Tenho uma amiga que antes de reservar uma mesa num restaurante, pergunta sempre se aquele admite crianças. Para quem tem filhos crescidos ou para quem não os tem, pode ser penosa a ida a um restaurante com crianças que gritam e choram. Aconteceu-me esta semana, estava em trabalho. Apeteceu-me levantar-me e aconselhar o pai ou a avó (que eram os que estavam ao lado da criança) a sair com o menino que estava cansado, pois eram dez da noite e ainda estava sentado numa cadeirinha, enquanto toda a família conversava, indiferente à sua infelicidade. Estavam de férias.
"Também isto são maus tratos", comentei com o meu companheiro de mesa, fazendo referência àquela mãe que decidiu submergir a sua filha de 3 anos na piscina, vestida, e que lhe deu uma chuveirada, também vestida, de madrugada, para controlar as suas birras. Então, os psicólogos ouvidos pelo PÚBLICO referiram que esse comportamento pode ser classificado de maus tratos e que há outras opções para controlar uma birra, sem que a mãe ou o pai se descontrolem ou estejam a medir forças com uma criança.
No início da semana, o advogado Nuno Cardoso-Ribeiro escreveu sobre a possibilidade de as atitudes desta mãe — que decidiu partilhar a sua experiência na rede social Instagram, numa conta que entretanto foi apagada — constituírem crime. E como qualquer pessoa que tenha conhecimento de situações que ponham em perigo a segurança, saúde, formação, educação ou desenvolvimento de uma criança pode fazer queixa, o Ministério Público abriu um inquérito para averiguar a situação.
Maria João Marques pergunta "onde está o pai" desta menina de 3 anos. Carmo Afonso pede que o mercado dos influenciadores digitais seja regulado porque o que esta mãe disse que fez pode ser assumido por pais menos informados como um excelente método para acabar com birras. E voltamos a Maria João Marques, preocupada que está com as crianças que são expostas nas redes sociais, para a citar: "Os pais não têm o direito de tirar aos filhos o doce anonimato, nem de os expor a consequências ainda não percebidas (não houve tempo) de uma constante reprodução de imagens."
Também isto são maus tratos? Pelo menos é exploração infantil, afinal estes pais ganham com a exposição dos filhos — mais seguidores e mais dinheiro, graças aos contratos de publicidade que fazem com marcas mais ou menos infantis.
E voltamos à birra no restaurante, na praia ou no átrio do museu. Como evitar birras nas férias? As psicólogas Patrícia Barros e Vera Ramalho respondem. Um resumo: é preciso dar atenção aos nossos filhos; compreender que não estão no seu ambiente, nem na sua rotina, logo, mais susceptíveis; que os dias de férias podem ser cansativos tal é a quantidade de estímulos sensoriais. As férias são um tempo de família, de preferência, da família alargada, o que ajudará os pais a também poderem usufruir deste tempo, por exemplo, a dois.
Para quem tem filhos pequenos, toda a atenção é pouca e há que ter cuidado com o mar ou com a piscina. Estar com eles, brincar com eles, conversar com eles, prepará-los para a vida adulta, para serem independentes, ajudá-los a cultivar a segurança e a auto-estima. Em suma, prepará-los para que cresçam com boas memórias e queiram passar férias connosco, sempre.
Boa semana!