Consultório: com a temperatura certa os vinhos tornam-se melhores?

Coloque-se em dois copos um pouco de vinho da mesma garrafa e depois de os cheirar e saborear depressa se concluirá que parecem vinhos diferentes.

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Uma forma rápida e eficaz de arrefecer as garrafas de vinho é num recipiente com água e gelo Rui Gaudêncio
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Não é mania nem capricho, mas cada vinho tem mesmo as suas particularidades e a temperatura de consumo é fundamental para que possa tirar o melhor partido e desfrutar das melhores qualidades do mesmo. Não que se trata de um produto demasiado delicado ou susceptível, mas convém que se tomem alguns cuidados na hora de o saborear, sob pena de estarmos a desbaratar o investimento feito na compra da garrafa.

É, digamos, um produto com personalidade vincada, e são precisamente essas características distintivas que valorizamos na hora de o escolher, pelo que não faz sentido que depois as menosprezemos na hora de o beber.

Quem não ouviu já histórias mais ou menos caricatas de avultadas compras de garrafas de tintos de grande prestígio que são depois degustados com gelo e Coca-Cola? Ora, nesse e noutros casos está a mascarar-se, a adulterar-se ou a ocultar as características que precisamente diferenciam esses vinhos. E, sem aquilo que os distingue, que os faz melhores, parece claro que a sua escolha deixa de ter nexo. Pelo menos enquanto vinho de qualidade… já que pode haver sempre outros propósitos!

Voltando às qualidades e características de um vinho, não restam dúvidas de que uma temperatura desadequada pode deitar quase tudo a perder. E, para os mais cépticos ou renitentes, basta uma experiência simples.

É pegar em dois copos adequados — e este é também outro capricho — e iguais, mas com diferentes temperaturas. Coloque-se em ambos um pouco de vinho da mesma garrafa e, depois de os cheirar e saborear, depressa se concluirá que parecem vinhos diferentes. E são, de facto! As componentes que diferenciam um vinho — os seus aromas, corpo, estrutura, concentração e teor alcoólico — reagem de forma diferente a diferentes temperaturas. E alteram não só a forma como se libertam os aromas, como é feita a evaporação, mas também a reacção do nosso palato.

Todos imaginam o efeito de saborearmos um assado ou uma feijoada arrefecidos ou se aquecermos um gaspacho ou uma fatia de melancia. Há uma temperatura adequada para os apreciarmos convenientemente. Com os vinhos é a mesma coisa e daí a importância da temperatura correcta.

Qual é, então, essa temperatura? Depende sobretudo do tipo de vinhos, sendo certo que pode variar sempre um pouco em função do lugar, do clima e das circunstâncias em que nos encontremos. Mas há sempre algumas regras básicas importantes: se um vinho ficar demasiado fresco, as suas características apagam-se, ficam como que adormecidas; enquanto uma temperatura quente intensifica a sensação do álcool e os sabores doces do vinho, tornando-o pesado e cansativo.

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A regra de ouro é nunca servir um vinho a menos de 6 graus nem a mais de 20 graus, e daí o disparate que muitas vezes presenciamos com os brancos geladinhos ou os tintos à temperatura ambiente. É matá-los ou escondê-los por completo, o que só poderá ter alguma justificação em casos de muito má qualidade… mas aqui o recomendável é mesmo não os beber!

Sabendo-se que as componentes de álcool e doçura se destacam com o calor e se amenizam com o frio, e que a percepção dos aromas cresce dos 12 graus para os 18 graus, os especialistas têm coincidido numa espécie de tabela que varia entre os 6 e os 18 graus, consoante o tipo de vinhos que queremos apreciar (ver caixa).

Para manter os vinhos à temperatura ideal, há hoje armários específicos com diferentes secções e temperaturas consoante o tipo de vinhos, mas também pode recorrer-se aos frigoríficos domésticos. Uma forma rápida e eficaz de arrefecer as garrafas de vinho é num recipiente com água e gelo.

Para medir a temperatura, há termómetros adequados de fácil utilização, mas, com alguma experiência e bom senso, facilmente se chega a um bom resultado com a palpação da garrafa ou um leve contacto do vinho com os lábios.

Em caso de dúvida, deve optar-se sempre por baixar um pouco a temperatura. Uma vez no copo, o vinho rapidamente evolui para a temperatura ambiente e, se estiver frio de mais, podemos sempre aconchegá-lo entre as palmas das mãos para depressa o levar à temperatura desejada. O contrário é mais difícil. Verá que com a temperatura certa os vinhos se tornam muito melhores.

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