Acusado de exploração sexual, Andrew Tate diz que é “uma força do bem no mundo”
O influencer britânico acusa a BBC de mentiras e alega que as testemunhas da polícia romena são inventadas.
É a primeira vez que o influencer Andrew Tate dá uma entrevista depois de ter sido transferido para prisão domiciliária na Roménia, na sequência de suspeitas de tráfico humano, violação e formação de um grupo criminoso para exploração sexual de mulheres. À BBC, perante provas apresentadas pela jornalista Lucy Williamson, o britânico nega todas as acusações, rotulando-as de “absoluto lixo”. E reitera: “Sou genuinamente uma força para o bem no mundo.”
Além de ser a primeira vez que Tate fala depois de ter sido transferido para prisão domiciliária, em Março, é também um momento inédito em que o influencer é confrontado com as acusações e contraditório ao seu discurso. Isto porque Andrew Tate há muito se diz contra os meios de comunicação social tradicionais. Aliás, para provar a desconfiança, exigiu que a sua equipa gravasse também a entrevista.
Na conversa de 40 minutos — que não está disponível por completo no site da BBC — o influencer britânico, conhecido pelos comentários misóginos e por defender que as mulheres são para “ter filhos, estar caladas e fazer café”, começou por desacreditar uma das testemunhas principais do caso em tribunal. Tate e o irmão Tristan foram detidos a 29 de Dezembro na Roménia e Sophie (nome fictício) é uma das mulheres que os acusa de exploração sexual.
Tate diz que a jovem é “inventada”: “Estou a fazer-vos um favor, a dar-vos relevância e a falar convosco. E estou a dizer, esta Sophie não tem rosto. Ninguém sabe quem ela é.” A mulher conta ter sido levada para a Roménia pelo influencer, que acreditava estar apaixonado por si. Depois, foi pressionada a fazer trabalho sexual através da Internet e até a tatuar o nome do suposto namorado no seu corpo.
Tate é seguido nas redes sociais por milhões de pessoas e uma das preocupações é a idade dos seus seguidores, muitos deles jovens. Algumas organizações, como a Associação de Crise de Violações da Inglaterra e País de Gales, acusam-no de incentivar o assédio, quando o país tem verificado um aumento do número de incidentes com jovens e até professoras. “Nunca encorajei um estudante a atacar um professor, homem ou mulher”, assegura.
Promete que só quer o bem do mundo: “Estou a apregoar o trabalho duro, a disciplina. Sou um atleta, defendo as políticas antidroga, a religião, a abstinência de álcool e a ausência de armas. Sou contra todos os problemas da sociedade moderna.” As suas afirmações, acrescenta, têm vindo a ser tiradas do contexto, mesmo quando disse que os órgãos sexuais de uma mulher pertencem ao seu parceiro. Tais palavras, alega, “são sarcasmo” — “não sei se compreende o que é conteúdo satírico”, diz à jornalista da BBC.
“Sob as instruções de Deus”
Até ao pouco tempo, na introdução do seu site esteve um vídeo em que prometia ser “a pessoa mais competente do planeta para ensinar sobre as interacções entre homem e mulher”. A função de um homem, dizia ainda, é “conhecer uma rapariga, levá-la em alguns encontros, dormir com ela, fazer com que ela se apaixone ao ponto de fazer tudo o que o homem diz, e depois conseguir que se filme para ficarem ricos juntos”.
Tais declarações já não estão online, apesar de a BBC ter mostrado provas ao influencer, que atirou: “Nunca disse isso.” Andrew Tate chegou a vender um curso online de coaching para ensinar tais truques aos seguidores. Ainda assim, defende-se: “Acredito que estou a agir sob as instruções de Deus para fazer coisas boas, quero fazer do mundo um lugar melhor.”
Logo depois do fim da entrevista, para a qual diz que a BBC “implorou” nos últimos seis meses para a obter, Andrew Tate publicou a sua versão do vídeo — “a que nunca irão mostrar”. O influencer acusa a estação britânica de lhe ter mentido e de prometer que só faria “questões seguras”, aprovadas pela sua equipa. O canal desmente ter agido assim, tendo em conta as directrizes editoriais e a ética do jornalismo.
Apesar de já ter sido banido das redes sociais por diversas vezes, a página do Twitter de Andrew Tate continua activa. Nascido no Reino Unido, o influencer escreveu esta manhã que “é um preso político”, “abandonado pelo país de origem”.
Tate e o irmão foram detidos a 29 de Dezembro de 2022, há quase seis meses, e encontram-se no último mês de investigação da polícia romena. Espera-se que, durante as próximas semanas, surja uma acusação formal contra os dois. As autoridades têm apresentado provas de que os irmãos usaram o logro e a intimidação para colocar seis mulheres sob o seu controlo e “transformá-las em escravas”.