Em menos de um ano, esta será a terceira vez que falamos de Pedro Ribeiro (Herdade do Rocim), coisa que até pode aborrecer, mas a verdade é que o homem está sempre a inventar, e isso, num universo compreensivelmente conservador, não pode deixar de ser notícia. O que fez agora? Um vinho da casta Arinto em parceria com o enólogo austríaco Lenz Moser, que é um nome grande da enologia na Europa. Representante da quinta geração ligada ao negócio do vinho (casa Lenz Moser), foi responsável pela Robert Mondavi Europe e trabalha hoje em regiões que considera terem potencial para a produção de vinhos com identidade vincada.
Evidentemente que, em Portugal, fazer um vinho de Arinto é tão inovador como meter sardinhas com molho de tomate numa lata, mas o que é importante aqui é o objectivo do projecto: mostrar aos mercados externos a riqueza dos vinhos brancos portugueses a partir da casta Arinto. E, por isso, nasceu o Ribeiro & Moser 2022, da região de Lisboa.
Apesar de a riqueza nacional ser a arte do blend nos múltiplos terroirs que exploram diferentes castas, quando se pensa em castas brancas para mostrar aos mercados externos (os consumidores estrangeiros têm dificuldades em memorizar mais do que duas castas numa garrafa), é certo e sabido que só se pensa em Alvarinho e, com boa vontade, na casta Encruzado (Dão). Muito dificilmente ouviremos alguém falar em Arinto. E, todavia, o Arinto recebe elogios internos do Minho ao Algarve. E, todavia, meio mundo reconhece-lhe potencial para vinhos tranquilos ou para espumantes, para vinhos novos ou vinhos de guarda, estes últimos no radar de um nicho crescente de enófilos.
Assim sendo, por que razão a casta Arinto não está ao nível de uma Touriga Nacional? Por que razão não é tratada diferenciadamente nas cartas dos restaurantes ou nas garrafeiras? No fundo, por que razão – e com excepção do que acontece na região de Lisboa – não se lhe dá um estatuto de bandeira nacional? Responde Pedro Ribeiro: “Porque os enólogos e o mercado não têm paciência para esperar pelo Arinto – bom, nem pelo Arinto nem por vinhos de outras castas brancas. Quando são novos, nem acho grande piada aos vinhos de Arinto – são lineares e apenas marcados pela acidez –, mas, a partir do segundo ou terceiro ano em garrafa, tudo muda e começamos a sentir uma riqueza que é bastante diferenciadora face a outras castas nacionais e internacionais. É aqui que está o seu potencial.”
Pedro Ribeiro e Lenz Moser conheceram-se numa qualquer feira internacional e, cultores que são de vinhos que expressem a identidade dos territórios, fizeram por cá umas provas para testar castas e rapidamente chegaram à conclusão de que a Arinto é que era. O primeiro vinho, da colheita da passada e da região de Lisboa (Vale da Mata), já está à venda no website www.ribeiro-moser.com, mas o objectivo dos dois produtores é explorar os mercados externos. “Queremos que, com este vinho e outros que vão aparecer mais tarde e de Arinto, divulgar a casta nos mercados em que cada um de nós está. No caso do Rocim, Brasil e EUA; no caso de Lenz Moser, Áustria e Alemanha.
Como a casta está espalhada por quase todas as regiões, um consumidor internacional que tenha contacto com este vinho poderá, numa viagem a Portugal, ficar interessado em provar mais vinhos de Arinto”, refere Pedro Ribeiro.
Do ponto de vista enológico, destaque-se o uso de barricas de 500 litros de carvalho austríaco, que, pelo volume e pela natureza da madeira, deixam a casta brilhar por si. Do ponto de vista da engenharia financeira, os dois enólogos partilham despesas e proveitos e irão vender as 10 mil garrafas à medida que os mercados de cada um solicitarem. Do ponto de vista de marketing (esta malta não dá ponto sem nó), o vinho está engarrafado numa das mais leves garrafas do mercado (420 gramas) e vestida com uma exiguidade de papel de espantar (tudo isso deveria fazer pensar aqueles que ainda insistem em garrafas que exigem treino de ginásio na hora de servir um copo de vinho).
Pedro Ribeiro acha que, por cá, “a casta Arinto está quase, quase, quase a chegar lá, mas depois falta sempre um bocadinho qualquer e nunca chega lá” (uma espécie de Danoninho da viticultura nacional). Pode ser que este Ribeiro & Moser seja um exemplo a seguir.
P.S.: Pedro Ribeiro está, com a empresa inglesa Gusbourne, a fazer um exercício algo semelhante àquele que faz com Lenz Moser. No caso, lançar um Chardonnay tranquilo e um espumante, sendo que o vinho-base é comum. Vamos esperar que os vinhos só apareçam para 2025.
Nome Ribeiro & Moser Arinto 2022
Produtor Ribeiro & Moser
Castas Arinto
Região Lisboa
Grau alcoólico 13 por cento
Preço (euros) 28
Pontuação 94
Autor Edgardo Pacheco
Notas de prova Obviamente muito jovem (dá prazer agora, mas o ideal é dar-lhe tempo), não é daqueles Arintos que chegam com notas aromáticas de citrinos aos saltos. De resto, tem uma matriz mais floral, mas delicada. Na boca, aqui sim, a acidez é a sua imagem de marca (mas sem partir dentes). Sente-se que o vinho foi construído para durar anos, pelo que merecerá acompanhamento no tempo.