Incêndios: Canadá já viu arder área do tamanho da Bélgica. Fumo cobre parte dos EUA
Governo canadiano teme pior época de incêndios de sempre. Distribuição territorial das chamas, do Pacífico ao Atlântico, é considerada “invulgar”.
O Canadá está a enfrentar aquela que as autoridades temem vir a ser a pior temporada de incêndios florestais da sua história. Pelo menos 30 mil quilómetros quadrados arderam desde o início de 2023, uma área equivalente à da Bélgica ou a um terço do tamanho de Portugal. É um valor 12 vezes superior ao habitualmente registado até Junho.
Num momento em que há incêndios activos em todas as províncias e territórios do país, o segundo maior do mundo em área, os modelos meteorológicos indicam que o risco de incêndio vai disparar ao longo do mês de Junho e manter-se muito elevado o resto do Verão. As previsões apontam para temperaturas acima da média e níveis de humidade bastante abaixo dos habitualmente registados.
“A temporada de incêndios, que já é devastadora, pode piorar muito”, alertou o ministro canadiano dos Recursos Naturais, Jonathan Wilkinson, numa conferência de imprensa esta segunda-feira, apontando o dedo às alterações climáticas. No mesmo dia, o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, descreveu a situação como “difícil e de partir o coração”.
Historicamente, os incêndios florestais no Canadá tendem a atingir sobretudo as províncias do Oeste, como a Colúmbia Britânica, Alberta, Saskatchewan e os Territórios do Noroeste. Este ano, porém, o Quebeque e as províncias marítimas, nomeadamente a Nova Escócia, também têm registado violentos incêndios.
“A distribuição dos incêndios este ano, de costa a costa, é invulgar”, sublinhou Michael Norton, um responsável do Ministério dos Recursos Naturais canadiano, citado pela Reuters.
Para além da extensão geográfica dos incêndios, as autoridades e os investigadores notam que raramente o Canadá assistiu a uma semelhante crise em plena Primavera. “Ao longo dos últimos 20 anos, nunca vimos uma área ardida tão grande, tão cedo na temporada”, disse Yan Boulanger, um investigador do Ministério dos Recursos Naturais.
Pelo menos 120 mil pessoas tiveram de abandonar as suas casas desde o início da época de incêndios no Canadá, que também paralisou a actividade de importantes explorações mineiras. Cerca de 20 mil pessoas permaneciam deslocadas no fim-de-semana.
As forças armadas canadianas têm estado a participar no esforço de combate às chamas, ao lado dos bombeiros. Participam também nas operações bombeiros dos Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul. A província francófona do Quebeque aguarda também a chegada de bombeiros franceses.
Chamas a leste, cinzas nos Estados Unidos
As atenções das autoridades canadianas estão neste momento viradas para a região atlântica, mais habituada a verões frescos e húmidos, mas que regista este ano muitos dias secos e temperaturas frequentemente acima dos 30ºC.
Cerca de 160 incêndios lavravam esta segunda-feira no Quebeque, a maioria fora de controlo, sobretudo a norte de Montreal, metrópole coberta por um espesso manto de fumo, e em Sept-Îles, na costa do Golfo de São Lourenço. A área ardida naquela província supera já, este ano, a de toda a década anterior.
As previsões de chuva para esta semana, no entanto, estão a oferecer algum alento aos bombeiros no Quebeque e na província da Nova Escócia, mais a leste, outro dos locais mais críticos dos últimos dias. Ali, na ponta sul da província, junto à localidade de Shelburne, combate-se desde 27 de Maio o maior incêndio alguma vez registado na Nova Escócia. As chamas estão neste momento controladas, mas continuam a consumir uma área de 250 quilómetros quadrados.
É dos incêndios da Nova Escócia e do Quebeque que surgem as enormes nuvens de fumo que cobrem neste momento parte dos Estados Unidos. Vários estados do Nordeste e do Midwest voltaram a acordar nesta terça-feira sob um céu cinzento e um sol alaranjado.
Nos últimos dias, vigoraram alertas de má qualidade do ar em vários estados da faixa atlântica, desde a fronteira canadiana até à Virgínia, bem como na zona dos Grandes Lagos, incluindo os estados do Wisconsin, Minnesota, Michigan e Ohio. Os alertas são sobretudo dirigidos a pessoas idosas ou com problemas respiratórios, aconselhadas a diminuir o tempo de exposição ao ar livre.