“Com a morte de Silvio Berlusconi fecha-se uma época”
Aliados e inimigos reagiram à morte de Silvio Berlusconi. Viktor Orbán, Vladimir Putin, Roberta Metsola e Tony Blair foram algumas das personalidades que deixaram uma mensagem.
Viktor Orbán lamentou a morte de um “grande lutador”. Vladimir Putin disse que “Silvio era uma pessoa querida, um verdadeiro amigo”. Ursula von der Leyen assumiu a sua “tristeza” com a partida do político que “liderou a Itália num período de transição política”. Tony Blair descreve-o como “uma figura de grande dimensão”. Matteo Salvini chamou-lhe “um grande homem e um grande italiano”. Estas são algumas das reacções à morte de Silvio Berlusconi.
O ministro da Defesa da Itália, Guido Crosetto, foi um dos primeiros a reagir à morte do antigo governante, escrevendo no Twitter que “deixa um vazio enorme porque era um bom homem”. “Uma era acabou, uma era está a encerrar-se. Eu amava-o muito. Adeus, Silvio”, escreveu Crosetto, que pertenceu ao Força Itália durante mais de uma década.
O vice-primeiro-ministro, Matteo Salvini, lamentou a morte de Berlusconi, descrevendo-o como “um grande homem e um grande italiano”. “Estou abalado e raramente choro, hoje é um desses dias”, acrescentou. “Combatente” e “um dos homens mais influentes da história de Itália”, foi assim que a primeira-ministra, Giorgia Meloni, o lembrou: “Com ele, a Itália aprendeu que nunca se devia impor limites. Aprendeu que nunca se devia dar por vencida”, afirmou ainda Meloni, num vídeo. “Com ele lutámos, ganhámos, perdemos muitas batalhas. E também por ele vamos cumprir os objectivos a que nos propusemos juntos”, acrescentou.
Mensagens de Orbán a Putin
Tanto aliados como adversários políticos referem-se ao homem como um “protagonista” incontornável. “Com a morte de Silvio Berlusconi, fecha-se uma época. Tudo nos dividiu e nos divide em relação à sua visão política, mas mantém-se o respeito que humanamente se deve àquele que foi um protagonista na história do nosso país”, lê-se na nota divulgada pela líder do principal partido da oposição, o Partido Democrático (centro-esquerda), Elly Schlein.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, também lamentou a morte de um “grande lutador”. O Presidente russo Vladimir Putin disse que “Silvio era uma pessoa querida, um verdadeiro amigo”. “Irei sempre admirar com sinceridade a sua sabedoria, a sua capacidade para estabelecer equilíbrios e decisões com o futuro em vista, mesmo nas situações mais difíceis”, afirmou.
Tony Blair, o antigo primeiro-ministro britânico, também deixou a sua mensagem: “Silvio Berlusconi era uma figura de grande dimensão com quem trabalhei de perto durante muitos anos quando era primeiro-ministro. Sei que foi controverso durante muitos anos, mas, para mim, era um líder que considerava capaz, astuto e, ainda mais importante, fiel à sua palavra.”
Já Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu, destacou o seu papel como “pai, empresário, primeiro-ministro e senador”. “Ele deixou a sua marca e não o iremos esquecer”, assinalou.
O AC Milan, clube de futebol histórico que foi dirigido por Berlusconi durante vários anos e que ajudou a cimentar a sua imagem pública, divulgou uma nota de pesar em que agradeceu o papel do político no clube. “Sempre connosco”, termina a mensagem publicada nas redes sociais. Também o AC Monza, clube presidido por Berlusconi desde Setembro de 2018, lamentou, no Twitter, a morte do antigo primeiro-ministro. “Um vazio que nunca poderá ser preenchido, para sempre connosco. Obrigado por tudo, Presidente.”
Numa mensagem enviada à filha mais velha de Berlusconi, Marina, o Papa Francisco assegurou a sua “profunda participação no luto pela perda de um protagonista da vida política italiana, que assumiu responsabilidades públicas com um temperamento enérgico”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros italiano e seu amigo de longa data, Antonio Tajani, partilhou no Twitter uma fotografia dos dois no início da carreira. “Um sofrimento imenso. Simplesmente, obrigado, Presidente, obrigado, Silvio”, escreveu.
Carlo Nordio, ministro da Justiça de Itália, referiu estar perante “o fim de uma era na história italiana”, em que Berlusconi era “um protagonista incontestado na vida do país”, disse num comunicado, citado pelo jornal norte-americano The New York Times.
O ex-primeiro-ministro de Itália Massimo D’Alema disse numa nota divulgada pelos meios de comunicação italianos que Berlusconi teve uma “contribuição indisputável” ao criar um novo bloco conservador em Itália “ligado ao sistema europeu democrático”. Ambos foram oposição “a um nível político” num “difícil conflito”.
Uma figura polémica
O antigo primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi morreu esta segunda-feira, aos 86 anos, avançaram os jornais italianos Corriere della Serra e o La Repubblica. Estava internado no Hospital San Raffaele, em Milão, desde sexta-feira. O antigo governante sofria de leucemia e recentemente desenvolveu uma infecção pulmonar.
A imprensa italiana noticiou que Berlusconi morreu depois de os cinco filhos e o irmão Paolo terem sido chamados ao hospital, onde se juntaram à sua companheira, Marta Fascina, que esteve sempre ao lado do antigo primeiro-ministro.
Berlusconi também tinha estado internado no início de Abril nos cuidados intensivos do mesmo hospital. Deu entrada na unidade de cardiologia com “falta de ar”. Durante a hospitalização, manteve-se politicamente activo, com dois vídeos em que parecia frágil, mas garantia estar pronto a regressar ao trabalho.
Nos últimos anos, o bilionário e magnata dos media tinha enfrentado vários problemas de saúde. Em 2016, foi operado ao coração e em 2020 passou várias temporadas no hospital por complicações relacionadas com a covid-19. “A pior experiência da minha vida”, descreveu na altura. Os problemas cardíacos já vinham da década anterior e, ainda nos anos 1990, foi operado a um tumor, entre outras complicações de menor gravidade.
Berlusconi foi primeiro-ministro entre 1994 e 95, 2001 e 2006, e 2008 e 2011. Foi sempre uma figura polémica e os seus nove anos como primeiro-ministro italiano foram marcados por acusações de corrupção e escândalos sexuais. O último mandato terminou em 2011 com a sua demissão, com o país à beira de um colapso da economia e um escândalo sexual que ficou conhecido como bunga bunga – foi absolvido em 2013 das acusações de suborno a mulheres para que não revelassem o que se passava nas festas.
Nos últimos anos, Berlusconi já não estava na primeira linha da política italiana – principalmente devido à idade e a problemas de saúde –, embora tenha conseguido voltar ao Senado e o seu partido, Força Itália, faça parte da coligação de direita que actualmente governa a Itália, presidida por Giorgia Meloni.
Entre Julho de 2019 e Outubro de 2022, o multimilionário, empresário e político conservador ainda passou pelo Parlamento Europeu, onde foi o mais velho deputado, como membro do grupo do Partido Popular Europeu (PPE, democratas-cristãos). Em 2022, celebrou o que chamou um “casamento simbólico” com Marta Fascina, deputada do Força Itália desde 2018 e sua companheira desde 2020.
Berlusconi esteve no centro de uma série de investigações e julgamentos, quase todos abertos depois de entrar na política, em 1994. Ao todo, enfrentou 35 processos criminais, mas apenas uma condenação definitiva.
Nascido a 29 de Setembro de 1936, filho de um bancário milanês, Silvio Berlusconi começou a trabalhar como animador em barcos de cruzeiro no Mediterrâneo, cantando e dizendo piadas, enquanto estudava Direito.
Terminada a licenciatura na Universidade de Milão, lançou-se nos negócios: começou então uma incrível ascensão que levantou interrogações quanto à origem da sua fortuna, a maior de Itália durante dez anos. Foi sobretudo no sector da televisão que se manifestou a veia criativa deste grande comunicador, que, a partir da década de 1980, não hesitou em "polvilhar" os seus programas com mulheres nuas para captar audiências.
Este ano, a revista norte-americana Forbes classificou a sua fortuna e da sua família como a 352.ª maior do mundo, com um património líquido de 6,8 mil milhões de dólares (cerca de 6,2 mil milhões de euros).
Com Lusa