Oposição reage: caso de Capitão Ferreira “preocupa” as pessoas e “não é isolado”

Rui Rocha acusou o primeiro-ministro de usar “o tempo da justiça” quando lhe convém. Raimundo sinalizou que o caso “não é isolado”. E Mortágua disse que o questionário aos governantes “é uma anedota”.

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Marco Capitão Ferreira é suspeito de corrupção e participação económica em negócio Maria Abranches

Os líderes da Iniciativa Liberal (IL), do PCP e do Bloco de Esquerda (BE) reagiram este sábado à demissão do secretário de Estado da Defesa, acusando o primeiro-ministro de desvalorizar o caso, pedindo que se coloquem no Governo "pessoas com capacidade de assumir compromissos públicos" ou que haja uma "fiscalização mais apertada" no executivo.

Em declarações aos jornalistas à margem de uma visita ao Mercado dos Lavradores, no Funchal, o presidente da IL considerou "que todo o exercício de poder político que esteja sob suspeição obviamente preocupa os portugueses". Rui Rocha reagia às declarações deste sábado do primeiro-ministro, António Costa, que apelou a que se deixe a "justiça funcionar" e afirmou que "aquilo que preocupa as pessoas são temas bastante diferentes".

"Eu bem sei que para António Costa isto são casos, casinhos. Tenta desvalorizá-los, mas estamos aparentemente com a evidência, pelo menos a suspeita, não sei se é corrupçãozinha, se é corrupção, mas de alguma coisa com alguma gravidade e, portanto, obviamente isso preocupa os portugueses. É um tema que deve ser esclarecido e até fica mal ao primeiro-ministro estar a tentar desvalorizar uma situação destas", defendeu.

Sobre a afirmação de António Costa, o líder da IL disse que "quando lhe convém os tempos são os dele, quando não lhe convém então é o tempo da justiça". E questionou se "o tempo da justiça foi cumprido" neste caso, uma vez que "horas depois de António Costa ter pedido a exoneração" de Capitão Ferreira, o ex-secretário de Estado foi "constituído arguido".

Questionado sobre qual a solução necessária para resolver a instabilidade no Governo, o presidente da IL apontou que "não é uma questão de remodelações", já que "alguns dos ministros que saíram ou que não saíram, mas estão francamente condicionais, já foram objecto de remodelação", referindo-se ao ministro das Infra-estruturas, João Galamba.

"O ponto comum é o primeiro-ministro. É um primeiro-ministro completamente esgotado, sem credibilidade, incapaz de gerir a sua própria casa", considerou.

“Não é um caso isolado”

Já o líder do PCP, Paulo Raimundo, defendeu que "não estamos perante um caso isolado, o que se torna num problema, sendo mais um caso a somar a um conjunto de situações que todos nós vamos acompanhado".

E acrescentou, em declarações aos jornalistas, em Vila Nova de Foz Côa, que Portugal "não é um lamaçal, porque há mais gente boa do que gente má" no país.

"No nosso país há gente honesta, pessoas com capacidade de assumir compromissos públicos. O que nós precisamos é que esta gente boa, séria e comprometida com a vida de cada um e com o próprio país tome nas mãos os destinos do país", defendeu.

À margem de uma visita ao Museu do Côa, o secretário-geral do PCP frisou, ainda assim, que a situação "perante o ponto de vista judicial está a ser acompanhada" e que "podemos dizer que a justiça está a correr e está a fazer o seu papel".

Questionário aos governantes “é uma anedota”

Pelo Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua acusou o primeiro-ministro de ter falhado à "promessa que fez ao país" de que "iria criar mecanismos para impedir que fôssemos confrontados com novos casos destes no Governo". "Hoje compreendemos que nada foi feito" e que o "questionário [de avaliação dos governantes] é uma anedota que não teve qualquer impacto, qualquer resolução".

"É por isso que somos confrontados com mais uma demissão e suspeitas de violações da lei, de crimes graves", disse a coordenadora do BE, em declarações transmitidas pela RTP3, à margem da Marcha do Orgulho do Porto.

Considerando que, "podemos estar perante fenómenos reiterados de abusos de poderes públicos" e que "essa preocupação se adensa", Mortágua pediu, por isso, uma "fiscalização mais apertada".