A marca de luxo britânica Burberry defende que os turistas mais ricos devem receber vales especiais para fazer compras no Reino Unido, de forma a compensar as taxas existentes, que são mais altas do que na União Europeia (UE). A casa de moda está preocupada com a deslocação dos consumidores para outras capitais do luxo, como Milão ou Paris, na sequência do Brexit.
O objectivo é atrair os clientes de luxo de volta a Londres, depois do então ministro das Finanças, Rishi Sunak, ter abolido a isenção de IVA nas compras dos estrangeiros no Reino Unido. A Burberry tem encabeçado o “diálogo em curso” com o Governo, que tem estado aberto à procura de incentivos alternativos, desde que não tenham impacto nas contas do país.
“Adorávamos atrair mais pessoas para Londres e para o Reino Unido em geral”, salienta o responsável pelas finanças da casa de moda, Ian Brimicombe, citado pelo Telegraph. Entre as opções em cima da mesa, avança, está a possibilidade de dar aos turistas um “incentivo semelhante” — “que tomaria a forma de dinheiro, voucher, crédito, o que seja”.
Antes de 2021, os visitantes de fora da UE podiam pedir de voltar o IVA das suas compras, o que equivalia a cerca 20%. Rishi Sunak aboliu esse benefício fiscal, argumentando que fazê-lo iria gerar mais dois mil milhões de libras (cerca de 2,33 mil milhões de euros) ao país. Actualmente, Sunak é o primeiro-ministro.
Contudo, este incentivo fiscal continua em vigor nos países da UE, incluindo Portugal, o que faz com que os turistas prefiram comprar bens de luxo noutras paragens, afectando,o negócio d a Burberry e de outras marcas britânicas. Em 2021, por exemplo, a marca de fast-fashion Topshop fechou todas as 2500 lojas e passou a funcionar apenas online, através da plataforma Asos.
Ian Brimicombe confirma que a casa de moda sediada em Londres se tem ressentido: “É desapontante, mas Londres vai continuar a ser uma fortaleza para nós, enquanto nosso mercado de origem. E, com sorte, poderemos resolver brevemente esta anomalia do esquema do IVA.”
Até agora, o Governo britânico tem evitado recuar, defendendo que uma mudança teria uma factura demasiado elevada para o país. “As compras sem taxas já estão disponíveis para todos os visitantes não britânicos que comprem em loja e mandem a encomenda directamente para uma morada no estrangeiro”, justifica. Estender o esquema a residentes da UE custaria “1,4 mil milhões de libras por ano”, já que os impostos teriam de subir, avisa.
A Burberry não tem sido a única empresa do segmento do luxo a criticar as medidas. Também as lojas multimarcas Harrods e Selfridges têm colocado pressão no executivo de Sunak para reverter a decisão, apresentando como provas os dados das compras de luxo nos países da União Europeia.
De acordo com a empresa de estatística Global Blue, as despesas de norte-americanos com bens de luxo em França e em Espanha mais do que triplicaram no primeiro trimestre deste ano, quando comparado com valores pré-pandemia. No Reino Unido, esse valor apenas aumentou 1%.
Já a Burberry subiu 18% nas vendas este trimestre, sobretudo motivada pelo regresso dos consumidores chineses, informou ainda a empresa. Fundada em 1856, a casa de moda notabilizou-se pelas gabardines e pelo padrão de xadrez, tornando-se quase um ícone da cultura de moda britânica.
Nos últimos cinco anos, a empresa deixou de utilizar peles de animais, assim como abandonou a controversa prática de queimar os produtos de merchandising que ficavam por vender. Em Setembro do ano passado, foi anunciado um novo director criativo, o britânico Daniel Lee, com a missão de atrair consumidores mais jovens.