU. Para assinalar o primeiro aniversário da morte de Mahsa Amini e condenar a repressão contra os protestos, os Estados Unidos decidiram impor novas sanções a pessoas e empresas iranianas, incluindo meios de comunicação detidos pelo Estado.

Ao mesmo tempo, o Irão vai receber em breve seis mil milhões de dólares que estão bloqueados na Coreia do Sul em troca da libertação de cinco americanos detidos no país. O dinheiro destina-se exclusivamente a fins humanitários, avisou a administração Biden, mas Raisi disse à NBC que fará com ele o que bem entender. O montante será transferido para o banco central do Qatar, que serviu de intermediário entre os dois países e ficará responsável por assegurar o seu uso correcto.

Sugerir correcção
Comentar