Loja dedicada aos caretos de Podence abre parque de campismo este Verão

A loja-oficina tornou-se atracção incontornável em Podence, com artesanato do Entrudo Património da Humanidade. Agora, o sonho expande-se com parque de campismo e caravanismo na aldeia transmontana.

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Sofia Pombares, da Quinta do Pomar Paulo Pimenta
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É como um cartão de boas-vindas a Podence. Escondida atrás da paragem de autocarros à entrada da aldeia, com uma pitoresca fachada de xisto e uma sedutora esplanada, o difícil é visitar Podence sem começar ou terminar na loja e oficina de artesanato da Quinta do Pomar. Dedicada aos caretos do Entrudo Chocalheiro, nela podemos conhecer todo o processo de produção dos trajes coloridos da atracção turística principal da aldeia transmontana, classificada como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO em finais de 2019.

“O fato [de careto] começa pela manta, que é feita aqui neste tear”, aponta Sofia Pombares, substituindo os velhos cobertores tradicionais que outrora se aproveitavam para dar corpo aos caretos e pequenos facanitos, os mascarados que protagonizam a folia de um dos Carnavais mais genuínos do país, com raízes pagãs. Quando visitámos, o trabalho na oficina estava dedicado à fase seguinte, de corte da manta e costura em calça e casaco. Para finalizar, são feitas as franjas noutro “tear pequenino”, aos nossos pés, ora com lã amarela, ora verde ou vermelha, cosidas ao fato em listas alternadas para dar o colorido dançante que lhe é característico. “Todo este trabalho demora cerca de três semanas a ser feito”, conta, e pode custar entre 600€ e 900€ (se incluir chocalhos e bandoleiras).

Há uns anos, à medida que crescia a fama e a procura pelos caretos de Podence, Sofia e o marido, Luís Filipe Costa, notaram que já não havia na aldeia quem soubesse criar um fato de careto do início ao fim. “Várias pessoas sabem fazer as franjas, uma sabe cortar a manta, outra coser a franja no fato, mas ninguém conseguia fazer tudo no mesmo sítio”, recorda. Aos poucos, foram colhendo os diferentes saberes e de tentativa em erro chegaram ao produto final, vendido sobretudo para gente da terra e outras lojas de artesanato. Tudo começou, no entanto, com as máscaras que escondem a identidade dos chocalheiros durante a festa, há cerca de uma década.

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A loja oficina da Quinta do Pomar tornou-se atracção incontornável na aldeia transmontana Paulo Pimenta

Depois dos estudos em Coimbra, com uma tese de mestrado que deu corpo ao livro Caretos de Podence – História, Património e Turismo, Luís Filipe Costa decidiu regressar à aldeia e durante os últimos anos foi um dos principais dinamizadores da economia e turismo da localidade com menos de 200 habitantes, no concelho de Macedo de Cavaleiros. Começou por recuperar as máscaras de couro que vira o avô fazer, entretanto caídas em desuso e substituídas pelos rostos de latão pintado de cores garridas, mais baratas e muitas vezes construídas a partir do reaproveitamento de chapas. Criava de umas e de outras em tamanho real, para vender a quem quisesse usá-las durante o Entrudo.

Quando as mãos já não chegavam para as “muitas encomendas”, Sofia, hoje com 24 anos, antiga enfermeira, começou a ajudar e assim nascia um negócio a dois. Com o aumento dos turistas, surgiu a ideia de criar as pequenas recordações vendidas na loja, juntamente com produtos locais e regionais, muitos deles feitos a partir das frutas da quinta que dá nome ao projecto. Depois vieram os fatos, as experiências turísticas. Desta vez, pintámos uma máscara para levar para casa, mas também é possível fazer um passeio pedestre guiado por um careto ou um piquenique no Azibo (a maior albufeira da região, com praia fluvial, é a atracção por excelência no Verão), ser pastor por uma manhã, e participar na apanha da cereja ou da castanha.

A classificação como Património Mundial pela Unesco veio impulsionar todo o negócio. “Fazíamos disto um extra. Era mais um trabalho aos fins-de-semana, e mais ou menos a partir dessa época começámos a trabalhar a tempo inteiro no artesanato e no nosso projecto”, recorda Sofia. Todos os anos “há mais procura” e “mais trabalho”. São feitos cerca de dez fatos de adulto e 50 de criança por ano, mais centenas de máscaras e recordações alusivas aos caretos. Sofia sente o peso da responsabilidade. “É uma tradição incrível e temos de dar continuidade”, diz. “Ao fazer as máscaras, os fatos, sinto essa responsabilidade porque, de certa forma, faço parte desta tradição e contribuo com o meu trabalho para que ela não se perca.”

Em Fevereiro, a família sofreu um duro golpe. Poucos dias depois do regresso do Entrudo Chocalheiro às ruas de Podence, o primeiro celebrado sem as restrições da pandemia desde que foi classificado como Património Imaterial, Luís Filipe Costa perdeu a batalha contra o cancro aos 38 anos. Hoje, é Sofia que leva por diante o sonho dos dois. “Não é fácil, mas era isto que ele queria. Também é uma bonita homenagem, continuar.” Uma das ambições antigas de Luís Filipe deverá abrir oficialmente este Verão: um parque de campismo, que vem acrescentar ao alojamento local com dois quartos, uma tenda de glamping e espaço para 25 tendas e autocaravanas. Com tudo praticamente concluído, faltam apenas as autorizações finais para inaugurar.

A aldeia transmontana está transformada numa ode gráfica aos caretos de Podence, com baloiços, bonecos e máscaras gigantes, e muitas fachadas coloridas com os tons, trajes e iconografia associada ao Entrudo Chocalheiro (excepção feita aos retratos em arte urbana de Cristiano Ronaldo, Marcelo Rebelo de Sousa e outras figuras de destaque local e nacional). Ao longo da rua principal, vamos cruzando letreiros que anunciam as tabernas abertas exclusivamente durante os dias de Carnaval. A um domingo, em meados de Maio, depois do autocarro de excursionistas partir, não vemos vivalma. Apenas a oficina de artesanato, a Casa do Careto e uma loja de licores surgem abertas ao público.

Os caretos colocaram Podence no mapa do turismo, mas Luís Filipe e Sofia têm procurado criar, a pouco e pouco, cada vez mais motivos para visitar a aldeia em qualquer altura do ano, e provar que é possível regressar à terra e gerar valor. Um legado que agora se abre a mais hóspedes, para que cada vez mais pessoas possam ficar e descobrir a região.

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