Vinhos de Portugal no Brasil: uma década de encontros, reencontros e muitas descobertas

7000 pessoas passaram pelo Jockey Club do Rio nos três dias do Vinhos de Portugal. Das histórias do Mateus Rosé aos Verdes com mais de 10 anos, o vinho português volta a fascinar os brasileiros.

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Vinhos de Portugal no Rio Ana Branco
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Sete mil pessoas passaram pelo Jockey Club do Rio de Janeiro durante os três dias do Vinhos de Portugal, que seguiu já para São Paulo. Das histórias do Mateus Rosé aos Verdes com mais de dez anos, o vinho português voltou a fascinar os brasileiros.

Quando a chef brasileira Flávia Quaresma chegou ao Jockey Club do Rio de Janeiro para participar num talk show da 10.ª edição do Vinhos de Portugal no Brasil dedicado ao Douro, ficou entusiasmada. “Quem vai estar connosco na conversa, além da Niepoort, vai ser o Pedro Silva Reis da Real Companhia Velha? Que bom! Faz muito tempo que não o vejo”, exclamou.

Flávia tinha visitado a Real Companhia Velha há cerca de 20 anos, por isso não levou muito tempo a desfazer-se o equívoco. Seria Pedro Silva Reis, sim, mas o filho, que tem o mesmo nome do pai. Foi já no palco do talk show que, perante o público que assistia à conversa, provando dois vinhos do Douro, Flávia e Pedro se encontraram e a chef contou a sua história. “Você era pequenininho na altura”, riu-se.

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Pedro Silva Reis Ana Branco

Este foi apenas um dos muitos encontros e reencontros que aconteceram durante os três dias do Vinhos de Portugal no Rio, de 9 a 11 de Junho – o evento, organizado pelos jornais PÚBLICO, O Globo e Valor Económico em parceria com a ViniPortugal e curadoria da Out of Paper, seguiu, entretanto, para São Paulo, onde se realiza de 15 a 17.

São mais de 80 produtores (81 no Rio, 83 em São Paulo) num Salão de Degustação onde, em sessões que duram duas horas cada, o público pode provar vinhos das várias regiões de Portugal, além de muitas provas especiais dirigidas por críticos portugueses e brasileiros (a sommelière do restaurante Oro, Cecília Aldaz, esteve no Rio ao lado do master of wine Dirceu Vianna Junior, do crítico brasileiro Jorge Lucki e dos críticos do PÚBLICO, Manuel Carvalho e Alexandra Prado Coelho; em São Paulo, juntou-se outro crítico português, Luís Lopes, da revista Grandes Escolhas).

O tema da edição que comemora os dez anos daquele que é o maior evento de vinhos portugueses no Brasil foi "Grandes Encontros". E eles foram acontecendo, nas provas, nos talk shows, no Salão de Degustação ou na área exterior onde os visitantes aproveitaram o calor que tem prolongado o Verão do Rio já fora da sua época.

Um encontro memorável foi o que juntou o público brasileiro com o presidente da Sogrape, Fernando Guedes, numa prova/conversa da série Grandes Encontros, apresentada por Dirceu Vianna Junior, sob o tema “Histórias Encantadoras, do Mateus Rosé ao Barca Velha”.

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Fernando Guedes da Sogrape Ana Branco

“Foi espectacular estar aqui, com um público fantástico, com o interesse e o conhecimento que tem dos vinhos portugueses”, disse Fernando Guedes à Fugas no final da prova. “Para mim foi único podermos contar a história da Sogrape do Mateus até ao Barca Velha, que são duas marcas muito diferentes, para momentos de consumo diferentes, mas que são ambas icónicas.”

“Foi o sucesso do Mateus que nos proporcionou tudo o resto, e continua a dar-nos muitas alegrias”, explica. “O meu avô [Fernando Van Zeller Guedes] quis fazer uma marca de Portugal, mas para conquistar o mundo, o que era uma perfeita loucura nos anos de 1940. O que é facto é que conseguiu e o primeiro mercado internacional foi precisamente o Brasil. Era na altura o único mercado grande da marca.”

Mas a legislação brasileira que penalizava as importações ditou o fim prematuro desta relação, obrigando o avô de Fernando a ter de se reinventar novamente, partindo, agora sim, à conquista do resto do mundo. “Só muito mais tarde, talvez há dez anos, começámos a reintroduzir a marca no Brasil, que hoje em dia é um mercado importante para o Mateus, e temos projectos grandes para o seu crescimento aqui. É um produto espectacular para o clima brasileiro.”

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Luís Pato Ana Branco

Grandes surpresas

A série Grandes Encontros trouxe ainda ao palco Luís Pato e os Alves de Sousa para conversar também com o master of wine, e Anselmo Mendes, que contou as suas muitas histórias com a casta Alvarinho a Jorge Lucki, anfitrião de uma outra conversa muito especial, com Celso Pereira, enólogo do Quanta Terra e do espumante Vértice, que falou da “reinvenção do Douro”.

“Foi muito bom”, diz Celso Pereira, “porque o Jorge Lucki conhece bem o meu trabalho e entende que o planalto de Alijó é distinto, diferenciador, que fomos nós, Vértice, que começámos o processo de estudo e de aprendizagem sobre o potencial daquele local para produzir vinhos de base para espumante, e agora toda a gente vai lá fazer brancos. Fomos nós que abrimos essa porta. Lucki percebe que o terroir de Alijó, a 600 metros de altitude, é completamente distinto do terroir do Pinhão ou do Vale do Tua, onde fazemos os tintos. E isso faz com que tenhamos o melhor de dois mundos.”

Hoje em dia, “os vinhos já não são feitos na extracção, são feitos na delicadeza” e os brasileiros estão cada vez mais em sintonia com este espírito. “Os cariocas estão com um conhecimento de vinhos fantástico”, constata Celso Pereira, que há dez anos não vinha ao Brasil. “Certamente que são estes encontros que contribuem para isso. E a minha distribuidora, que só me comprava os vinhos básicos, começou a comprar-me os topos de gama todos, porque há uma demanda maior do consumidor.”

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Vinhos de Portugal no Rio Ana Branco

Melhorar o posicionamento do vinho português no Brasil é um dos objectivos da ViniPortugal e deste evento. Daí que a cada ano a programação inclua provas que complexificam alguns aspectos, mergulhando mais fundo numa região ou numa casta. Cecília Aldaz, por exemplo, explicou as diferentes expressões da Touriga Nacional, numa prova intitulada “Uma casta portuguesa, com certeza”, que foi do Covela rosé 2021 ao Piloto Collection Touriga Nacional 2020.

Mas quis também, noutra prova, revelar “grandes surpresas”, com vinhos especiais como o Parcela Única de Anselmo Mendes, o Abandonado, de Alves de Sousa, o Conde Vimioso Tinto 2021, o Vertente 2019, o Falcoaria Colheita Tardia Branco 2016 e o Vinho de Talha José Piteira Tinto de 2019.

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Dirceu Vianna Junior, Master of wine Ana Branco

Dirceu Vianna Junior colocou a lupa sobre a região do Tejo, falou do renascimento de castas “que no passado foram mal-amadas”, como a Fernão Pires ou o Castelão, e explicou a influência que o rio tem nos vinhos que ali se fazem. “Quando de fala de Nappa Valley, fala-se muito da influência do nevoeiro. No Tejo fala-se, mas ainda pouco”, disse o master of wine, explicando que é em grande parte a esse nevoeiro matinal que se deve o vigor e a frescura destes vinhos.

Um verde futuro

Manuel Carvalho lançou um desafio ao público que participou numa das suas provas: verificar se o Vinho Verde tem ou não capacidade de envelhecimento. Foi um exercício diferente, para uma região que quer aproveitar o palco dado pelo Vinhos de Portugal para mostrar que é muito mais complexa e diversificada do que muitas vezes se imagina.

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Anselmo Mendes, o sr. Alvarinho Ana Branco

Foram provados o Covela Avesso Branco 2014, um Muros de Melgaço de 2009, um Aveleda Alvarinho de 2012, um Ameal Loureiro 2011, um Adega Ponte de Lima 2013 e um Nostalgia Alvarinho 10 Barricas, também de 2013. “Se recuássemos vinte anos, este tema ia dar risota. Habituámo-nos toda a vida a dizer que o vinho é para beber no ano, e nunca me conformei com isso”, comentou Anselmo Mendes, o “senhor Alvarinho”, que foi um dos participantes.

Outra prova que mostrou novos caminhos a explorar no conhecimento que se pretende partilhar sobre vinhos portugueses intitulou-se “O futuro dos vinhos portugueses”, foi dirigida por Cecília Aldaz e Manuel Carvalho, e teve como foco a crise climática e os riscos e desafios que ela traz aos produtores de vinho. Uma das constatações é que a imensa diversidade de castas autóctones que Portugal tem é um trunfo de enorme valor. São castas que ao longo de muito tempo se foram adaptando às condições de clima e aos solos do país e que, por isso, se mostram mais resilientes.

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Vinhos de Portugal no Rio Ana Branco

Determinante é também o facto de existirem ainda em Portugal bastantes vinhas velhas, que têm estado a ser cada vez mais valorizadas e acarinhadas. As suas raízes profundas permitem-lhes ir buscar água onde vinhas mais jovens (e muitas vezes mais habituadas a receberem rega, o que as torna preguiçosas) não chegam.

No final, as sete mil pessoas que ao longo dos três dias passaram pelo Jockey Club para o Vinhos de Portugal estavam rendidas às ideias de que os vinhos portugueses têm futuro, de que o Vinho Verde envelhece bem, de que o Tejo é uma região a descobrir, de que Setúbal tem não só excelentes vinhos como uma oferta gastronómica à altura, de que o enoturismo no Alentejo tem propostas irrecusáveis, de que o Dão e a gastronomia brasileira fazem um casamento perfeito, tal como os vinhos de Lisboa, e de que o Centro de Portugal tem mil e uma coisas para descobrir (o evento oferecia uma viagem com óculos de realidade virtual para se começar a explorar a região).

O Vinhos de Portugal tem a participação do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, o apoio das Comissões Vitivinícolas do Alentejo, Lisboa, Dão, Tejo, Vinhos Verdes e Península de Setúbal, da Agência Regional de Promoção Turística Centro de Portugal e da TAP Air Portugal.

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