Verde é a região, os vinhos são todos maduros

Os vinhos são feitos com o sumo de uvas maduras e são todos brancos à nascença. Em Portugal, são 14 as regiões vitivinícolas e o Vinho Verde é uma delas.

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Os vinhos são todos maduros, em parte alguma se consegue fazer vinhos com uvas verdes Nelson Garrido
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Verde ou maduro? É uma dicotomia que já não há como contrariar, mas a verdade acima de tudo. Os vinhos são todos maduros, já que em parte alguma se consegue fazer vinhos com uvas verdes. Ou seja, Vinho Verde não é um tipo de vinho, mas antes uma das 14 regiões vitivinícolas de Portugal. Tal como Douro, Dão, Açores, Alentejo, e por aí fora.

Portanto, os vinhos são todos maduros. E, já agora, também brancos. Então e os tintos? Sim, ficam tintos, mas só depois da fermentação em contacto com as películas. Ou seja, o vinho é feito a partir do sumo das uvas, e este é, em regra, branco. A cor não está no sumo mas nas películas, as peles dos bagos, e são estas que acabam por “tingir” o vinho. Não estranhe, pois, quando vir algum rótulo indicando um branco de tintas (ou blanc des noirs). Não é estratégia comercial, é mesmo assim! Basta lembrar o caso dos espumantes, e sobretudo champanhes, que são em boa parte feitos com uvas tintas.

Há, no entanto, algumas castas cujo sumo tem já alguma coloração. São as chamadas "castas tintureiras", e no nosso país as mais utilizadas são a Alicante Bouschet, sobretudo no Alentejo e no Douro, a Baga, da Bairrada, e a Vinhão, no Minho (que no Douro, diz-se, é a Sousão).

Ou seja, os minhotos têm a mania de ver sempre as coisas à sua maneira, por um prisma fortemente bairrista. Daí que tenham imposto a dicotomia entre nós e os outros, os verdes e os maduros. E se esta é uma diferenciação que durante muito tempo até podia ter algum fundamento, hoje faz cada vez menos sentido. De facto, os vinhos da Região dos Vinhos Verdes estão cada vez mais maduros, complexos e estruturados, tal como os de todas as outras regiões. Sobretudo os brancos.

O tempo dos vinhos verdes leves, jovens e aromáticos começa, de facto, a ficar mais distante. Não só fruto das alterações climáticas — que até já obrigam os viticultores minhotos a estar muito atentos para que o grau alcoólico não dispare para valores demasiado elevados —, mas sobretudo pelo aparecimento de novos produtores e enólogos com uma aposta decisiva nos vinhos de qualidade, os verdes mais complexos e estruturados e até com perfil de guarda.

Mas nem sempre foi assim. Pela proximidade ao Atlântico, a uma vasta rede de rios e ribeiras que disponibiliza água em abundância e a uma vegetação viçosa e frondosa, as uvas tinham dificuldade em amadurecer. Daí os vinhos mais verdes, ácidos e com menos grau. E o bairrismo dos minhotos quis ver nisso uma diferença qualitativa. Até procuravam manter alguma da doçura dos mostos para compensar a agressividade ácida e adicionar gás carbónico — sim, é adicionado — para dar vivacidade à bebida.

É este tipo de Vinho Verde, a que muitos consumidores se habituaram, que continua a ser o mais comercializado. E, sim, este tipo de vinhos produzidos na região dos Vinhos Verdes é, de facto, muito diferente de todos os vinhos de qualidade das outras regiões. Daí a dicotomia verdes e maduros, que de tão popularizada fez com que a região dos vinhos verdes fosse confundida com um estilo de vinhos.

É o que acontece com outras regiões vinhateiras cujas características específicas e diferenciadoras as levam a ser olhadas como marcas ou um estilo de vinho. É o que se passa com o champanhe, da região de Champagne, em França, o Prosecco e o Norte de Itália ou o Cava, em Espanha e que provém na sua grande maioria da Catalunha. Tudo Denominações de Origem para vinhos espumantes, que os consumidores em geral interpretam como marcas ou estilos de vinhos, tal como acontece com os Vinhos Verdes. E o mesmo se diga de Cognac, que não é uma marca mas antes uma região demarcada para a produção de aguardentes (conhaques). Uma das únicas três que existem em todo o mundo. E, já agora, sabia que uma delas é portuguesa?

Se não sabia, não fique preocupado, já que é um facto genericamente ignorado pelos portugueses. Mesmo por muitos entendidos na área dos vinhos. Pois bem, além de Cognac, as outras duas denominações de origem para produção de aguardentes são Armagnac, também em França, e a nossa Lourinhã. Não é caso para ir já a correr prová-las todas. Mas há mesmo belas aguardentes na Lourinhã. Sobretudo as mais envelhecidas.

E os vinhos nascem brancos e são todos de uvas maduras.

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