Berlusconi, sucesso em larga e pequena escala no futebol

Enquanto presidente do AC Milan, conquistou a Europa por cinco vezes. No modesto Monza, conseguiu, em tempo-recorde, chegar à Série A e terminar a meio da tabela.

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Berlusconi e o avançado Inzaghi após a final da Liga dos Campeões de 2007 Reuters/REUTERS FILE PHOTO
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“Silvio Berlusconi, para sempre connosco.” Foi esta a frase escolhida pelo departamento de comunicação do AC Milan para assinalar a morte do antigo presidente do clube, aos 86 anos. Um empresário que, entre peripécias e polémicas, resgatou os “rossoneri” da agonia, no final do século passado, para os elevar ao topo da Europa e que ostenta o estatuto de dirigente mais titulado do futebol italiano.

A história começou a ser escrita a 20 de Fevereiro de 1986, quando Berlusconi, um magnata da comunicação, assumiu um AC Milan perto da bancarrota, depois de uma gestão desastrosa do antecessor, Giussy Farina. Adepto do clube desde criança, por influência do pai, Luigi, Silvio Berlusconi estava determinado a mudar de paradigma e fê-lo com pompa e circunstância.

Percebeu-se o que estava em causa logo no arranque da época 1986-87, quando cometeu a excentricidade de apresentar o plantel… de helicóptero. No relvado da Arena Civica (hoje estádio do Brera Calcio, terceira equipa de Milão), pousaram vários helicópteros dos quais saíram os jogadores, para espanto dos cerca de 10 mil adeptos que estavam nas bancadas e de todo o espectro do futebol italiano.

A mensagem era clara: “Estamos aqui para causar impacto.” E causaram. Descontada a ousadia da operação de marketing, Berlusconi mostrava ao país (e ao mundo) que, com ele, o campeonato seria outro. Ou, como diria, anos mais tarde, Franco Baresi, um dos esteios do AC Milan campeão e um dos melhores centrais da história do “calcio”: “Percebemos, ali, que a maré tinha mudado.”

O sucesso não tardou e assentou em dois alicerces: Adriano Galliani, director desportivo que sempre acompanhou Berlusconi e que dominava o negócio do futebol, e Arrigo Sacchi, um treinador desconhecido quando o novo presidente o contratou, que levantou algumas ondas de resistência, mas que acabou por provar ter sido uma aposta certeira. Juntos conquistaram nada menos do que duas Taças dos Campeões Europeus (1988-89 e 1989-90, numa final diante do Benfica), uma Liga italiana, duas Supertaças Europeias, duas Taças Intercontinentais e uma Supertaça italiana.

Foram tempos de glória, que se estenderam sob a batuta de Fabio Capello, o treinador que se seguiu. Capello já tinha passado pelo banco do AC Milan no final de 1986-87 e regressava a casa para completar a missão, em grande estilo. Ganhou quatro “scudetti” em cinco anos e chegou por três vezes à final da Taça dos Campeões Europeus, que conquistou novamente em 1994, em Atenas, com um expressivo 4-0 imposto ao Barcelona.

Ancelotti, sucesso em campo e no banco

Num reinado que durou décadas, Berlusconi ainda foi a tempo de juntar ao currículo as Ligas dos Campeões de 2003 e 2007, num contexto de continuidade que deixou marca. Ao leme da equipa estava já Carlo Ancelotti, ele, que havia sido nuclear, em campo, no AC Milan de Arrigo Sacchi, ditava agora os caminhos do êxito, batendo a Juventus (na única final 100% italiana até à data) e o Liverpool nas finais.

Em 2017, quando finalmente decidiu fechar o ciclo e vender o AC Milan ao empresário chinês Yonghong Li, Berlusconi tinha um currículo inigualável em Itália, com 29 troféus, entre os quais se destacam as cinco Taças dos Campeões Europeus/Ligas dos Campeões e os oitos campeonatos ganhos em Itália. Pela sua carteira de “activos” passaram também grandes nomes do futebol mundial, desde Van Basten, Gullit ou Rijkaard a Ronaldinho, passando por Ibrahimovic, Rui Costa, Baggio, Shevchenko, Papin ou Boban. Uma verdadeira constelação de talento.

Para traduzir o impacto que o seu AC Milan causou na Europa, usou, em 1995, uma frase que fazia jus à forma desconcertante (e controversa) como se exprimia. “Esperamos ter montado uma equipa capaz de dar espectáculo, porque temos responsabilidades perante os nossos adeptos e o resto do mundo. Somos a coisa mais famosa de Itália, depois da máfia e da pizza.”

Após o adeus a San Siro, a verdade é que o dirigente não conseguiu ficar muito tempo afastado do futebol. Menos de um ano mais tarde, em Setembro de 2018, comprou o modesto Monza, então a competir na Série C, por três milhões de euros. E sempre na companhia do inseparável Adriano Galliani, guindou o clube ao primeiro escalão do futebol italiano, tendo terminado a época 2022-23 num interessante 11.º lugar. O impacto que teve nesta pequena comuna da Lombardia retira-se das palavras de homenagem agora publicadas pelo clube: “Um vazio que nunca poderá ser preenchido,”

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