Porque é que as férias nos fazem bem (mesmo antes de irmos)?

Sonhar com as férias já nos faz felizes, mas não tanto como quando as gozamos. Além de descansarmos o cérebro, uns dias sem fazer nada ajudam a reduzir o stress.

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Porque é que as férias nos fazem bem (mesmo antes de as gozarmos) Eddy Billard/Unsplash
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Passaste os últimos dias a sonhar com as tuas próximas e merecidas férias, e vais voltar a fazê-lo assim que terminares de ler este artigo.

Os benefícios de umas boas férias podem ser sentidos mesmo antes de a viagem começar e há estudos científicos mostram que o simples facto de ansiar por uma recompensa futura pode ser ainda mais gratificante do que a própria recompensa. Isto acontece porque existe uma pequena molécula chamada dopamina (da qual falaremos mais à frente).

Mas, antes de continuarmos, vamos reflectir sobre algumas questões. As férias são realmente necessárias? Porque é que precisamos delas? E, acima de tudo, quais são os benefícios de uns dias de inactividade?

Descansar aumenta a flexibilidade cognitiva

Apesar de poder parecer inacreditável, existe muito pouca literatura científica que explore os benefícios directos das férias no nosso cérebro. O que parece indiscutível é que elas são essenciais, pelo menos, foi o que concluiu um estudo de 2016 que contou com a participação de 46 trabalhadores de uma empresa holandesa.

Foi pedido aos funcionários que se submetessem a um teste em que lhes eram dados objectos (por exemplo, um martelo) para que lhes dessem o maior número de utilizações no menor tempo possível (por exemplo, usá-los como ferramenta de construção, arma, pisa-papéis, etc.). Os investigadores observaram que, após duas ou três semanas de férias, os trabalhadores apresentavam uma maior flexibilidade cognitiva ou, por outras palavras, eram capazes de pensar num maior número de utilizações para os objectos, em comparação com os resultados obtidos algumas semanas antes das férias.

A par disto, a maioria dos estudos afirma que, de um ponto de vista biológico, uma das principais razões para este aumento da flexibilidade cognitiva — e para os benefícios das férias em geral — é a redução do stress.

Todos concordamos que o trabalho gera stress. Mas há que fazer uma pequena distinção: o stress, por si só, não tem de ser mau. Quando é esporádico, costuma ser até benéfico, porque activa mecanismos que nos ajudam a realizar as acções diárias do nosso trabalho, como o cumprimento de um prazo (os autores deste artigo estão a trabalhar nisso neste momento).

O "outro stress" — aquele que tem conotações negativas para todos — é o crónico. Este ocorre quando se prolonga no tempo, seja porque estamos sob pressão constante ou devido a situações com as quais não conseguimos lidar e gera fadiga, níveis mais elevados de ansiedade, irritabilidade e raiva. E sim, é mau, sem dúvida.

Férias recarregam baterias

A principal vantagem que umas boas férias podem fazer pela nossa saúde mental é precisamente reduzir os níveis de stress crónico. Quando estamos inactivos, o nosso cérebro consegue reverter — pelo menos temporariamente — os efeitos negativos deste estado. E aqui entra a explicação: para que as férias sejam verdadeiramente eficazes, temos de garantir que elas nos libertam realmente do stress do nosso trabalho. Ou seja, devemos evitar continuar com as tarefas pendentes, responder a emails, entre outas coisas.

Por outro lado, é fundamental evitar que as nossas férias criem novas situações de stress para nós.

Outro aspecto importante é desfrutar da espera. Porque é que o simples acto de esperar pelas nossas férias nos faz felizes? Já mencionámos a dopamina, que é produzida nos neurónios de duas regiões cerebrais conhecidas como substantia nigra (que recebeu este nome por causa da cor escura ao microscópio) e a área tegmental ventral (localizada no centro do nosso cérebro, mais ou menos atrás das orelhas).

Estas duas regiões, que albergam entre 400 a 600 mil neurónios no ser humano, enviam axónios para numerosas áreas do cérebro. Através da libertação de dopamina, desempenha um papel fundamental nas sensações agradáveis provocadas por novas experiências e recompensas. Traduzindo: saber que as férias estão a chegar aumenta os níveis de dopamina no nosso cérebro e dá-nos essa sensação de prazer.

Da mesma forma, as melhores férias são aquelas em que desfrutamos de novas experiências (incluindo explorar lugares diferentes) e recompensas (como aquele prato de marisco pelo qual esperámos todo o ano). Mas é claro que o que se considera gratificante é inteiramente subjectivo e o que é agradável para uma pessoa pode causar stress a outra.

Gozar ou não gozar das férias

Este sistema que provoca prazer é também afectado durante o stress crónico. A ciência mostra que níveis elevados ou crónicos de stress, como aqueles a que estamos sujeitos ao longo do ano durante o nosso dia de trabalho, são capazes de provocar uma redução da quantidade de dopamina libertada e/ou alterações na forma como esta é metabolizada.

O pior é que as alterações não ocorrem apenas na substantia nigra ou na área tegmental ventral. Constatou-se que o stress crónico é mesmo capaz de alterar o número de receptores de dopamina nas zonas que recebem estas projecções e quando isto acontece, desenvolvem-se frequentemente comportamentos depressivos. Por isso, umas férias que nos libertem do stress vão ajudar a reequilibrar o sistema dopaminérgico.

O que ainda não está totalmente esclarecido é se as férias prolongadas têm melhores efeitos do que as férias intercaladas e em períodos mais curtos.

Seja como for, as férias são boas para nós, por isso, encorajamos-te a encontrar actividades que te façam sentir bem, recarregar energias e reduzir o stress, para reiniciares o seu sistema dopaminérgico. Boas férias!


Exclusivo P3/The Conversation
Juan Pérez Fernández é investigador no Centro de Investigações Biomédicas da Universidade de Vigo, em Espanha
Roberto de la Torre Martínez é investigador no departamento de neurociências no Karolinska Institutet, em Estocolmo

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