Num mês de actividade, grupo VITA ouviu relatos de 23 vítimas de abusos na Igreja

Relatos que chegaram ao grupo VITA são sobretudo de pessoas mais velhas do Norte do país. Em alguns casos, é a primeira vez que falam dos abusos em décadas.

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Rute Agulhas lidera o grupo VITA, criado por iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa, depois do relatório que revelou que 4815 crianças foram vítimas de abuso no seio da Igreja nos últimos 72 anos Maria Abranches/Arquivo
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Depois de aberta há um mês, a linha de apoio do grupo VITA, criado pela Igreja Católica para acompanhar as vítimas de abusos sexuais no contexto eclesiástico, recebeu contactos de 23 vítimas. Os relatos chegam de todo o país, mas sobretudo do Norte e de pessoas mais velhas. “São pessoas que vivenciaram situações de abuso sexual no contexto da Igreja já há muitos anos, algumas delas há muitas décadas, e que neste momento pedem ajuda de forma não anónima”, referiu nesta quinta-feira, à CNN Portugal, a psicóloga Rute Agulhas, que lidera este organismo.

De acordo com a psicóloga, estão a ser feitos atendimentos online e presenciais com estas pessoas, para “perceber melhor as suas necessidades”. “A maior parte destas vítimas que nos chegaram até à data está efectivamente a precisar de apoio psicológico. Vão ser encaminhadas para a nossa bolsa de psicólogos, que está já constituída”, adiantou Rute Agulhas.

Estas são vítimas de violência sexual que nunca falaram antes. Em alguns casos, é a primeira vez que falam do assunto em décadas. “São vítimas, para quem é, naturalmente, muito difícil falar, muito difícil recordar, e todos estes movimentos, toda esta mediatização do tema tem activado memórias mais traumáticas”, enquadrou. Algumas vítimas têm, inclusive, “sintomatologia muito activa”, como pesadelos, pensamentos ruminantes, crises de pânico, desmaios, tonturas.

Conforme foi anunciado esta semana, o VITA tem uma bolsa com “mais de 70 profissionais” por todo o país. A excepção são as regiões de Castelo Branco e da Madeira. Nos Açores, outra das zonas que estavam ainda a descoberto, conta já com psicólogos disponíveis para acompanhar vítimas.

O grupo VITA diz estar neste momento a sinalizar casos junto do Ministério Público e da Igreja, para que seja instaurado um processo de investigação canónico, adiantou ainda a coordenadora do grupo que foi criado por iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) depois de o relatório da comissão independente coordenada por Pedro Strecht ter concluído que pelo menos 4815 crianças foram vítimas de abuso no contexto eclesial nos últimos 72 anos.

Os que quiserem contar a sua história ou procurar ajuda junto do grupo VITA podem fazê-lo através do 915 090 000 ou através do formulário disponível no site.

Rute Agulhas notou ainda que este tem sido um mês de inúmeros contactos com câmaras municipais e outras entidades, para “agendar programas formativos para catequistas, professores de educação moral e religião católica ou profissionais da área de educação social. “É muito importante tratar as vítimas, mas sobretudo tentar prevenir que futuros casos destes voltem a acontecer”, disse.

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