Jezzus, que pizza é esta? A pizzaria cor-de-rosa de Lisboa sabe a TikTok e a um Portugal “atrevido”

Há uma pizza à bulhão pato, outra de camarão ao alhinho. E há chouriço de porco preto e burrata de Azeitão. A regra é que seja quase tudo português e, se der, cor-de-rosa. A pizza salva? E o TikTok?

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“Jesus, que pizza é esta?” É esta interjeição que a pizzaria Jezzus, nos Anjos, em Lisboa, quer provocar entre os comensais. Da farinha, aos queijos e cocktails, é quase tudo português, mas pensado para agradar também até a italianos, já que se mantêm as regras sagradas deste prato tão apreciado por cá. Adiciona-se, ainda, um toque de humor e a provocação estende-se à decoração. Se não gosta de cor-de-rosa, se calhar não vale a pena entrar.

Fica encaixada numa esquina dos Anjos, um bairro até há poucos anos sobretudo residencial e local pouco comum para os restaurantes da moda. É isso que quer ser a Jezzus e isso sabe-se ainda antes de entrar, culpa do enorme letreiro iluminado, onde se lê "Pizza Saves" (a pizza salva, em português).

“Somos considerados a pizzaria do TikTok em Lisboa”, admite um dos proprietários, Tiago Jesus. Não foi propositado, assegura, mas a inusitada decoração cor-de-rosa assim o quis. Foi inaugurada antes da estreia do mediático filme da Barbie, mas parece fazer parte desse cenário. As paredes são cor-de-rosa, as caixas de pizza são cor-de-rosa, os menus são cor-de-rosa e há cocktails (espante-se) cor-de-rosa.

Sentados nas mesas estão sobretudo jovens, que, suspeita-se, terão conhecido o projecto nas redes sociais — e não se esquecem de registar o momento, de telemóvel em riste antes da primeira garfada. Esse até pode ser o motivo por que cá vêem, mas Tiago Jesus assegura que a qualidade das pizzas é o que os faz regressar.

O projecto nasceu no grupo Alfredo Jesus, nome conhecido no sector da restauração sobretudo por ter cafetarias em espaço públicos, como hospitais ou universidades, num total de 40 espaços. A aventura em negócios menos tradicionais é recente, graças aos filhos do fundador, que já abriram a Leitaria Lisboa e, este ano, se aventuraram na Jezzus.

É uma pizzaria que quer fugir aos clichés dos restaurantes italianos, um rótulo onde não se enquadram. “Não queríamos fazer só mais uma pizzaria em que, muitas vezes, a massa é maltratada. Queríamos abrir uma pizzaria onde pudéssemos usar o máximo de produtos nacionais”, explica à Fugas, contando que fizeram testes durante mais de um ano. “Foi um ano a comer pizzas, que sacrifício”, diz, com humor.

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O mote da portugalidade começou com a escolha da farinha portuguesa, do moleiro Paulino Horta, usada na massa de fermentação natural, que descansa entre 48 a 72 horas. O resultado é uma massa mais fácil de digerir, prometem e confirma-se. É leve, mas simultaneamente consistente, de forma a suportar a quantidade generosa de ingredientes colocados sobre a pizza.

A mesma massa é usada em quase todas as entradas disponíveis na carta, com destaque para os Rotolinos (8€), que são rolos de massa mãe recheados, ora com o clássico tomate, ora com combinações mais atrevidas, como o queijo azul. Para os que preferem opções mais simples, a Burratabela, com burrata artesanal servida com tomates confitados e pesto de pistacho é uma escolha segura.

Tanto a burrata, como o queijo azul são portugueses, feitos por “um pequeno produtor de Azeitão”, avança Tiago Jesus. E insiste: “Devemos valorizar o que é nosso e tem tanta qualidade. Não somos fundamentalistas ao ponto de não usar produtos italianos, até porque há coisas mais difíceis, como o parmesão.”

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Pizza de cogumelos DR
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Burrata com tomates confitados DR

Bulhão pato na pizza?

Não são fundamentalistas, mas levam a sério a missa de valorizar o que é português até nas propostas de pizzas. Não falta a Margherita (11€), mas, de resto, pouco mais de clássico se encontra nesta carta. “Quisemos criar combinações de sabores até um bocadinho atrevidas, fora da caixa, mas que fazem todo o sentido”, detalha o empresário, enquanto percorre o menu a eleger as suas pizzas favoritas.

É então que salta à vista a Bulhão Pato (16€), inspirada nas amêijoas à bulhão pato, prato típico português. “Fazemos o molho normal com limão, alho e coentros. Adicionamos depois as amêijoas e um pesto de coentros”, explica Tiago Jesus. Quem fechar os olhos, ao trincar uma fatia desta pizza fica sem saber se está numa marisqueira ou numa pizzaria. O mesmo se aplica à nova Camarão ao Alhinho (16€), adicionada este Verão à carta e que também mimetiza um petisco nacional.

São sabores que, como dizia Fernando Pessoa, primeiro se estranham e depois se entranham. Quem preferir manter-se na zona de conforto, há opções igualmente atrevidas, mas menos estranhas ao paladar, como a Judas dos Açores (16€), com ananás assado, chouriço de porco preto, parmesão de 24 meses e pesto de coentros, ou a Holy Guanciale (13€), com papada de porco preto alentejano, cebola roxa e salsa.

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Para acompanhar, acabam de estrear uma carta de cocktails, também com foco em Portugal. Os favoritos, elege Tiago Jesus, têm sido o Amen Sour de Manjericão (8€), feito com amêndoa amarga, e o Limontejo (9€), uma versão nacional do clássico italiano limoncello. Antes de sair deste universo cor-de-rosa, prove ainda a tarte de queijo no forno com calda de goiabada (5€).

Já no final deste ano, o grupo prevê abrir uma segunda pizzaria Jezzus, perto da Avenida da Liberdade, onde vão manter o conceito e também a decoração cor-de-rosa. Resta saber se também será um sucesso no TikTok.


A Fugas jantou a convite da Pizzaria Jezzus.

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